O machismo vai de trem: mulher negra relata agressão na Linha 9-Esmeralda da CPTM

Nós, mulheres da periferia, andamos lado a lado com o machismo no transporte público. No trem, metrô ou ônibus, diversas são as violências que vivenciamos diariamente. Na última sexta-feira (18/12), mais uma de nós, Elis Menezes (uma das fundadoras do coletivo Nós, Madalenas),  foi vítima de agressão física, simplesmente por não aceitar calada a atitude […]

Por Redação

21|12|2015

Alterado em 21|12|2015

Nós, mulheres da periferia, andamos lado a lado com o machismo no transporte público. No trem, metrô ou ônibus, diversas são as violências que vivenciamos diariamente. Na última sexta-feira (18/12), mais uma de nós, Elis Menezes (uma das fundadoras do coletivo Nós, Madalenas),  foi vítima de agressão física, simplesmente por não aceitar calada a atitude machista do senhor ao seu lado, que estava de pernas escancaradas e se encostando nela. Machistas não passarão. Não vamos ficar caladas!
“Ele ficou nitidamente irritado, agressivo, disse que não fecharia as pernas e não bastando a postura intimidadora ele me agrediu dando socos no meu braço, me empurrando. Outro passageiro, homem também, ainda deu razão ao meu agressor (aquela famosa brotheragem) e me empurrou no intuito de me tirar de perto dele, pois para ele eu estava sendo agressiva”
Veja abaixo o relato de Elis Menezes na íntegra! 
” Na sexta-feira, dia 18 de dezembro, ao voltar para casa ( por volta das 00h00) no trem linha Esmeralda/Grajaú, sofri abuso e violência de um homem que estava sentado ao meu lado.
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Sentei ao lado desse homem, branco, vestido de roupa social e me senti desconfortável por ele estar com as pernas abertas de uma forma que invadia meu espaço e me tocava. Pressionei contra a perna dele para que ele fechasse e, ao menos, se limitasse ao espaço destinado a ele.

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Homem que agrediu Elis pelos braços na noite de sexta-feira (18) | Foto: Elis Menezes


A questão é que homens não compreendem limites e se sentem agredidos quando mostramos a eles que o acesso aos nossos espaços e corpos não será livre e não nos calaremos.
Pois bem, ele ficou nitidamente irritado, agressivo, disse que não fecharia as pernas e não bastando a postura intimidadora ele me agrediu dando socos no meu braço, me empurrando. Outro passageiro, homem também, ainda deu razão ao meu agressor (aquela famosa brotheragem) e me empurrou no intuito de me tirar de perto dele, pois para ele eu estava sendo agressiva.
É essa a imagem que querem que passemos: de loucas, histéricas, incomodas. Afinal, eles já estão tão acostumados a tomarem todos os espaços para si que quando demonstramos o mínimo de incomodo somos insensatas, agressivas, ainda mais vindo de uma sapatão, negra, periférica. Minha imagem os ofende, imagine só meu manifesto!

Mas eu não me calei em momento algum, mantive a cabeça erguida e disse em alto e bom tom à todas as meninas do vagão que não devemos nos calar diante de uma agressão e/ou um assédio.
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Algumas pessoas estiveram ao meu lado e até denunciaram o ato no disk denúncia da CPTM, entre elas um homem gay negro que se manteve solidário a mim o tempo todo. Porém só houve atuação dos funcionários da CPTM na estação final (onde todos desceriam) Grajaú e, obviamente, sendo todos os agentes de segurança naquele momento homens, o tratamento foi de puro descaso e ainda escoltaram meu agressor no intuito de protegê-lo de mim. Ele teve coragem de dizer que eu o agredi e até quebrei um dente dele.
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Agentes de segurança com homem agressor


Me deram a opção de fazer um boletim de ocorrência porém eu teria que me deslocar para longe e, certamente, não teria como voltar para casa depois, além de todo o tratamento abusivo que eu mulher lésbica e negra sofreria dentro de uma delegacia.
No final das contas tudo que sofri ficou impune e ainda fui humilhada, assim como varias mulheres todos os dias, todas as horas.

Mas ainda assim, tenho certo pra mim que não me calar foi o correto, que ao menos incomodei e mostrei que não abaixaremos a cabeça.”