mulher negra sorrindo

Ministra negra no STF: conheça 4 mulheres aptas para o cargo

Corte nunca teve uma ministra negra; presidente Lula não demonstra interesse em mudar esse cenário

Por Beatriz de Oliveira

13|09|2023

Alterado em 13|09|2023

Em mais de um século de existência, o Supremo Tribunal Federal (STF) nunca teve uma ministra negra em sua composição. Com a abertura de uma vaga na Corte esse ano, entidades do movimento negro estão se mobilizando para mudar essa realidade. Adriana Alves Cruz, Lívia Sant’Ana Vaz, Soraia Mendes e Vera Lúcia Araújo são alguns dos nomes mais defendidos. 

Com a aposentadoria de Ricardo Lewandowski em abril deste ano, o presidente Lula indicou Cristiano Zanin para vaga de ministro do STF, nome conhecido por ter sido seu advogado pessoal. A atuação do novo ministro gerou repercussões negativas na base do governo petista, o advogado votou contra a descriminalização do porte de drogas e foi o único a votar contra a equiparação de ofensas a pessoas LGBTQIAPN+ ao crime de injúria racial.

Em outubro, é a vez da ministra Rosa Weber se aposentar e Lula fará mais uma indicação. Até agora, o presidente não demonstrou interesse em escolher outra mulher para a vaga. Os nomes mais cotados são de dois homens brancos: o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, e o advogado-geral da União, Jorge Messias.

O STF é composto por 11 ministros que têm a função de defender a Constituição Federal. Sendo assim, julgam se ações dos poderes Executivo e Legislativo são ou não constitucionais. Os ministros são indicados pelo presidente da república e devem ter notável saber jurídico e reputação ilibada. Seus cargos são vitalícios, ou seja, valem até a aposentadoria.

Em toda a história da Corte, apenas três mulheres e três homens negros foram ministros. Para pressionar o atual governo a não escolher mais um rosto branco para compor o STF, entidades do movimento negro se mobilizam pela indicação de uma ministra negra e progressista. Entre as formas de participar, é possível enviar um e-mail para o Planalto através do site da campanha.

“Ter uma ministra negra progressista no STF é essencial para avançar na necessária transformação do sistema de justiça brasileiro, não só pela importância de ver o povo representado nas esferas de poder, mas por todas as mudanças estruturais na forma como a justiça é aplicada”, diz o site.

Outro fruto da campanha é o curta-metragem “Todo Mundo tem um Sonho” lançado pelo Instituto de Defesa da População Negra, dirigido por Mayara Aguiar e com participação especial de Taís Araújo.

A seguir, conheça parte da trajetória de quatro mulheres negras com inegável competência para assumir o cargo de ministra do STF. Todas têm, como manda a lei, notável saber jurídico e reputação ilibada.    

4 mulheres negras aptas para o cargo de ministra do STF

1

Adriana Alves Cruz

Adriana Alves Cruz é mestre em Direito Constitucional e Teoria do Estado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e doutora em Direito Penal pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Em 2015, atuou como juíza instrutora no STF e como juíza auxiliar do gabinete do ministro Luís Roberto Barroso. Atualmente é juíza da Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro e professora de Direito Penal na PUC-RJ. Foi ainda, nomeada para assumir a Secretaria-Geral do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), na gestão do ministro Barroso.

2

Lívia Sant’Ana Vaz

Lívia Sant’Anna Vaz é promotora do Ministério Público do Estado da Bahia, atualmente fixada na Promotoria de Justiça de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa.
Desde 2018, coordena o Grupo de Trabalho de Enfrentamento ao Racismo e Respeito à Diversidade Étnica e Cultural (GT-4), da Comissão de Defesa dos Direitos Fundamentais do Conselho Nacional do Ministério Público. É mestra em Direito Público pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e doutora em Ciências Jurídico-Políticas pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. É também autora do livro “Cotas Raciais” e coautora do livro “A Justiça é uma mulher negra”. Em 2020, foi nomeada uma das 100 pessoas de descendência africana mais influentes do mundo pelo prêmio Mipad, que faz parte da Organização das Nações Unidas (ONU).

3

Soraia Mendes

Soraia Mendes é pós-doutora em Teorias Jurídicas Contemporâneas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), doutora em Direito, Estado e Constituição pela Universidade de Brasília (UnB) e mestra em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É consultora da Comissão Nacional de Direitos Humanos e da Comissão Especial de Proteção dos Direitos dos Povos Indígenas do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Autora das obras “Criminologia Feminista: novos paradigmas”, “Processo Penal Feminista” e “Pacote Anticrime: comentários críticos à Lei 13.964/2019”. Teve feitos marcantes como advogada, como no Caso Luana Barbosa, destacado pelas Nações Unidas como um dos exemplos de racismo sistêmico mais importantes no mundo.

4

Vera Lúcia Araújo

Advogada desde 1982, Vera Lúcia Araújo já atuou como assessora parlamentar, coordenadora jurídica do Departamento Nacional de Trânsito, secretária-adjunta de Igualdade Racial do Distrito Federal (DF) e como diretora executiva da Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso (FUNAP). É ativista da Frente de Mulheres Negras do DF e integra a Executiva Nacional da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD). Em 2022, foi a primeira mulher negra a ser indicada na lista tríplice para ministra do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).