Rap, rapper, cantora, estilos musicais, O rap trouxe a minha verdade

‘O rap trouxe a minha verdade’, diz cantora em ascensão Bruna BG

A cantora paraense transitou por diversos estilos musicais até encontrar no rap, seu estilo de vida

Por Mariana Oliveira

21|12|2022

Alterado em 21|12|2022

Nascida em Breves, interior do estado do Pará, a rapper Bruna BG (Bruna Guedes) vem ganhando espaço na música nacional com sua melodia tranquila e letras cheias de romantismo. Desde cedo, tinha certeza que faria da música sua vida. Sons da vida ribeirinha e bandas paraenses foram responsáveis por desenvolver seu gosto por esta arte.

Na infância, desejava estar nos palcos dos programas de auditório que assistia com a avó. Para isso, era necessário ir para a capital. “Aos 12 anos fui morar em Belém (PA) com meu pai, experimentei uma vida completamente diferente”. Na cidade, conheceu o rock e formou sua primeira banda. “Até ficamos conhecidos, porque sempre trabalhamos com música autoral”.

GALERIA 1/3

Bruna BG transitou por diversos estilos musicais até se identificar no rap. © Kleber José

Nascida no interior do Pará, Bruna vem ganhando espaço na música brasileira. © Kleber José

A rapper transforma suas vivências e angústias em letras. © Kleber José

Autodidata, aprendeu sozinha a tocar alguns instrumentos. “Acompanhando meus amigos, aprendi a tocar bateria e o primeiro violão que toquei era do meu padrasto. Um amigo me ensinou as notas básicas, tentava repetir os ritmos que ouvia, mas não continuei, pois vendi o violão por questões financeiras”.

Aos 16 anos, uma nova reviravolta: foi apresentada ao reggae. Começou a tocar guitarra, mas deixou a música de lado pois questionava seu próprio potencial.

“Eu acompanhava tantas cantoras incríveis e não achava que minha voz se comparava a delas”, relembra.

O distanciamento não durou muito. A saudade dos palcos foi maior que a insegurança, assim formou um grupo de samba. Mesmo não seguindo adiante, o envolvimento no ritmo a levou para outro ritmo: começou a produzir e consumir rap. “Eu não conseguia fazer letras com muita história. Entre 2009 e 2013, comecei a ter uma consciência política e social diferente, me entender como mulher preta e lésbica da periferia, comecei a escrever sobre isso”, conta.

Essas angústias foram transformadas em letras que, unidas à melodia que mistura e rap, moldaram o estilo que carrega da rapper. Com paixão pelo canto, encontra ainda maior prazer quando une na escrita. “Foi uma grande escola passar todos esses estilos musicais. E escrever é uma parada em que jogo meus sentimentos, falo de amor”.

Foi no encontro com o rap que a cantora notou retornos positivos do público. “Na minha época de rock, nunca tinha tido essa aceitação. Percebi isso logo no início da minha carreira, entre 2016 e 2017”. Ampliando seu público, conheceu mais mulheres do rap e da região onde vive, entre elas Anna Suav.

No recente álbum, Ritual das Candeias, lançado em novembro de 2019, em colaboração com Anna, aborda o matriarcado e a força da mulher preta responsável por sua formação. “Sou filha de uma mulher preta curandeira. Ela me deu uma bagagem e diversos ensinamentos, então tenho que trazer de volta. Carrego tudo isso e o resto é uma escola para mim”.

Transitando por diversos estilos musicais ao longo da carreira, encontrou no rap um estilo de vida, transformando suas vivências em palavras.

“De todas as escolas que já passei, o rap trouxe a minha verdade”.

Com essa verdade, confessa ainda estar digerindo a proporção que sua carreira vem tomando. “Não tenho noção do que está acontecendo comigo e meu nome, a forma como trabalho, mas quando saio nas ruas as pessoas vêm falar comigo. A música me proporciona isso”.


Conteúdo publicado originalmente no Expresso na Perifa – Estadão