A favela é uma mulher preta

Esta é a conclusão a que chegamos ao assistir a peça Favela, uma montagem de Lucélia Sérgio que teve estreia ontem, na abertura da 4ª edição do “Estéticas das Periferias”, evento promovido pela Ação Educativa em parceria com o Governo do Estado, Prefeitura de São Paulo e outras instituições. Com inspiração em trechos da obra […]

Por Lívia Lima

27|08|2014

Alterado em 27|08|2014

Esta é a conclusão a que chegamos ao assistir a peça Favela, uma montagem de Lucélia Sérgio que teve estreia ontem, na abertura da 4ª edição do “Estéticas das Periferias”, evento promovido pela Ação Educativa em parceria com o Governo do Estado, Prefeitura de São Paulo e outras instituições.
Com inspiração em trechos da obra da escritora Carolina Maria de Jesus, homenageada nesta edição do evento junto com Abdias do Nascimento, a peça conta a história do povo preto que foi forçado a construir suas moradias em locais desprivilegiados após a escravidão, locais onde se perpetua a pobreza e o abandono, locais onde se constituíram as favelas do Brasil.

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crédito: Capulanas Cia de Arte Negra


Em um emaranhado de histórias, cenas, poesias e músicas, a peça conta como se constitui e como vivem os moradores das favelas, com foco especial para as mulheres, maioria nestes locais e também nos grupos que integram a apresentação teatral: Coletivo Os Crespos, Capulanas Cia de Arte Negra, Clarianas – Grupo Clariô de Teatro, Coletivo Negro, além da banda Aláfia.
Dilemas sobre sobrevivência, alimentação para os filhos, aborto, violência doméstica, prostituição, são alguns dos temas abordados que levam a momentos de choro e riso, de forma complexa e ambígua, como a própria realidade da vida das mulheres das periferias.
A peça é uma junção de vários textos de cada um dos grupos de teatro, de forma que não são contínuos, não complementares, como a própria estrutura das favelas, autoconstruída  irregularmente, no improviso, entre a lama e o caos, como diria Chico Science.
A conclusão a que se chega é que, em meio a tantos problemas, em um ambiente à primeira vista insólito e hostil, a mulher preta, a favela, sobrevive, resiste, não se deixa derrubar, não se permite virar cinzas. A peça nos lembra de que a favela é feita de lixo, entulho, madeira, enchente, mas antes de tudo, de gente, de mulheres, como Carolina de Jesus, como eu e tantas outras.