6ª Feira Literária da Zona Sul discute o bem viver em tempos de pandemia

Com o tema "O que te alimenta?”, a Feira Literária da Zona Sul chega à sexta edição com uma programação totalmente adaptada às plataformas digitais, com destaque aos saberes dos povos indígenas, com participação de Jerá Guarani e Ailton Krenak.

Por Redação

02|09|2020

Alterado em 02|09|2020

Entre 04 e 27 de setembro, a Feira Literária da Zona Sul (FELIZS), festival que destaca a produção literária das periferias, ocupa as redes sociais com o objetivo de conectar o público com escritores, poetas, editoras independentes e artistas que estão usando sua arte para provocar reflexões sobre o impacto da pandemia nos moradores e na cena cultural das periferias.

Idealizada pela psicóloga e produtora cultural Diane Padial e organizada pela equipe de artistas e produtores que compõem o coletivo Sarau do Binho. A FELIZS faz parte do calendário cultural de São Paulo e atua como um fomento ao mercado editorial de autores e editoras independentes. Além disso, gera oportunidades de trabalho e renda para grupos da economia criativa, como para coletivos literários, artistas e grupos culturais que atuam nas periferias de São Paulo e em outras regiões brasileiras.

“Num momento tão crítico como esse que estamos vivendo na história do Brasil, manter a FELIZS na ativa é uma resposta à tentativa de dificultar o acesso ao livro, como a promessa de taxação por parte do governo  e também ao fomento de projetos culturais que afetam principalmente as ações culturais criadas, organizadas e consumidas por moradores das periferias”, afirma a produtora cultural Diane Padial.


Programação

Nos primeiros cinco anos da FELIZS, a programação circulava por equipamentos públicos, independentes e comunitários de educação e cultura, localizados nos distritos do Campo Limpo, Capão Redondo, Jardim São Luís e Jardim Ângela, alcançando mais de 40 mil pessoas.

“Os saberes tradicionais que alimentaram os primeiros habitantes dos territórios, que conhecemos hoje como periferias e favelas, possuem uma abundância de ancestralidade e recursos científicos e sociais que precisam ser compartilhados com as novas gerações”, disse Diane Padial

Em 2020, devido aos protocolos de isolamento social adotado para evitar a proliferação da pandemia de covid-19, as atividades da feira literária irão ocupar o universo online. O objetivo é debater práticas de sustentabilidade enraizadas em formas alternativas de desenvolvimento humano e bem viver, apresentando a literatura oral e escrita como um alimento para a alma, corpo e mente.

Transmitidas pela página da Felizs no Facebook e no YouTube, a programação conta com uma diversidade de lives que apresentarão diálogos com autores, shows musicais, conversas literárias, atividades de contação de histórias e intervenções artísticas de dança e teatro.

Para quem está atento ao cenário da pandemia e gosta de fazer reflexões sobre o modo de vida em sociedade antes, durante e no pós-pandemia, os diálogos com os convidados Julio Lancellotti, Boaventura de Sousa Santos, Maria Vilani, Tião Rocha  e Helena Silvestre, dentre outros.

“A nossa programação está repleta de convidados que trarão importantes contribuições sobre o cenário das desigualdades sociais que afetam os moradores das periferias. Todos eles compreendem {o livro} a literatura como um instrumento pedagógico que nos alimenta de conhecimento e possibilita compreender outras realidades”, explica Diane Padial.

Segundo Diane, a programação foi pensada para valorizar a literatura como uma prática de leitura de mundo que deveria estar acessível a todos os moradores das periferias.

“Essa edição da FELIZS vai usar a literatura para debater o legado das sabedorias dos povos tradicionais num momento onde o governo brasileiro massacra essa importante parcela da população em meio à pandemia”, ressalta Padial.

No dia 5 de setembro, o Sarau do Binho mantém a tradição de realizar a abertura da FELIZS com uma série de intervenções poéticas dos artistas que compõem um dos coletivos de literatura mais tradicionais da zona sul de São Paulo.

“O calor humano do Sarau do Binho é algo marcante e quem já veio nos assistir e interagir no Espaço Clariô de teatro conhece essa energia. No ambiente virtual, vamos tentar passar esse espírito para não perder a nossa essência de transmitir boas energias por meio da arte”, destaca Binho Padial.

O show de abertura desta edição será realizado no dia 4 de setembro e fica por conta da banda Veja Luz, um grupo de artistas enraizados no movimento cultural de Taboão da Serra e do Campo Limpo.

Homenagem

A cada edição a FELIZS faz uma curadoria de histórias de moradores da zona sul de São Paulo que fazem da sua história de vida um marco no cotidiano de muitos moradores, que são impactados por seus projetos e fazeres diversos.

Esse ano, a homenageada é a professora Ute Craemer, fundadora da Associação Monte Azul e difusora da Antroposofia no Brasil, à qual se dedica desde 1975 a promover projetos e espaços de fortalecimento social, educacional e cultural para moradores do Jardim Monte Azul.

“Cada homenageado que é reverenciado pela FELIZS merece ter a sua vida registrada em um museu, pois estas pessoas dedicam parte da sua vida ao universo da arte, transformando o imaginário de muitos moradores. Por isso entendemos que homenagear a Ute Craemer e tanto outros agentes culturais e sociais da zona sul é uma missão da FELIZ, para preservar e valorizar a memória da região”, conta Suzi Soares, professora e produtora cultural da Feira Literária da Zona Sul.

A FELIZS já homenageou importantes personagens da história cultural da zona sul de São Paulo, como Raquel Trindade, Renato Palmares, Eda Luís, Tula Pilar e Marco Pezão.

“Nós convivemos com essas pessoas e sabemos o quanto elas inspiram os moradores com a sua arte e modo de vida, por isso, compreendemos que a FELIZS é fruto deste movimento artístico que transforma e sensibiliza o ser humano”, finaliza Suzi.

Além da trajetória da professora Ute Craemer, a FELIZS também fará uma homenagem à atriz, articuladora e produtora cultural Maria das Dores Rodrigues Nascimento, mais conhecida por Dora Nascimento ou Dorinha, que integrava a equipe de profissionais da da feira literária.

A ex-coordenadora da Casa de Cultura do Campo Limpo, equipamento público de cultura localizado na zona sul de São Paulo,  faleceu em 22 de agosto deste ano, em decorrência de um câncer no pâncreas.

Desde 2016, Dora atuava como produtora cultural na FELIZS. Ela se conectou com o Sarau do Binho na época em que o encontro literário era realizado no bar do coletivo. Desempenhava um papel fundamental na organização da feira literária que era a gestão da informação de convidados, prestadores de serviços, parceiros e detalhes da programação, como data, local e horários. Dorinha era chamada pela equipe de organizadoras como a dona do ‘tesouro’ da FELIZS.

Para mais informações sobre a Feira Literária da Zona Sul (FELIZS) – www.felizs.com.br

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