mulher negra sorrindo

Conheça Fayda Belo, a advogada que explica o Direito com bom humor

Ensinando sobre crimes e leis em vídeos com piadas, Fayda Belo atingiu mais de um milhão de seguidores no Tiktok

Por Beatriz de Oliveira

17|02|2023

Alterado em 17|02|2023

Com bom humor e ironia, a capixaba Fayda Belo faz vídeos explicando conceitos jurídicos, leis e crimes. Usando linguagem simples, ela faz com que seus mais de um milhão de seguidores, apelidados de crimelovers, entendam questões do mundo do Direito importantes para o seu cotidiano. Há publicações de temas como injúria racial, homofobia, atos capacitistas e assédio sexual.

Fayda costuma usar casos que ganham repercussão na mídia para explicar as penas de um crime ou o que fazer ao ser vítima, além de responder a vídeos publicados por outros perfis nas redes sociais. “Tá querendo fazer stand-up na cadeia, meu anjo?”, diz em reação a um vídeo transfóbico visto no TikTok; logo depois a advogada explica que o crime de transfobia pode resultar em pena de até cinco anos.

Fayda Belo é advogada especialista em crimes de gênero, direito antidiscriminatório e feminicídios. Divide seu tempo entre a atuação nos tribunais, a produção de conteúdos nas redes sociais e a realização de palestras.

“Sou uma mulher preta, gaga, filha de mãe solo. Cresci num bairro muito pobre, mas vi na educação a chance de virar a chave. Não apenas no que diz respeito a grana, mas a chave dos problemas que eu cresci vendo: racismo, abusos, estupros. Eu sempre sonhei em estar no lugar que estou hoje: ser uma advogada de grupos excluídos, que em sua grande massa quando são réus, a lei é rigorosa, mas quando são vítimas, ninguém liga”, diz.

“Levo comigo o recorte racial”

A carreira de criadora de conteúdo começou durante o isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19. Os fóruns foram fechados e passaram a ser online; com mais tempo livre, Fayda passou a navegar com maior frequência nas redes sociais. “Até que um dia eu tava rolando o feed e vi uma menina que falou algo muito errado, aí eu abri a câmera e falei ‘epa, pode não” ‘, lembra.

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Fayda Belo é advogada especialista em crimes de gênero.

©Mariah Tavares

Com a repercussão de seus vídeos, Fayda percebeu que o público quer ouvir sobre Direito de forma simples. “Foi esse o feeling [intuição], usar a linguagem que eu usava com as minhas amigas. O que eu falo on-line é o que eu advogo off-line”, resume.

As explicações espontâneas surtem efeito: muitos seguidores mandam mensagens e emails para Fayda agradecendo e elogiando seus conteúdos; vários relatam descobrir que foram vítimas de um crime e decidiram denunciar ao assistir a um vídeo da advogada.

Além disso, o recorte de gênero e raça é presente nos conteúdos . “A gente precisa olhar a mulher na sua pluralidade. Nós, as mulheres negras, somos as que mais são abusadas, mais apanham, mais morrem. O homicídio contra as mulheres brancas diminuiu, contra as pretas, aumentou. Por que? Porque a mesa que pensa, que pauta, que cria ações, programas e políticas públicas que enfrentam a violência contra mulher, é branca. Então eu sempre friso a importância de uma mulher negra como eu, falar de gênero, porque eu levo comigo o recorte racial”.

Estudar foi forma de honrar a mãe

Quando criança, o pai de Fayda vendeu a casa que ela, o irmão e a mãe moravam e fugiu. Depois disso, a mãe dela ficou alguns anos internada em um hospício. Ao contar sobre essa parte da sua vida, a advogada é breve, pois é algo que a emociona. Mas, faz questão de destacar o papel da mãe no incentivo ao estudo. “Eu sempre fui uma aluna nove e dez, porque eu queria honrar a minha mãe”, afirma.

No momento em que decidiu cursar Direito, Fayda já tinha se tornado mãe. Como na sua cidade em que vivia, Cachoeiro de Itapemirim (ES), não havia universidades públicas e ela não tinha a possibilidade de se mudar, se inscreveu no Prouni e conseguiu uma bolsa de estudos em uma faculdade particular. “Ai eu falei: ‘agora ninguém me segura mais’”. Um ano antes de se formar, a capixaba passou no exame da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

Por fim, Fayda diz que é de grande importância a presença de vozes negras no ambiente virtual, para colaborar com a ampliação do letramento racial no país. “É preciso enegrecer o debate”.