“Antes, agora e depois”: arte para honrar ancestralidades femininas

Inspirada em honrar o legado das mulheres de sua família, Isabelle Zacarias criou o minidocumentário “Nós Juntas: antes, agora & depois” e a exposição coletiva “Ancestralidade feminina - reconhecendo e honrando nossas raízes”

Por Beatriz de Oliveira

26|06|2025

Alterado em 26|06|2025

Filha, neta, bisneta. Isabelle Zacarias, natural de Taipas, zona noroeste de São Paulo (SP), faz questão de frisar que grande parte de quem ela é vem de quem foram suas ancestrais. Decidida a não deixar que as histórias das mulheres de sua família se apaguem e trazer à tona a importância desse tema, a jovem de 24 anos realizou um minidocumentário e uma exposição coletiva sobre ancestralidade feminina.

Isabelle é formada em Licenciatura em Artes Visuais, multiartista e idealizadora da IZARTEZ, marca de criações e experimentações artísticas. Atualmente, cursa Produção Cultural pelo Programa Jovem Monitor Cultural da Secretaria de Cultura e Economia Criativa de São Paulo. Parte dos requisitos da formação é a criação de um Plano de Intervenção Artístico Cultural (PIAC); e foi daí que surgiu a ideia da produção do minidocumentário “Nós Juntas: antes, agora & depois” e da exposição “Ancestralidade feminina – reconhecendo e honrando nossas raízes”.

mulher em frente a barraca com artes

Isabelle Zacarias é multiartista e idealizadora da IZARTEZ, marca de criações e experimentações artísticas

©reprodução Instagram

“Venho de uma família, até onde sabemos, que teve sua origem em Pernambuco e que migrou para São Paulo na geração da minha bisavó. Delas, herdei habilidades e ensinamentos de vida e, ainda hoje, sigo aprendendo para poder passar às nossas próximas gerações”, conta.

Em 27 minutos, a obra “Nós Juntas: antes, agora & depois” registra o legado das mulheres da família Zacarias, mais especificamente da mãe, avó, bisavó, trisavó e tataravó de Isabelle. O curta documental começa com uma pergunta: o que seria de mim se me tirassem todas as partes que eu peguei de outras pessoas? A seguir, a autora conclui que para entender melhor sobre si mesma, seria necessário entender sobre as que vieram antes.

três mulheres

Mulheres da família de Isabelle. Da esquerda para direta são: tia avó Maria Zacarias; bisavó Aliete Martins e tia avó Silvia Zacarias

©Isabelle Zacarias

Sobre o título da produção, a jovem explica que usou a palavra “nós” porque “remete à linha, aos nós do macramê, aos pontos do crochê e do bordado; à linha da costura mística que nos une e nos transforma em família”.

As várias ancestralidades femininas

Determinada a trazer visões plurais sobre a ancestralidade, Isabelle teve a ideia de produzir uma exposição de artes visuais coletiva com uma série de artistas independentes periféricos. Para isso, ela entrou em contato com o Centro Cultural da Juventude – Ruth Cardoso, na zona noroeste da capital, que topou sediar a exposição; lançou também um formulário online para submissão de obras e artistas; e criou uma campanha coletiva de arrecadação de fundos.

Ao todo, a exposição “Ancestralidade feminina – reconhecendo e honrando nossas raízes” conta com 21 artistas e quatro artesãs convidadas. A maioria delas nunca havia participado de uma exposição de artes visuais. “Entre pessoas brancas, pretas, pardas e indígenas, juntas compõem um grupo de corpos femininos, gêneros fluidos e não binários, para discorrer sobre a temática através da arte, narrando suas histórias, referências e perspectivas ancestrais”, conta.

A inauguração aconteceu no dia 21 de junho e foi um marco para a trajetória da jovem. “Eu estava radiante, era a felicidade em pessoa. Aliás, desde umas duas semanas atrás, eu estava aproveitando ao máximo todo o processo de produção, todo esse trajeto até aqui foi grandemente enriquecedor para mim como produtora cultural em formação”.

GALERIA 1/7

Isabelle Zacarias é curadora da exposição © Maisa Henrique

Logo da exposição “Ancestralidade feminina - reconhecendo e honrando nossas raízes” © Paula Torrecilha

Inauguração acontece no dia 21 de junho © Léu Britto

A mostra conta com 21 artistas e quatro artesãs convidadas © Maisa Henrique

Obra interativa "Antes de mim, existem raízes" © Léu Britto

Obra interativa "Antes de mim, existem raízes" © Maisa Henrique

A exposição conta com um painel em que o público pode anotar um conselho para quem vem depois © Léu Britto

Isabelle explica que um dos objetivos da mostra é motivar o público a pesquisar sobre sua própria ancestralidade, e a partir disso, encontrar formas de honrá-la. Por essa razão, há algumas obras interativas na exposição, como a “Antes de mim, existem raízes”, em que as pessoas são convidadas a preencher folhas de papel com o nome de suas ancestrais e pendurá-las nos galhos de uma árvore. Além disso, ao final da visitação há um painel em que o público pode anotar um conselho para quem vem depois.

A artista pontua que a mostra tem o objetivo de instigar o olhar para o passado e para o futuro. “Honrando quem veio antes, celebrando quem está aqui agora e semeando quem virá depois”, diz.

Serviço

Exposição “Ancestralidade feminina – reconhecendo e honrando nossas raízes”

Sobre: a mostra reúne 32 obras de diferentes suportes concebidas por artistas independentes que trazem ao público uma visão plural do que é a ancestralidade e a importância dela para sua jornada

Onde: Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso (CCJ), localizado na Av. Dep. Emílio Carlos, 3641 – Vila Nova Cachoeirinha

Quando: terça a sexta das 10h às 22h, sábado e domingo das 10h às 18h; até o dia 15 de agosto.

Para mais informações acessar: https://www.instagram.com/projeto.ancestralidadefeminina/