
A Mãe Vida Loka: Niny Magalhães e a maternidade solo na comédia
Comediante é natural da periferia de Ceilândia, em Brasília, e sonha em criar ambientes seguros onde mulheres possam rir do que quiserem
Por Beatriz de Oliveira
24|04|2025
Alterado em 24|04|2025
Natural da periferia de Ceilândia, em Brasília, e vivendo atualmente em São Paulo (SP), Niny Magalhães trilha sua trajetória no ramo da comédia tendo como ponto central as suas vivências na maternidade solo. Unindo bom humor e críticas sociais, a comediante é conhecida como “a Mãe Vida Loka”.
“A minha persona, a Mãe Vida Loka, é aquela pessoa que vai e faz acontecer, que dá um jeito. Ela representa a maioria das mulheres desse Brasil. (…) Ninguém admite que as mães solo estão carregando esse Brasil nas costas”, diz.
Niny é mãe solo de três: Gabriel (21 anos), Giovanna (18) e a Laura (16).“Eu considero uma relação perfeita, nós somos amigos, somos mãe e filhos, somos guerreiros. Eu sei o valor deles e eles sabem o meu valor. A gente se olha e se entende. A gente sabe de tudo, das coisas que passamos, do que fugimos e do que não queremos lembrar”, diz, numa declaração de amor.
Durante vários anos, os quatro enfrentaram momentos difíceis. “Já tiveram fases que eu não tinha nenhum apoio, não tinha informação, eu só tinha 23 anos e três filhos. E eu precisava manter esses filhos vivos, mesmo sem saber se eu sobreviveria naquele lugar de onde eu vim”, relata.
“A comédia me escolheu”
A comédia sempre esteve presente na vida de Niny, seja nos programas de humor que assistia quando criança ou nas brincadeiras e graças que protagonizava com amigos e colegas de trabalho. Mas passou a ver o ramo como uma possibilidade de profissão quando uma pessoa a questionou se ela fazia comédia e também quando um amigo de infância a convidou para assistir a um stand-up.
A partir daí, ela passou a pesquisar sobre o assunto e sobre a história da comédia, e a assistir vídeos de pessoas da área. Até que escreveu o seu primeiro texto de humor stand-up. Após passar por várias recusas de apresentar seu trabalho em bares e casas de comédia, resolveu ela mesma produzir um show.
Em 2019, com a ajuda de um amigo e de um patrocínio, realizou uma temporada de quatro shows em um bar de Brasília. Ela fazia as apresentações iniciais e depois chamava os comediantes mais conhecidos. “Eu lembro como se fosse hoje da primeira apresentação, como eu tive medo, mas depois daquilo eu não parei mais”, conta.
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Meses depois, ela se apresentou em São Paulo (SP) e foi convidada a participar de um programa do Comedy Central, um canal televisivo de humor. Anos depois, passada a pandemia de Covid-19, ela se mudou para a capital paulista com um emprego certo em uma corretora de imóveis. A comédia continuava sendo um segundo trabalho.
“Quando a comédia surgiu na minha vida, ela surgiu como um trabalho mesmo, como uma possibilidade de ganhar uns R$150 extra para comprar pizza para os meus filhos. Eu não tinha sonhos muito exagerados em relação à arte”, afirma.
Sonhando (e rindo) alto
Mas a vida surpreendeu a brasiliense e, passado um ano da sua estadia em São Paulo, ela foi convidada para abrir os shows do comediante Thiago Ventura, e a partir daí passou a se dedicar exclusivamente a comédia. Nesse período, ela teve a oportunidade de testar suas piadas em diferentes cidades do Brasil e se preparar para um show solo. Chamou esse processo de “gestando um solo”.
Certa vez, fez uma piada e uma mulher na plateia deu risada e foi repreendida pelo companheiro. “Não foi nada muito explícito, mas foi do jeito que nós, mulheres, entendemos. Na hora, eu tive vários gatilhos, principalmente o de ser mandada calar a boca, parar de rir, isso era tão comum no meu antigo relacionamento”, conta.
Nesse momento, a humorista decidiu que seu primeiro show solo seria apresentado só para mulheres. Então, em 8 de março de 2023, Dia da Mulher, foi gravado o show “Niny Magalhães – Uma Mãe Vida Loka”, cujo a sinopse é a seguinte: “ser mãe solo já é um desafio. Agora, imagina ser mãe solo, negra, periférica e comediante? Mãe Vida Loka é um show que mistura riso e realidade, trazendo as histórias, dilemas e absurdos da maternidade solo de um jeito que só quem vive sabe”. O vídeo do especial estreou no YouTube no dia 8 de março de 2025.
Niny recebe críticas por priorizar mulheres negras e periféricas em suas apresentações e já ouviu que deveria “furar bolhas”. “Eu não quero furar bolhas, quero formar a minha bolha, ter um ambiente seguro onde as mulheres possam rir do que elas quiserem”, diz e acrescenta que homens que defendem os direitos das mulheres são bem vindos em seus shows.
“As mulheres estão se identificando e se sentindo acolhidas por mim”, relata sobre a repercussão do especial e de seus vídeos de comédia. Tal relação se estendeu para uma comunidade no Instagram, sob o perfil Esquadrão Xerecsquad, em que as mulheres compartilham suas experiências. Fora dos palcos, Niny também organiza o curso A Mãe Mais Vida Loka de SP, em que ouve histórias de mãe paulistanas periféricas.
“O Mãe Vida Loka se tornou o propósito da minha vida. Hoje eu sonho com esse projeto se tornando muito mais que um show, quero que seja uma noite de comédia que rode as periferias de todo Brasil, (…) eu quero que o Mãe Vida Loka se torne uma fundação em que as mães solos possam recorrer. Eu vejo isso se tornando muito maior do que eu”. Para quem, alguns anos atrás, sonhava baixinho, Niny Magalhães se permite hoje vislumbrar altos voos através de sua arte.
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