COP 28: ‘Ocupamos esse espaço em busca de uma retomada de direitos para a população quilombola’
Cristina Quilombola é uma das onze lideranças que compõem a Rede "Vozes Negras pelo Clima" e levarão as demandas de seus territórios para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas
Por Amanda Stabile
30|11|2023
Alterado em 30|11|2023
Isabel Cristina Silva de Souza nasceu em Caucaia, município na Região Metropolitana de Fortaleza (CE) e lidera a Associação Remanescentes do Quilombo dos Caetanos, onde reside, e atua como militante no movimento.
“Na minha infância, eu me mantive dentro do território, vivendo do cultivo, da manutenção da Agricultura Familiar. Meus pais e meus avós sempre trabalharam nessa perspectiva, vivendo da terra, do território, dos nossos costumes. A gente sobrevivia das plantações – que temos até hoje”, conta.
Esse ano, junto da Rede “Vozes Negras Pelo Clima”, Cristina Quilombola, como é conhecida, participa da 28ª edição da Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, a COP 28, sediada em Dubai, nos Emirados Árabes. O objetivo do grupo é chamar a atenção de autoridades nacionais e internacionais para a urgência na adoção do antirracismo como prioridade das políticas climáticas.
©Reprodução/Instagram
“Eu sou uma mulher negra quilombola que está nesse caminho das lutas e das resistências pelas políticas públicas, pela defesa da sustentabilidade econômica, e principalmente pela garantia da sustentabilidade dentro dos nossos territórios e pela permanência desses povos”, explica.
Em 2010, o quilombo dos Caetanos foi reconhecido pela Fundação Cultural Palmares e o interesse de Cristina em participar politicamente do movimento quilombola surgiu no mesmo período, com a criação da Associação que preside. A partir disso, foram surgindo projetos sociais, culturais e educacionais que fortaleceram o elo do território com a religiosidade e a ancestralidade.
Em âmbito estadual, a ativista integra a Comissão Estadual das Comunidades Quilombolas do Estado do Ceará (CERQUIRCE) e, nacionalmente, é coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos – CONAQ. Desempenhando assim um papel crucial na liderança dentro de seu território, fortalecendo a luta quilombola no estado do Ceará.
Eu abracei a causa e levantei a bandeira quilombola, que me deu força para que hoje eu esteja nessa continuidade dos meus antepassados.
Cristina também expandiu seu engajamento ao conhecer outros movimentos e diversidades culturais dentro de seu município, que inclui povos originários, comunidades de terreiro e povos ciganos. O diálogo estabelecido visa garantir os direitos e o protagonismo das mulheres quilombolas.
Diante das mudanças climáticas, a líder destaca a relevância da defesa da mãe terra e dos quilombos, enfrentando desafios como a exploração de recursos minerais nos territórios, um problema que tem avançado no Ceará.
Essa não é uma defesa só minha, mas coletiva e ampla, para realmente garantir a nossa sobrevivência, caminhada, cultura, alimentação e bem viver das famílias dentro dos territórios quilombolas.
Vozes negras pelo clima na COP 28
©Helene Santos
Entre 30 de novembro e 12 de dezembro, Cristina participa da COP 28, evento que reúne líderes dos países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), inclusive o Brasil, para avaliar a situação das mudanças climáticas e propor mecanismos para mitigá-las.
Ela foi convidada pela Anistia Internacional para participar da COP 28 como parte da Rede “Vozes Negras pelo Clima”, uma delegação de mulheres negras, líderes de favelas, comunidades quilombolas, de terreiro, pesqueiras e ribeirinhas, de oito estados do Brasil.
É importante que mulheres de vários climas, biomas e diversidades, participem da COP 28 para fortalecer a garantia, a defesa das nossas falas e das nossas potencialidades não só dentro dos nossos territórios, mas em outros espaços.
Ela também enxerga essa participação no encontro como oportunidade de fortalecer as vozes quilombolas, buscando colaboração e apoio para a efetivação dos direitos dessa população.
“Para a permanência das comunidades e povos dentro dos nossos territórios precisamos, de fato, da garantia da regularização fundiária, para dar continuidade a todos esses processos históricos que nos foram negados”, defende. “Hoje estamos ocupando esses espaços para fazer uma retomada de direitos para a nossa população quilombola e nossas comunidades”, conclui.