Aprenda a nutrir sua própria sensualidade e a abraçar o erótico; veja dicas
A colunista Maria Chantal traz dicas para desmistificar e nutrir seu lado erótico por meio da estimulação sexual.
23|08|2023
- Alterado em 17|05|2024
Por Maria Chantal
Sentir é um verbo transitivo direto que denota a percepção por meio dos sentidos. Os sentidos são a capacidade de experimentar o prazer e a paixão física. A sensualidade, por sua vez, é a inclinação para os prazeres dos sentidos.
No entanto, a sensualidade foi encaixotada em determinados padrões estéticos para mulheres cisgêneras, excluindo a maioria das pessoas que não se encaixam nesses padrões, seja fisicamente ou financeiramente. Isso ocorre porque criaram a ideia de que o que é sensual está associado à pele branca, cabelo longo e liso, roupas justas, curtas, com aberturas, peças caras e a presença de um homem cis-hétero ao lado.
Qualquer coisa além disso é frequentemente vista como sexualização, objetificação e descartável. Dentro dessa norma cis-hétero-monogâmica, a sensualidade é por vezes reduzida a uma ferramenta para destruir casamentos, uma responsabilidade muitas vezes atribuída injustamente a mulheres – uma tradição que remonta ao mito de Adão e Eva, onde a mulher é culpada pela desobediência.
Tanto para aqueles que definem um padrão do que é uma sensualidade aceitável e correta,quanto para aqueles que a veem como uma artificio usada por mulheres sorrateiras, em ambos os casos a sensualidade é considerada perigosa.
Ela é desconfortável porque é imprevisível, levando à criação de regras e ao incutimento do medo como tentativa de bani-la. No entanto, a sensualidade é um poder que vai além de sua utilidade sexual ou destruidora. Ela serve para manter o prazer dos sentidos e a vitalidade da vida. Ao nutrir a sua sensualidade, você pode perceber mudanças em si mesma, incluindo uma maior percepção do que é prazeroso para você.
Mas como se nutre a sensualidade? Trata-se de estimular os sentidos, envolvendo-se em atividades que proporcionam prazer pessoal, criando momentos de autoapreciação e autonamoro. Isso inclui amplificar o estímulo tátil, olfativo, gustativo, visual e auditivo. Essa experiência pode ocorrer ao vestir uma roupa de sua cor favorita, perfumar sua casa, passar tempo com pessoas que te fazem rir e, uma das formas que mais indico, por meio do toque físico.
Enquanto a sensualidade é a percepção por meio dos sentidos, o erótico é seu resultado. Audre Lorde, em “Os Usos do Erótico: O Erótico como Poder”, nos ensina que o erótico
é um recurso dentro de cada um de nós, enraizado no poder de sentimentos profundos e muitas vezes não expressos.
Audre Lorde
O erótico é uma força que reside em nossa consciência e subconsciente, presentes em nosso corpo, como também aponta o psicanalista Wilhelm Reich. Portanto, o erótico é uma ferramenta para amplificar nossos sentidos, nossa existência e nossa vitalidade, apesar de ter sido mal compreendido e difamado.
Tanto o erótico quanto a sensualidade merecem ser nutridos, mesmo diante do medo de serem vistos como lascivos ou promíscuos (convenhamos que mulheres não precisam de muitos motivos para serem rotuladas dessa forma). Podemos explorar o toque como uma forma de investigação e nutrição de nosso lado sensual e erótico, inclusive em relação a partes do corpo que muitas mulheres cis aprenderam a sentir vergonha, como a genitália – um espaço íntimo que carrega memórias profundas e que frequentemente só é apreciado em contexto de interação com outros.
Nutrir o seu lado erótico por meio da estimulação sexual proporciona diversos benefícios. A liberação de hormônios do prazer, como endorfina e dopamina, ocorre durante esse processo, contribuindo para uma sensação de bem-estar e satisfação.
Po isso, para cultivar sua sensualidade e erotismo, deixo algumas dicas para iniciar sua jornada de auto-nutrição sensual-erótica, centrada na masturbação:
Livre-se da culpa. Muitas vezes, pessoas provenientes de contextos culturais ou religiosos podem sentir vergonha ao tocar e observar sua própria vulva. Sei que não será um texto que vai resolver isso, mas lembre-se de que esse toque contribui para sua saúde, promovendo circulação sanguínea e produção de hormônios de bem-estar.
Ousadia e alegria. Encare essa exploração como uma investigação das suas próprias sensações. O que você tem curiosidade em experimentar? Exemplo: usar um “vibramor”? Qual vontade você libertaria se não tivesse vergonha?
Quanto mais molhado melhor. Lubrificantes podem facilitar os movimentos das mãos e dedos, além de intensificar as sensações. Há diversos tipos disponíveis no mercado, alguns que esquentam ou vibram, com jambu na composição, proporcionando experiências variadas.
O movimento é sexy. Lave suas mãos e limpe embaixo das unhas, principalmente depois de mexer no celular, pois a usaremos para realizar os movimentos abaixo:
- Massagem nos lábios: Comece massageando suavemente as virilhas em movimentos circulares e, em seguida, massageie os lábios externos da vulva com movimentos circulares.
- Conchinha: Use lubrificante em uma das mãos e posicione-a como uma concha sobre a vulva, pressionando-a para cima (em direção ao umbigo) e para baixo (em direção ao ânus).
- Entre os lábios: Use o dedo indicador e médio para posicionar-se acima do clitóris e separá-los ao longo da vulva, realizando movimentos de subida e descida.
- Foco na glande: O clitóris possui uma parte visível, conhecida como capuz. Utilize o lubrificante no dedo indicador e movimente-o em formato de U invertido, focando na glande. Realize também movimentos circulares ao redor dela
Dicas finais:
Lembre-se de criar um ambiente confortável e seguro, como se estivesse recebendo alguém importante, que neste caso é você mesma. A respiração é crucial para manter-se presente no momento, pois é normal que a mente vague para outros lugares. Observe como seu corpo reage a cada movimento e permita-se experimentar outras sensações se o corpo assim o convidar. Essa é uma jornada de autodescoberta, onde você pode compreender o que lhe traz prazer e a intensidade desejada. É importante lembrar que essa área é naturalmente sensível e fica mais sensibilizada com a estimulação, então toque com delicadeza ao longo do processo.
Maria Chantal Maria Chantal é uma mulher cis, bissexual, angolana em diáspora no Brasil. Estudiosa autodidata da Ginecologia Natural, atua como educadora menstrual, compartilhando conhecimentos sobre prazer, rebolado afro referenciados e a naturalização do ciclo uterino.
Os artigos publicados pelas colunistas são de responsabilidade exclusiva das autoras e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Nós, mulheres da periferia.
Larissa Larc é jornalista e autora dos livros "Tálamo" e "Vem Cá: Vamos Conversar Sobre a Saúde Sexual de Lésbicas e Bissexuais". Colaborou com reportagens para Yahoo, Nova Escola, Agência Mural de Jornalismo das Periferias e Ponte Jornalismo.
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