3 livros de ficção com protagonismo negro para ler em 2023

A colunista Ashley Malia indica obras de ficção científica e fantástica com protagonismo negro e universos inspirados no continente africano. Confira!

19|01|2023

- Alterado em 19|01|2023

Por Redação

A literatura sempre foi pra mim um ponto de encontro com a fantasia e a possibilidade de viajar por vários universos diferentes. Cresci lendo literatura fantástica e até hoje sou apaixonada pelo gênero.

Contudo, quando a consciência racial chegou para mim, comecei a perceber que nenhuma das histórias – pelas quais fui apaixonada durante a adolescência – tinha um personagem relevante que fosse negro.

Foi então que iniciei a minha jornada com a literatura negra. Primeiro lendo obras de teoria racial para me entender e entender o mundo, e hoje finalmente cheguei nas obras de ficção científica e fantástica com protagonistas negros, universos inspirados no continente africano e na nossa história.

Acho de extrema importância indicar obras de ficção que falem de nós, pois o pouco que se divulga e se discute sobre literatura negra é sempre falando sobre racismo, sobre violência e nossas dores.

Porém, a nossa literatura não deve ser pautada somente na violência, nós também temos o direito de viajar em obras de fantasia onde, inclusive, a pauta “racismo” nem exista.

A criação de novos mundos permite até isso!

Ler fantasia tem sido meu ponto de fuga, meu momento de desopilar a mente de tantas coisas que a sociedade nos obriga a vivenciar. É maravilhoso ler obras que tenham, pelo menos, 90% dos personagens sendo negros. E eles são diversos! Tem aqueles que você ama, que você odeia, que você se identifica e se apaixona. Muitos cenários são inspirados no continente africano e os diversos povos e culturas, em alguns deles a escravização nem existiu, e temos o privilégio de abordar inúmeras outras discussões sem essa marca no nosso passado. E isso é importante demais, porque nossa humanização no universo da ficção é mais do que urgente, e é tão bom imaginar nosso mundo sem tanta dor.

Se você, assim como eu, ama viajar em universos fantásticos e quer ler histórias com personagens iguais a nós, fica aí algumas indicações de livros de ficção com protagonismo negro.

Leopardo Negro, Lobo Vermelho, de Marlon James

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Leopardo Negro, Lobo Vermelho, de Marlon James.

Em um épico fantástico ― com elementos que vão de Gabriel García Márquez ao universo Marvel ―, Marlon James conduz o leitor por toda a riqueza das histórias e dos folclores do continente africano Com um faro infalível para encontrar coisas que preferem ficar perdidas, o Rastreador achará tudo o que quiser.

E, mesmo ciente de que o objeto de sua busca já não está mais no mundo dos vivos, o habilidoso caçador aceita a missão de localizar um garoto desaparecido. Afinal, o menino pode ser o herdeiro legítimo do trono de um império. Seguindo rastros deixados por seu alvo, o Rastreador passa por cidades ancestrais, desbrava rios e florestas, imerge em culturas e costumes, vivência lendas e mitos, enfrenta todo tipo de perigos: demônios, feiticeiros, bruxas, necromantes. Confrontado pela vastidão do continente, por toda a beleza e o terror em seu caminho, o Rastreador decide ir contra seus princípios de caçador solitário ao perceber que seus inimigos são mercenários atrás do mesmo objetivo.

O grupo ao qual se junta é heterogêneo e composto por personagens fantásticos, entre eles o misterioso metamorfo ― metade homem, metade Leopardo ―, que irá conduzi-lo em sua jornada. Enquanto lutam para sobreviver e concluir a tarefa, o Rastreador é assombrado por questionamentos: quem é o menino desaparecido? O que o fez desaparecer? Por que há tanto interesse em que não seja encontrado? Mas, sobretudo, quem está mentindo e quem está dizendo a verdade? Inspirado nas histórias e nos folclores da África, valendo-se de uma imaginação aparentemente ilimitada, Marlon James cria uma aventura multicolorida e surrealista na qual questiona os limites da verdade e do poder e o preço da ambição. Desdobrando personagens e lendas em uma cascata vigorosa, Leopardo Negro, Lobo Vermelho é uma ode à beleza e à pluralidade da mitologia africana.

