Ilustração mostra Iara, a Mãe d'água do folclore brasileiro, descansando sobre pedra

10 personagens femininas populares no folclore brasileiro

O folclore é construído por meio de histórias passadas por gerações. Conheça Alamoa, Mãe do Ouro, Pisadeira e outras figuras dessa cultura

Por Amanda Stabile

22|08|2023

Alterado em 22|08|2023

O folclore brasileiro é uma expressão da cultura popular. É construído por meio de costumes e histórias passadas de geração para geração de maneira oral. Por isso, suas características passam por variações de acordo com a região do país. As lendas, muitas vezes, foram criadas para explicar algum fenômeno misterioso ou ensinar lições de moral.

Os contos populares no Brasil receberam influência majoritariamente indígena e europeia e surgiram em períodos específicos da história do país, como a colonização e o ciclo do ouro. Muitos contam sobre figuras protetoras da natureza e outros são apenas amedrontadores.

Selecionamos as histórias de 10 personagens femininas populares no nosso folclore para você conhecer. Confira:

1. Alamoa

Originária do arquipélago de Fernando de Noronha (PE), a lenda da Alamoa descreve uma criatura de pele branca, cabelos loiros e olhos azuis que seduz marinheiros e moradores. Seu nome deriva de “alemão”, como se fosse o gênero feminino da palavra. Após encantá-los com sua beleza, Alamoa os guia pelas noites escuras e de lua cheia até o Morro do Pico, o ponto mais alto de Fernando de Noronha. Lá, ela se transforma em uma caveira e os aprisiona ou os empurra do penhasco, dependendo da variação do conto.

2. Caipora

Em tupi, “caipora” significa “habitante do mato”. A entidade protege a fauna, controla os bichos, faz armadilhas e solta uivos e gritos para assustar os caçadores que querem fazer mal aos animais da floresta. Em algumas regiões, Caipora é descrita como uma mulher indígena de baixa estatura, com os cabelos vermelhos e as orelhas pontiagudas. Em outras, é um homem baixo, de pele escura e muito peludo que sempre aparece montado em um porco. O surgimento da lenda remete ao século 16 e a história possui muitas variações, misturando-se aos contos do curupira e de outros seres folclóricos.

3. Comadre Fulozinha

Pálida e de longos cabelos negros, a Comadre Fulozinha varia entre a representação de uma criança e de mulher adulta. Muito popular nos estados do nordeste brasileiro, especialmente em Pernambuco, conta-se que ela habita as matas para proteger os animais e a floresta. Usando um assobio potente para confundir os caçadores, ela também é conhecida por travessuras, como trançar crinas de cavalos e abrir as porteiras de fazendas.

Para evitar que animais sejam feridos, ela utiliza cipós como chicote e impede que os malfeitores saiam da floresta. Apesar das semelhanças, ela fica furiosa quando é confundida com a Caipora. Para estar seguro nas matas, é recomendado que se deixe alguns presentes para a Comadre Fulozinha, ela gosta de papa de aveia, confeitos, fumo e mel.

Em outras versões da lenda, a personagem é utilizada para amedrontar as crianças que desrespeitam os mais velhos. Ela pode punir os pequenos com travessuras ou levando-os mata a dentro e deixando-os perdidos.

4. Cuca

Apesar de popularizada pela obra de Monteiro Lobato como um jacaré de cabelos louros, no folclore brasileiro a Cuca é uma mulher velha, feia e malvada. Às vezes descrita como uma bruxa, ela só dorme uma noite a cada sete anos. A Cuca sequestra crianças desobedientes, ou aquelas que não vão dormir no horário determinado pelos pais, por isso está presente nas cantigas de ninar. A origem da lenda é europeia e estima-se que tenha chegado ao Brasil na época da colonização.

5. Iara ou Mãe d’água

Numa mistura entre o folclore europeu e indígena brasileiro, Iara era filha de um pajé e uma grande guerreira, despertando a inveja dos irmãos. Certo dia, eles tentaram matá-la, mas ela dizimou a todos e fugiu com medo do pai. Quando encontrada, o pajé a jogou entre os rios Negro e Solimões, no estado do Amazonas, no norte do Brasil. A indígena foi salva pelos peixes e transformada, numa noite de lua cheia, em um ser metade peixe e metade mulher: uma sereia. Ela então se tornou a Mãe d’água, que habita rios e riachos e que, com sua beleza e voz, hipnotiza os homens para afogá-los. 

