Amor de carnaval: histórias que começaram no ritmo da folia
Reunimos histórias de alguns romances que tiveram um empurrãozinho da festa carnavalesca para acontecer. Confira!
Por Amanda Stabile
21|02|2024
Alterado em 21|02|2024
O carnaval brasileiro é sinônimo de alegria, purpurina e beijo na boca. Não é à toa que até as marchinhas mais antigas cantam sobre amores que se reveem e se repetem a cada ano de folia.
Foi bom te ver outra vez/ Tá fazendo um ano/ Foi no Carnaval que passou/ Eu sou aquele Pierrô/ Que te abraçou e te beijou, meu amor
Máscara Negra – Zé Keti e Pereira Matos
Mas será que, em meio aos bloquinhos e às fantasias, é possível que o carnaval abra alas para que verdadeiros romances se concretizem? Reunimos algumas histórias de amor que se iniciaram com as bençãos da festa carnavalesca. Confira!
Alec Borges
“Nossa história começou em 2020, no bloco “Sai Hétero”, em São Paulo (SP), que eu acho que já nem existe mais. Não estávamos fantasiados, apenas com roupas comuns. Um amigo que eu convidei para o bloco levou o Giovani, que eu chamo de Gio, com quem ele estagiava.
A gente ficou no bloco e casou [ficamos de casal] no carnaval. Nos seguimos nas redes sociais e trocamos número de celular. Eu lembro que eu pensava “não acredito que eu fiquei só com uma pessoa no carnaval e eu estou me emocionando” [risos]. Nós começamos a conversar sobre sair, mas logo a pandemia começou e o date não aconteceu.
Com o tempo, fomos parando de nos falar porque não tinha clima. Estávamos em momentos diferentes da vida: eu fazia cursinho e ele estava em um período muito importante da faculdade. Eventualmente, fomos nos afastando.
Ele não entrava muito nas redes sociais e nem postava nada. Era uma coisa muito rara curtir algum story ou tuíte meu nesses anos.
Então, em junho de 2023, depois de terminar um relacionamento que aconteceu nesse meio tempo, eu vi que o Gio tinha postado, na mesma semana, umas duas fotos nos stories. Como eu estava solteiro, naquela época ‘nem aí para nada’, ‘quero viver’, eu interagi com as publicações e voltei a conversar com ele pelo Instagram.
Juro, a gente não deve ter trocado nem quatro mensagens e eu já falei ‘e aí, o nosso date vai sair?’ [risos], assim na lata. No começo de julho finalmente saímos, depois de três anos e meio. Mesmo a gente já tendo ficado no carnaval, no date nós só nos beijamos no final. Desde então, continuamos nos vendo.
Eu não sou uma pessoa emocionada, não queria que nada acontecesse muito rápido porque eu tinha acabado de terminar um namoro. Ele estava na mesma vibe. Então fomos saindo, sem muito compromisso, e com o tempo construímos naturalmente uma relação. Percebemos o quanto realmente gostávamos um do outro e o relacionamento foi ficando mais sério.
É meu amor de carnaval e temos até uma foto daquele dia em que estamos de mãozinhas dadas.
Eu sempre gostei do carnaval, mas depois disso a festa passou a ter um outro significado para mim. Sinceramente, eu não gosto de pegar pessoas aleatórias e ele quebrou essa minha regra, foi a pessoa mais desconhecida com quem eu fiquei.
Nós somos duas pessoas transmasculinas e eu acho muito legal que tivemos essa super química antes da transição. Depois, muitas coisas das nossas vidas mudaram, mas a conexão permaneceu. Eu sinto que nos gostamos pela essência. Nos conectamos sendo pessoas completamente diferentes e nos reconectamos de volta.”
Mayara Lopes
“A história é super recente, foi semana passada. Está se desenrolando ainda!
Sou de São Paulo (SP) e fui passar o pré-carnaval de 2024 em Salvador (BA) com uns amigos. Certa noite fomos pra um samba na rua, no bairro de Santo Antônio Além do Carmo. Enquanto eu e minha amiga conversávamos sobre onde iríamos comer depois, o Hugo, o baiano com o sotaque mais gostoso que já ouvi, veio falar com a gente pra indicar um lugar que tinha ali perto.
Fui agradecer e começamos a conversar e descobrir vários interesses em comum, como fazer trilhas e o amor pela Chapada Diamantina (BA), terra onde nasceram nossas famílias, uma linda coincidência.
Não sei dizer em que momento exato da conversa isso aconteceu, mas quando vi já estávamos nos beijando e descendo as ladeiras de Salvador juntos, de mãos dadas. Fomos pra casa dele, que tinha uma janela enorme de frente para a Baía de Todos os Santos, uma vista de tirar o fôlego. Em certo momento ele pegou o violão e cantou “Coração selvagem”, de Belchior, pra mim e eu só conseguia pensar no quanto aquele encontro estava sendo perfeito.
Vista para a Baía de Todos os Santos
©Mayara Lopes
Passamos a noite acordados, vimos as estrelas e o sol nascer abraçados, desejando que o tempo passasse mais devagar. Porque é claro que aquela era minha última noite na cidade e meu voo decolava logo após o almoço, o que tornou tudo ainda mais intenso e bonito. No dia seguinte, quando tirei meu celular do modo avião após pousar em SP, vi que tinha um áudio dele. Deu um friozinho na barriga ao apertar o play. Era ele cantando “Ai que saudade d’ocê” e depois dizendo com aquele sotaque irresistível “pô, a paulistana me deixou aqui, como é que pode?” e senti que eu estava vivendo um roteiro de filme na vida real, bonito demais pra ser verdade. Mas foi.
