Seguiremos cobrando que a justiça exerça seu papel de garantir os direitos individuais, coletivos e sociais e resolver conflitos entre cidadãos, entidades e Estado. Sem que alguns cidadãos sejam privilegiados em detrimento de outros.
Atualizado em 16|01|2023
Apenas uma semana depois do povo brasileiro subir a rampa da democracia, terroristas criminosos invadiram os prédios dos três poderes, principais símbolos democráticos de nosso país: Supremo Tribunal Federal, Congresso Nacional e o Planalto.
As cenas de homens e mulheres vestidos de verde e amarelo depredando prédios públicos na primeira semana do governo de Luiz Inácio Lula da Silva nos traz um alerta: estão colocando em prática a ideia de golpe que tanto esbravejaram nos últimos quatro anos.
Há dois anos, no dia 6 de janeiro de 2021, apoiadores do ex-presidente Donald Trump fizeram ato semelhante nos Estados Unidos. Uma das diferenças foi a atuação das forças de segurança, que, ao menos, frearam os insatisfeitos com o resultado eleitoral.
Já naquele momento, integrantes da extrema direita no Brasil, apoiadores de Bolsonaro, davam sinais de que iriam copiar os trumpistas - seus principais focos de inspiração política e ideológica.
Embora o recado estivesse dado, e muitas vezes esperamos que isso realmente pudesse ocorrer, como no 7 de setembro de 2021, no período eleitoral e na posse de Lula, a ameaça se concretizou já no novo governo.
Até o momento, temos mais perguntas que respostas. Para nós, mulheres negras e das periferias, a democracia continuou sendo uma construção nos últimos anos. Desde 2016, diante do Golpe contra Dilma Rousseff, vemos nossos direitos ruindo ainda mais. Saúde, Educação e Segurança Pública para quem?
Policiais militares cruzaram os braços diante de uma invasão deste domingo, sem nada fazer para impedir o caos. Situação muito diferente vivida por diversos militantes em Brasília nos últimos anos.
Em 2017, o tratamento dado aos ativistas que reivindicavam outras políticas para a Previdência não foi o mesmo de ontem. Em 2021, quando representantes indígenas protestavam contra as medidas que dificultavam a demarcação de terras, foram duramente reprimidos pela polícia com uso de bombas de efeito moral, gás de pimenta e lacrimogêneo.
Em protesto do Movimento Passe Livre vários manifestantes foram detidos de forma ilegal e agressiva para averiguação.
Em São Paulo, duas mulheres já rendidas foram agredidas por policiais militares em manifestação do Movimento Passe Livre, onde protestavam contra o aumento de passagem em 2020.
Em 2021, um jovem de 25 anos foi preso simplesmente por estar com o capacete de um segurança do metrô durante protesto contra Bolsonaro. Em 2022, em uma manifestação pacífica contra o governo Bolsonaro que ocorreu em Recife, quatro jovens negros foram presos e um homem perdeu o olho depois de ser baleado por um PM.
A Ponte Jornalismo produziu uma lista de 20 vezes que o tratamento dado a manifestantes foi completamente distinto do que vimos no domingo.
Esses casos citados acima, são apenas alguns dos milhares que ocorreram ao longo dos últimos anos. Podemos ver claramente que são “dois pesos e duas medidas”. Os órgãos de segurança pública não atuaram de forma imparcial e justa, e sim de forma truculenta com aqueles que lutam por direitos iguais, que são a favor da democracia e de mais oportunidades para os mais necessitados.
Por aqui, seguiremos cobrando que a justiça exerça seu papel de garantir os direitos individuais, coletivos e sociais e resolver conflitos entre cidadãos, entidades e Estado. Sem que alguns cidadãos sejam privilegiados em detrimento de outros.
Os ataques ocorridos no último domingo (8) tiveram planejamento prévio. Em um print que circula nas redes podemos ver que todo movimento foi financiado, sendo oferecido transporte, alimentação e estadia para que os ataques fossem realizados em Brasília. A Agência Pública revelou que bolsonaristas utilizaram o código “Festa da Selma” para coordenar os atos terroristas nos últimos dias. Participantes e organizadores devem ser investigados. E, para além disso, a população tem o direito de saber: quem foram os financiadores desses atos?
A invasão de ontem era um ato anunciado, um ataque iminente contra a nossa democracia, mas as forças de segurança do Governo do Distrito Federal (DF), se mostram omissas e frágeis frente ao perigo apresentado. Por que as forças de segurança não se planejaram para impedir esse ataque velado contra os três poderes? O governador Ibaneis Rocha (MDB), apoiador de Bolsonaro, foi afastado por 90 dias do cargo de governador do DF na madrugada de hoje (09/01), pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes.
Quem acompanhou tudo que aconteceu ontem certamente ficou no mínimo indignado e também se perguntando, até onde vai o privilégio branco?
Em vídeo que circula nas redes, um policial chegou a dizer para os bolsonaristas terroristas “estamos do mesmo lado”. Em protestos de estudantes, professores, do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), indígenas, e outros militantes, todos são recebidos com tiro, porrada e bomba. Enquanto isso, nos ataques de domingo, os policiais escoltaram grupos de vândalos, tiraram fotos, permitiram a passagem para que entrassem no Congresso e conversaram pacificamente com os terroristas que invadiram o congresso.
O privilégio branco imperou ontem de forma inescrupulosa, mas isso é o reflexo do que acontece todos os dias pelo Brasil. O próprio ex-presidente Bolsonaro já defendeu golpe e invasão do Congresso, durante todo o seu governo vimos diversos ataques ao estado democrático de direito. Por isso sabemos que a barbárie ocorrida já estava anunciada.
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