6. Mãe do Ouro

Nessa lenda do folclore brasileiro, uma bola de fogo surge sobre as jazidas minerais de ouro durante à noite. A esfera assume a forma de uma linda mulher de cabelos dourados, com um longo e branco vestido de seda. Essa entidade é conhecida como protetora dos tesouros, não os indicando, mas protegendo das explorações. Por isso, a Mãe do Ouro também é considerada protetora da natureza. Algumas versões da história contam que ela salva mulheres que são maltratadas pelos maridos. Ela os leva para cavernas, os prende para sempre e coloca outro amor no caminho da esposa.

7. Matinta Pereira

Conhecida na região Norte do Brasil, a personagem é descrita como uma bruxa idosa. Ao anoitecer, ela se transforma em um pássaro de mau agouro, um Tapera Naevia, também chamado de Saci ou Matinta Pereira. Em outras versões, a bruxa anda acompanhada desse pássaro, e à noite transforma-se em uma coruja “rasga-mortalha”. Após a metamorfose, o pássaro pousa nos telhados ou muros emitindo um som para alertar  os moradores de sua presença. O assobio só cessa quando os residentes, irritados com o barulho, prometem algo, frequentemente envolvendo comida, tabaco ou álcool. No dia seguinte, a bruxa volta à casa para buscar o que lhe foi prometido, caso não receba, ela amaldiçoa os moradores.

8. Mula sem cabeça

A lenda da mula com uma tocha de fogo no lugar da cabeça é uma das mais famosas do folclore brasileiro. Sua história varia dependendo da região em que é contada. Uma versão aponta que todas as mulheres que mantêm relações amorosas com padres são transformadas no animal. Em outra, o castigo recai sobre aquelas que dormem com o namorado antes do casamento. A mula sem cabeça então corre descontroladamente pelas matas e despedaça qualquer animal que cruzar seu caminho. Suas ferraduras são de prata ou aço e seu relincho é tão alto que se ouve de longe.

9. Loira do Banheiro

Muito contada nas escolas brasileiras, estima-se que essa história surgiu no século 19 e incorpora características da lenda da Maria Sangrenta, popular na Inglaterra. Para amedrontar os estudantes, conta-se que a Loira do Banheiro é o espírito de uma mulher jovem, vestindo uma camisola branca e com algodão no nariz, que aparece nos banheiros das escolas após um ritual.

A lenda brasileira é inspirada em um acontecimento real: a morte de Maria Augusta, filha do visconde de Guaratinguetá (SP). Em 1880 ela foi obrigada a se casar, aos 14 anos, com um homem muito mais velho. Maria então fugiu para Paris e lá morreu com apenas 26 anos de algum mal misterioso.

A família trouxe o corpo da jovem para o Brasil e o deixou em uma redoma de vidro na mansão, por três semanas, até seu túmulo estar pronto. O mistério em torno da morte da jovem e o casarão da família ter se tornado uma escola futuramente contribuiu para que a lenda da Loira do Banheiro fosse relacionada a sua história.

A Loira do Banheiro faz mesmo parte do nosso folclore ou é apenas uma lenda urbana? No livro infanto-juvenil A Loira do Banheiro e outras assombrações do folclore brasileiro, Januária Cristina Alves, jornalista e pesquisadora da cultura popular brasileira, conta a história de uma passagem do espírito pelo banheiro de uma escola e o classifica no mesmo patamar de outras lendas assustadoras do folclore brasileiro, como o Lobisomem, a Mula Sem Cabeça e a Matinta Pereira.

10. Pisadeira

Assim como a Cuca, a Pisadeira também é descrita como uma mulher idosa, feia e assustadora. Muito magra, ela tem os cabelos desgrenhados, os olhos vermelhos arregalados e as unhas compridas e sujas. Outra característica marcante é sua gargalhada estridente. Ela habita os telhados, à espreita daqueles que vão dormir de estômago cheio. Fazendo juz a seu nome, ela pisa na barriga dessas pessoas, provocando falta de ar e paralisia. A lenda é muito famosa na região sudeste do Brasil, em especial no interior dos estados de Minas Gerais e São Paulo.