Trocamos mensagens, pesquisamos passagens pra tentar nos reencontrar no carnaval, mas a distância e os valores das passagens não colaboraram. Estamos planejando nos ver no mês que vem. Não sei se vai dar certo e se o destino vai nos unir novamente, mas vou guardar pra sempre a lembrança daquele amor de uma noite.”
Tatiana, a Pretona BBQ
Pretona BBQ com sua filha mais velha
©Mariana Oliveira
“Eu tinha 17 anos quando conheci o Antônio, pai da minha filha mais velha. Nos conectamos em um bloquinho de Carnaval em 2007, na Faria Lima, em São Paulo (SP), e foi amor à primeira vista. Começamos a namorar e no início foi tudo lindo. Depois de alguns anos, casamos. E, no carnaval de 2010, eu engravidei.
Mas no meio disso tudo eu tive uma sogra racista, que não aceitava nossa relação e tivemos que ser firmes para continuar nosso relacionamento. Minha filha nasceu em 2011 e a situação piorou. Ela falava coisas do tipo “eu vou ter uma neta crioula”. Até pessoas para dar em cima ela pagou.
O fim do nosso namoro aconteceu. Ele entrou nos mundos das drogas e eu em depressão quando minha bebê tinha apenas alguns meses. Houve traição e tudo mais. Apesar de tudo, guardo momentos lindos do meu amor de carnaval. Foi o único amor da minha vida. Nunca amei ninguém como ele.”
Ravenna Rodrigues
Ravenna e David no Carnaval de 2010
©Arquivo pessoal
“Eu e David nos conhecemos em 14 de fevereiro de 2010, no carnaval de Barras, cidade no interior do Piauí. Era um domingo, meu aniversário e a comemoração de dez anos do Bloco Dinamite. Eu estava fantasiada com um chapéu de bolo com velinhas e usando um apito. Ele estava só com um colar havaiano.
Enquanto me divertia com uma amiga, não pude resistir à tentação de apitar bem alto e não percebi que o barulho foi direto no ouvido dele. Quando ele se virou, nos olhamos e nos beijamos. O beijo foi muito bom e a gente queria continuar, mas minha amiga me puxou para continuar a folia.
No final do bloco, nos reencontramos. Conversamos, ele pediu meu Orkut (uma relíquia daquela época) e, embora eu não esperasse que realmente me adicionasse, uma semana depois, lá estava sua solicitação de amizade.
Começamos a nos falar pelo MSN, porque morávamos longe um do outro: eu em Teresina (PI) e ele em Parnaíba (PI), há mais de 300 quilômetros de distância.
Em julho, mesmo sem combinar, nos encontramos novamente em um carnaval fora de época, no meio do bloco. Ficamos e ele foi embora no dia seguinte. Em agosto eu mandei um SMS para desejar um “feliz aniversário” para ele, mas coloquei o DDD errado e a mensagem nunca foi entregue. Então ele veio para Teresina dizendo que queria ouvir a mensagem pessoalmente.
Em novembro, ele me pediu em namoro, mas eu não aceitei. Nunca tinha namorado antes, sempre gostei de ser solteira e logo no meu primeiro carnaval sozinha com as amigas isso acontece? [risos] Mas não teve jeito, eu já estava apaixonada e, em 3 de dezembro de 2010, começamos a namorar.
O relacionamento continuou à distância por quase sete anos, até que noivamos e casamos em 2017. Em 2020, eu engravidei e nasceu Marina, hoje com três anos.”
Priscilla Vergueiro
A banda Estrambelhados cantou no casamento de Priscilla e Fernando, que aconteceu em 2018
©Arquivo pessoal
O carnaval de São Luís do Paraitinga, no interior de São Paulo, é bem democrático. É gratuito, acontece na rua e o principal, na verdade, são as roupas de chita. Eu conheci o Fernando em 2012, porque todo ano ele organiza uma casa que serve de estadia para visitantes no Carnaval.
Uma vizinha minha ficou com um rapaz que tinha se hospedado nesta casa e ela me convidou para passar o carnaval lá. Meu primeiro contato com o Fernando foi pelo Facebook, eu entrei em contato para pagar a reserva. Em 2013 e 2014, eu repeti a estadia. E todos os anos levava algumas amigas.
Eu falava para elas: ‘olha, não fica com ninguém da casa, porque depois pode rolar climão e a gente não vai mais poder voltar’. Mas no final, em 2014, fui que fiquei com o Fernando, logo o cara que organizava a casa. E eu falei para ele: ‘não vamos deixar ninguém na casa ficar sabendo porque vão ficar enchendo o nosso saco”. Mas as minhas amigas, que estavam no mesmo quarto que eu, já sabiam.
Desse carnaval em diante, a gente continuou se falando e um mês depois começamos a namorar. Ele sempre morou em Campinas (SP) e eu em Guaratinguetá, onde coincidentemente nós dois nascemos. Ele ia para lá todo final de semana para me ver.
Continuamos voltando para o carnaval de São Luiz do Paraitinga e Fernando continuou organizando a casa. Até que, em 2017, eu subi no palco da nossa banda preferida, Estrambelhados, e o pedi em casamento em pleno carnaval. Nos casamos em setembro de 2018 na cidade em que tudo aconteceu.
A nossa filha nasceu na segunda-feira de carnaval do ano passado. E hoje estamos em São Luís para passar o primeiro carnaval com ela fora da barriga. Ela também foi batizada aqui e se chama Beatriz por causa de uma música dessa nossa banda favorita.
São muitas histórias com essa cidade. Depois que a gente começou a namorar, bolamos algumas fantasias em dupla, sempre invertido, porque gostávamos da palhaçada. Já saímos de noivo e noiva, Batman e Robin e umas coisas assim.”
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