Ana Maria Carvalho é educadora popular, atriz, cantora, compositora, pesquisadora, costureira e, não menos importante, uma mulher brincante. Nascida em Cururupu (MA), a maranhense de 72 anos é uma das fundadoras da festa do Boi, no Morro do Querosene, em São Paulo (SP), e mora atualmente em São José dos Campos (SP).

Seu mais recente projeto é o Cantigas do Tempo, que vai rodar por sete cidades do estado de São Paulo nos meses de setembro, outubro e novembro, com shows e oficinas que colocam o público em contato com cantigas e brincadeiras, resgatando os saberes populares e a ancestralidade da população negra.

As cantigas estão presentes na vida da artista desde a infância. “A gente não tinha luz elétrica, então, nas noites de lua cheia, brincávamos muito de roda e de versos”, conta e recita alguns dos que cantava naquela época:

‘Você fala hoje

Chora Margarida

Amanhã quem fala é eu

Chora Margarida

Uma pedra deu na outra

Chora Margarida

Teu coração deu no meu

Margarida eu vou chorar’

Essa e outras cantigas estão presentes no álbum Memórias de Carvalho, de 2023, idealizado junto a sua irmã, Bel Carvalho. “A gente colheu nossas brincadeiras de infância, porque somos arte educadoras e sentimos uma necessidade muito grande de transmitir essas brincadeiras que as pessoas não conhecem aqui no sudeste”, conta.

E acrescenta: “o brincar nos move, a gente tem o privilégio de trabalhar brincando, somos chamados de brincantes. Brincantes da arte e da vida”, e exemplifica com o caso das pessoas que participam das festas de Bumba Meu Boi no Maranhão e são chamadas de brincantes. 

Antes do álbum Memórias de Carvalho, Ana Maria lançou o Por mim e Pelo Meu Povo em 2012 (Por Do Som/Proac). Em 2018, foi contemplada pelo Ministério da Cultura com o Prêmio de Culturas Populares, e em 2022, recebeu o Prêmio de mestres e mestras do município de São José dos Campos. 

Ana Maria Carvalho é educadora popular, atriz, cantora, compositora, pesquisadora, costureira e, não menos importante, uma mulher brincante.

©Lela Beltrão

O Cantigas do Tempo reúne músicas que Ana Maria aprendeu na infância, bem como composições próprias, poemas musicados, letras combinadas a gêneros e ritmos como sambas, bumba boi, forrós e cantigas tradicionais.

“As brincadeiras da cultura popular são vivas e enraízam”, diz e explica: “quando uma criança brinca comigo, ela chega em casa e canta para o pai ou pra mãe, e, de repente, a avó que está lá lembra de alguma brincadeira da infância dela. É o resgate da ancestralidade”.

Em sua trajetória, a artista também reivindica a valorização da cultura popular. “As pessoas têm que respeitar a cultura que vem da nossa ancestralidade: nossos tambores, nossos cantos, nossos ritmos. Esse espaço tão nobre que a gente celebra com tanto carinho e que abraça o mundo”.