Na boca do povo: protestos pelo Brasil e rejeição recorde a Bolsonaro

Sexta-feira é dia de Na Boca do Povo, uma curadoria dos acontecimentos mais importantes no Brasil e no mundo. Aqui você acessa não só o fato, mas uma interpretação de como cada assunto impacta o seu dia a dia. Esta semana: ato contra o presidente Jair Bolsonaro.

Por Semayat S. Oliveira

28|05|2021

Alterado em 28|05|2021

Sexta-feira é dia de Na Boca do Povo, uma curadoria dos acontecimentos mais importantes no Brasil e no mundo. Aqui você acessa não só o fato, mas uma interpretação de como cada assunto impacta o seu dia a dia. Muita coisa acontece diariamente, e o Nós te ajuda a focar no que realmente importa.


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Ato por Vidas Negras e Fora Bolsonaro realizado em junho de 2020 no Largo da Batata, em São Paulo.

©Semayat Oliveira

O que você precisa saber: Movimentos sociais convocaram a população para um ato contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para este sábado, dia 29 de maio. Com alcance nacional, dezenas de cidades pelo Brasil já definiram pontos de encontro e horários diferentes para a manifestação. Na maioria dos casos, as concentrações começam na parte da manhã.

As principais reivindicações são o impeachment de Bolsonaro, a aceleração da vacinação contra a Covid-19 e a necessidade de uma Auxílio Emergencial de no mínimo R$ 600 até o final da crise sanitária. Outra chave importante é o combate ao genocídio, que se relaciona tanto às mais de 450 mil mortes causadas pelo coronavírus, como aos assassinatos de jovens e crianças negras em decorrência do racismo, como aconteceu na chacina de Jacarezinho, no Rio de Janeiro. 

No Brasil, o movimento negro defende o uso do termo em decorrência do sistemático homicídio de uma determinada parcela da população. Seja por arma de fogo ou pela precariedade das condições sociais, como vemos acontecer na atual crise de saúde e econômica do país.

Genocídio tem sido uma palavra cada vez mais usada no contexto brasileiro. Ela se refere a ações realizadas por determinados grupos com o objetivo de exterminar outros grupos por conta de sua opção religiosa, ideológica, ou por questões ligadas à etnia, raça e nacionalidade.

Em 2018, os negros representaram 75,7% das vítimas de homicídios. A discrepância entre as taxas de homicídio dos dois grupos significa que para cada indivíduo não negro morto, 2,7 negros foram mortos. Além disso, nos últimos 10 anos, os homicídios de mulheres negras aumentaram 12,4%, enquanto os assassinatos de mulheres não negras reduziram 11,7%.

O termo genocídio foi criado em 1940 pelo advogado judeu por conta do Holocausto (extermínio sistemático de seis milhões de judeus pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial). Considerado um crime contra a humanidade, essa convenção definiu-se por meio de um documento escrito pela ONU também na década de 1940. O século XX teve inúmeros exemplos de políticas genocidas praticadas em diferentes locais do planeta. O Tribunal Penal Internacional, em Haia, pode ser convocado para julgar os crimes de genocídio.

Consulte aqui agenda de atos que acontecerão por todo o Brasil.

Em que contexto isso acontece:  Nesta semana o PoderData, divisão de estudos estatísticos do Poder360, publicou pesquisas que apontaram para o aumento da rejeição ao governo do presidente Jair Bolsonaro. Uma delas foi realizada entre os dias 24 e 26 de maio. Com 2.500 entrevistas em 462 municípios das 27 unidades da Federação, a rejeição ao governo federal bater o recorde de 59%. Outros 35% dos brasileiros se mostram favoráveis a gestão.

Além da desaprovação, também subiu a proporção dos que são a favor do impeachment do presidente Jair Bolsonaro (57%). A taxa aumentou 11 pontos percentuais em relação a 3 meses antes. E por outro lado, o governo de Bolsonaro também teve desaprovação majoritária entre as pessoas que receberam o auxílio emergencial (64%). O número supera a taxa geral de desaprovação, que é de 59%.

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Presidente Jair Bolsonaro discursa após cerimônia de posse do Ministro de Estado da Cidadania, Joao Roma, e do Ministro de Estado Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Onix Lorenzoni e sanção da Lei da Autonomia do Banco Central.

©Fábio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil

Nesta quinta-feira (27), durante um almoço com integrantes das Forças Armadas em São Gabriel da Cachoeira (AM), Jair Bolsonaro disse: “Interesses, há muitos, todos sabem, sobre essa região. O inimigo tem paciência, tem estratégia e tem objetivo. E ele só será vitorioso se nós esmorecermos”.

Na continuidade de sua fala, ele afirmou: “Queremos progresso e acima de tudo liberdade, e a gente sabe que esse último desejo passa por vocês”, disse Bolsonaro referindo-se aos militares que participaram do almoço. “Vocês é que decidem, em qualquer país do mundo, como aquele povo vai viver. Ninguém está aqui para fazer discurso político, mas somos seres políticos. Se Deus deu essa missão para nós, vamos aproveitá-la no bom sentido”, completou.

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(São Paulo – SP,15/04/2021) Solenidade de Passagem do Comando Militar do Sudeste.
Foto: Isac Nóbrega/PR.

©Isac Nóbrega-PR/Agência Brasil

Como isso atinge você: Em meio a tudo isso, está em curso a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid-19. As investigações da Comissão parlamentar de inquérito estão avançando. Esse contexto, combinado com o aumento da rejeição ao governo federal, estão aumentando a tensão política em relação às eleições de 2022.

Neste sentido, é imprescindível que a declaração de Bolsonaro é inconstitucional e atenta contra a democracia brasileira. Ao afirmar que são os militares “que decidem, em qualquer país do mundo, como aquele povo vai viver”, o presidente contraria a Constituição Cidadã de 1988.

Mas esta não é a única fala polêmica neste sentido. No início deste mês, ele afirmou durante uma de suas lives semanais que “se não tiver voto impresso [na próxima eleição], sinal de que não vai ter a eleição. Acho que o recado está dado”, ameaçou. O assunto já entrou oficialmente na pauta do Congresso Nacional. No último dia 13 de maio foi instaurada uma comissão especial para analisar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 135/19 que torna obrigatória, na votação e apuração de eleições, plebiscitos e referendos, “a expedição de cédulas físicas, conferíveis pelo eleitor, a serem depositadas em urnas indevassáveis, para fins de auditoria”.


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