Sangue Dourado, de Namina Forna

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Sangue Dourado, de Namina Forna.

E se as Dora Milaje, de Pantera Negra, vivessem no universo de The Handmaid’s Tale? Em Sangue dourado conheça as alaki, guerreiras quase imortais que lutam para sobreviver em um império que só pensa em destruí-las.

Deka convive com o medo e a expectativa todos os dias. Finalmente chegou seu momento de passar pela cerimônia do sangue, a qual todas as meninas de Otera são submetidas. Se o seu sangue for vermelho, igual ao de qualquer humano, Deka enfim fará parte da aldeia que a ignora e a despreza desde seu nascimento, enfim será aceita, enfim viverá uma vida normal. Se o seu sangue for vermelho. Mas não é.

O sangue que escorre de suas veias é dourado, a cor da impureza. E, por isso, seu destino será enfrentar consequências piores do que a morte. Até que uma mulher misteriosa aparece trazendo uma alternativa: lutar pelo imperador em um exército de garotas como ela, as alaki, seres quase imortais e, mais importante, dotadas de dons raros.

Juntas, as alaki podem conter a maior ameaça do império, os uivantes mortais, bestas selvagens que atacam de vilarejo em vilarejo, deixando dezenas de corpos em seu rastro. Em busca de sentir que pertence a algum lugar, Deka parte para a capital, onde logo descobre que nada é exatamente o que parece ― nem mesmo ela.

Sangue dourado, primeiro volume da trilogia Imortais, é uma fantasia feminista poderosa e envolvente inspirada na África Ocidental. Eleito pela Amazon como o melhor livro Young Adult de 2021, o livro de estreia de Namina Forna se tornou um best-seller instantâneo do The New York Times.

Cinderela está morta, de Kalynn Bayron

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Cinderela está Morta, de Kalynn Bayron.

Cinderela está morta há duzentos anos, e o conto de fadas acabou. Em um reino onde as mulheres são vistas como objetos, uma menina vai contrariar tudo e a todos para poder ter a escolha de amar livremente e decidir o próprio destino.

Dois séculos após Cinderela ter encontrado o seu Príncipe Encantado, a magia parece ter abandonado o reino de Mersailles. Cinderela e a fada madrinha não passam de lendas, e o reino está há décadas sob o controle de reis tirânicos. Ao completar dezesseis anos, todas as jovens são obrigadas a participar do Baile Anual, onde os homens do reino vão para escolher jovens esposas. Não ser escolhida é uma sentença de ruína tanto para a garota quanto para a sua família.

Sophia está se preparando para seu primeiro baile, mas o que realmente deseja é se casar com Erin, sua melhor amiga. No dia do baile, Sophia toma a decisão desesperada de fugir, indo parar no mausoléu da Cinderela. Lá, ela encontrará uma aliada inesperada, alguém com respostas para os mistérios envolvendo as lendas que giram em torno da mítica história da Cinderela. Juntas, elas vão enfrentar a tirania opressora do rei e de uma sociedade patriarcal que impede que as pessoas sejam livres.

Cinderela está morta é uma versão moderna e feminista do clássico conto de fadas.Com uma protagonista negra e LGBTQ+, vai fazer os leitores questionarem as histórias que conhecem tão bem, e torcer para as garotas que têm a coragem e força de quebrar as barreiras de um mundo que insiste em tentar dizer quem elas deveriam ser e quem deveriam amar.

Preta e plural. É baiana, jornalista e influenciadora digital. Fala sobre autoestima, raça, livros, cultura pop e viagens. Em 2020, foi premiada pela Câmara Municipal de Salvador com o Prêmio Maria Felipa.

Os artigos publicados pelas colunistas são de responsabilidade exclusiva das autoras e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Nós, mulheres da periferia.

Larissa Larc é jornalista e autora dos livros "Tálamo" e "Vem Cá: Vamos Conversar Sobre a Saúde Sexual de Lésbicas e Bissexuais". Colaborou com reportagens para Yahoo, Nova Escola, Agência Mural de Jornalismo das Periferias e Ponte Jornalismo.

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