Médica tira dúvidas sobre suspensão da vacina AstraZeneca em grávidas
Para tirar dúvidas de mulheres que estão preocupadas com essa nova orientação da Anvisa, entrevistamos a médica epidemiologista Maria Aparecida de Assis Patroclo.
Por Bianca Pedrina
17|05|2021
Alterado em 17|05|2021
No dia 11 de maio, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) recomendou a suspensão da vacinação em grávidas do imunizante AstraZeneca/Oxford.
A vacina é considerada segura para o combate à Covid-19, mas, após reação adversa em uma gestante, cujo quadro evoluiu para óbito, sua aplicação foi interrompida para investigação deste caso isolado.
Grávidas e puérperas foram incluídas como prioritárias para imunização contra a Covid-19, após o aumento no número de óbitos maternos pela Covid-19 em 2021. Segundo dados analisados pelo Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19, houve um aumento de 145,4% de mortes na média semanal de 2021 em comparação com a média semanal do ano passado. Na população em geral, o aumento na taxa de morte semanal no mesmo período da análise foi de 61,6%.
As grávidas que já tomaram a primeira dose devem se preocupar? Como agir diante de reações adversas? Quais alternativas serão adotadas para que o calendário de vacinação para gestantes não seja comprometido?
Para tirar essas e outras dúvidas de mulheres que estão preocupadas com essa nova orientação da Anvisa, entrevistamos a médica epidemiologista Maria Aparecida de Assis Patroclo, doutora em Ciências da Saúde e professora adjunta no Instituto de Saúde Coletiva da Unirio (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Médica epidemiologista Maria Aparecida de Assis Patroclo.
É importante as organizações sociais e entidades de classe pressionarem para que o Governo Federal compre vacinas já aprovadas para gestantes e garanta a continuidade da produção de Coronovac no Instituto Butantã.
Confira!
Nós, mulheres da periferia: Por qual motivo foi suspensa a vacinação AstraZeneca para grávidas?
Maria Aparecida de Assis Patroclo: Uma gestante foi vacinada e apresentou forte dor de cabeça e hemorragia cerebral, evoluindo para a morte. Ainda não se sabe se de fato a vacina contribuiu para a referida situação, estando o caso em investigação; por precaução a Anvisa orientou a suspensão da vacina em gestantes até o esclarecimento das causas da morte.
Nós: Essa informação pode aumentar a desconfiança das pessoas, grávidas e não grávidas, acerca do imunizante, como desestigmatizar isso?
Maria Aparecida: Esta não é a única vacina que grávida não pode ou deve tomar, temos a de febre amarela, DifteriaTetanoPertussis (coqueluche), triviral (sarampo, rubéola e caxumba) e muitas vezes aplicar depende do risco benefício. No caso da Covid-19, não temos apenas um tipo de vacina, no Brasil, temos ainda a Coronovac (mesma tecnologia da vacina da “gripe”), também aprovada, e no mundo há vários outros tipos de vacina (Pfizer, Moderna, Johnson…), que não estão suspensas para as gestantes.
Não há razão para estigmatização, pois, em geral, as gestantes sabem que não podem fazer uso de várias substâncias e que existem alternativas. Neste caso, temos a Coronovac e a avaliação do risco benefício devido ao grau de exposição de cada pessoa.
Nós: Quais alternativas podem ser aplicadas para a garantia de que grávidas sejam imunizadas com segurança?
Maria Aparecida: Temos vacinas que não foram testadas em crianças, em maiores de 65 anos, que não foram testadas em humanas grávidas e apenas em fêmeas/animais grávidas para avaliar risco para o feto. Até o momento, sabemos que a Pfizer foi testada e aprovada para uso em gestantes e a Coronovac usa a mesma tecnologia da vacina da “gripe”, que as gestantes são uma das prioridades.
Nós: como agir diante de reações adversas?
Maria Aparecida: O importante é que qualquer pessoa volte ao local de vacinação se tiver qualquer tipo de sinal e ou sintoma, após a vacinação e que os profissionais de saúde acolham e notifiquem, pois desconhecemos vários aspectos da doença e as possíveis reações vacinas, pois temos muito pouco tempo de acompanhamento, entretanto, é a tecnologia ao nosso alcance, com possibilidades reais de reduzir o risco de casos graves e da infecção pelo coronavírus. Após a investigação, poderá voltar a ser aplicada em gestantes ou suspensa definitivamente.
As gestantes e puérperas que já se imunizaram com a vacina da AstraZeneca/Oxford, devem ser orientadas a procurar atendimento médico imediato se apresentarem um dos seguintes sintomas nos 4 a 28 dias seguintes a vacinação:
Falta de ar;
Dor no peito;
Inchaço na perna;
Dor abdominal persistente;
Sintomas neurológicos, como dor de cabeça persistente e de forte intensidade ou visão borrada;
Pequenas manchas avermelhadas na pele além do local em que foi aplicada a vacina.
Fonte: Nota técnica do Ministério da Saúde
Nós: Como devem atuar as grávidas que já tomaram a primeira dose desta vacina?
Maria Aparecida: Em muitos estados, está suspensa temporariamente a segunda dose e ainda não temos nota técnica do Ministério da Saúde sobre esta situação, cuja decisão só poderá ser definitiva após o término da investigação do caso da gestante que morreu. a (A nota técnica foi divulgada posteriormente – acesse aqui)
Esclarecemos que a segunda dose não deve ser antecipada, entretanto seu atraso, devido a aplicação tardia não irá interferir na resposta positiva para a imunidade das pessoas.
Nós: Se a grávida estiver com medo, insegura, como faz? Vai ao posto conversar?
Maria Aparecida: Ela deve conversar com o profissional que a acompanha no pré-natal e ambos podem fazer contato com o Centro de Informações Estratégicas em Saúde (CIEVS) que existem nos estados e municípios e tem plantão de 24h e com a Secretaria estadual ou municipal de saúde na Vigilância em Saúde. Não se deve aceitar esclarecimentos vagos nem inseguros.
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