três mulheres

Mulheres relatam rotina cansativa trabalhando na escala 6×1

Movimento que luta pelo fim da escala 6x1 já conta com mais de um milhão de assinaturas

Por Beatriz de Oliveira

28|06|2024

Alterado em 01|07|2024

Cansaço físico e psicológico, falta de tempo para convívio com amigos e família, e até para cuidar de si. Essas são algumas das sensações relatadas por mulheres que trabalham ou já trabalharam na escala 6×1, modelo em que há expediente em ao menos seis dias consecutivos e se folga um dia na semana.

Criado a partir de um vídeo de desabafo nas redes sociais do trabalhador Rick Azevedo, o Movimento VAT – Vida Além do Trabalho luta pelo fim da escala 6×1. O abaixo-assinado do movimento já conta com mais de um milhão de assinaturas.

“Lutamos pela redução da carga horária sem diminuição do salário, com a escala 4×3”, afirma Priscila Santos, coordenadora do movimento, e completa “na escala 6×1 vemos um recorte de cor, de classe e de gênero. A grande maioria das integrantes do Movimento VAT são mulheres, boa parte delas são mães”.

No dia 1º de maio, a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) publicou em suas redes sociais que iria apresentar ao Congresso uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) solicitando o fim da escala 6×1.

Reunimos relatos de mulheres sobre suas experiências vivendo esse ritmo de trabalho. Confira!

“A minha rotina é de correria, loucura total”

Carol Oliveira, 31 anos, trabalha em escala 6×1 há 12 anos no comércio varejista e vive no Rio de Janeiro (RJ).

mulher tira selfie

Carol Oliveira trabalha há 12 anos na escala 6×1

©arquivo pessoal

A minha rotina é de correria, loucura total. Tem que ter muita força de vontade para encarar trânsito de três ou quatro horas, cuidar da sua vida pessoal, estudar e ainda entregar resultados no trabalho.

Eu me sinto exausta, muitas vezes deprimida, por não conseguir atingir meus objetivos pessoais e profissionais também. Não consigo descansar o suficiente e nem tenho tempo pra mim mesma.

Sempre achei a escala 6×1 muito ruim, principalmente porque muitas empresas não respeitam. Já trabalhei nove dias consecutivos sem folga. E são oito horas do seu dia, que muitas vezes se estendem para dez horas, fora o trajeto. Então, acho que dá pra entender o tamanho da angústia que é viver nesse modelo de escala.

“Eu vivia esperando pela minha folga”

Julia Marques, 22 anos, vive na zona sul de São Paulo (SP). Trabalhou em escala 6×1 por um ano e quatro meses em uma rede de supermercados.

mulher negra com roupa azul

Julia Marques trabalhou em escala 6×1 em uma rede de supermercados.

©arquivo pessoal

Era uma rotina muito puxada. Eu moro no extremo sul e demora mais ou menos uma hora meia até o trabalho. Tinha uma folga no domingo por mês e as outras na semana. Me sentia muito cansada, eu vivia esperando pela minha folga. Me sentia mal porque não tinha convívio com a minha família, não tinha vida social.

Não tem como resolver todas as coisas em um dia só de folga. Ou você descansa ou resolve algum problema, e quando vai ver o dia já acabou e a rotina volta. Você não consegue dar atenção pra ninguém, nem pra si mesma. É cansativo psicologicamente e fisicamente.

“Eu não tinha hobbies, não tinha lazer com a minha família”

Karolinny Gomes, 24 anos, trabalhou na escala 6×1 durante 8 meses nos dois shoppings da cidade de Bauru (SP).

mulher branca com cabelo preto e mechas vermelhas

Karolinny Gomes trabalhou em shoppings na escala 6×1

©arquivo pessoal

Eu era muito dedicada e decorava todos os passos da venda. No começo não era tão exaustivo porque meu namorado cuidava da casa. O que mais doía eram minhas pernas, porque só podia sentar na hora do almoço. Com o início da pandemia de Covid-19, os shoppings fecharam e eu fui demitida. Depois de alguns meses me chamaram novamente. Aí começou a ser mais difícil, porque eu passava o dia com medo de pegar Covid. Quando chegava minha folga eu não tinha energia pra nada, mas mesmo assim tinha muitas coisas acumuladas para fazer em casa.

Tudo piorou depois que eu virei gerente. O alto escalão da filial começou a cobrar muito mais de mim. As minhas folgas, eu passava atendendo o celular e resolvendo problemas. Às vezes eu tinha que ficar até 1 da manhã no shopping arrumando estoque e também tinha que abrir mão da minha folga por conta de alguma data comemorativa ou por falta de algum vendedor.

A escala 6×1 desgasta todas as áreas da vida do funcionário, não permite lazer e te faz pensar em trabalho 24 horas, eu não tinha hobbies, não tinha lazer com a minha família e estava viciada em cigarro porque era o único jeito de aliviar a ansiedade.