Mc Cacau: a primeira mulher do funk brasileiro
Conheça a vida e carreira da funkeira que participou da primeira geração de cantoras na cena e fez sucesso cantando funk romântico e embalando muitas paqueras nos anos 1990
Por Amanda Stabile
12|07|2023
Alterado em 13|07|2023
Claudia Mendes dos Santos nasceu em Salvador, na Bahia, em 1974. Sétima filha em uma família de oito irmãos, aos cinco anos de idade se mudou com os pais para Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. “Eu acredito que eles vieram para cá para tentar uma vida melhor. Eu me lembro um pouco da minha infância, era bem humilde”, conta.
Desde criança, Cláudia sempre gostou de dançar. Mas seu interesse por cantar surgiu um pouco mais tarde, já aos 18 anos, em 1992. Ela foi influenciada por um concurso de RAP no Colégio Maria Tenório, no bairro Pantanal, em Duque de Caxias (RJ).
“Você tinha que se inscrever no concurso e se apresentar em um domingo, quando o bairro estivesse lotado. Você cantava vários domingos para as pessoas aprenderem a sua música e você ter sua torcida”, lembra.
Ali tinha vários homens e eu era a única mulher no meio daquela homarada toda.
Ela confessa que o prêmio em dinheiro também teve grande contribuição para seu interesse na competição. Cláudia trabalhava desde os 15 anos, quando sua primeira filha nasceu e, na época do concurso, era costureira em uma fábrica.
Pioneira no funk
Mc Cacau fez parte da primeira geração de mulheres na cena e é tida como a primeira mulher do funk
©arquivo pessoal
Cláudia ganhou o concurso em primeiro lugar e esse foi só o começo de seu pioneirismo. Começou a cantar em bailes e conquistou bastante projeção até que, em 1994, a Furacão 2000 a lançou como mestre de cerimônia (MC).
A Furacão 2000 é um produtora e gravadora carioca que, na década de 1990, foi extremamente importante para a divulgação do funk no país.
Seu nome, a partir de então, ficou conhecido como MC Cacau e a cantora começou a fazer parte dos circuitos cantando o Rap do Baile, composta por Mc Neném.
Ela fez parte da primeira geração de mulheres na cena e é tida como a primeira mulher do funk. Com seu primeiro cachê, Cacau realizou um sonho de longa data: comprar uma bicicleta.
Como o público dos bailes não podia gastar com ingressos caros, o pagamento dos artistas era correspondente: não ganhavam tanto dinheiro quanto hoje. Mesmo assim, a pioneira aponta que os homens Mcs ganhavam sempre um cachê muito maior que o seu.
Em meados de 1994, Cacau começou um namoro com MC Marcinho, cantor de letras românticas e posteriormente conhecido por músicas como Glamurosa (2001) e Rap do Solitário (2003).
O funk romântico de Mc Cacau e Mc Marcinho embalaram muitas paqueras desde os anos 1990
©arquivo pessoal
Juntos, lançaram canções de amor que foram sucesso na Furacão 2000, como Porque Te Amo (1997) e Primeiro você me disse (2003). Cacau e Marcinho tiveram um filho, Márcio André, mas se separaram um ano depois do nascimento da criança.
Sonhos
“No ano 2000, o funk romântico deu aquela caída, a gente já não tinha muito espaço. Aí eu tive que fazer outras coisas. Entre um show e outro, trabalhei entregando panfletos, por exemplo, porque eu tinha que cuidar da minha filha”, lembra.
Cacau conta que costumava fazer cerca de 12 shows por semana, de quarta a domingo, portanto, não estava preparada para a primeira queda dos trabalhos. O declínio fez com que ela fizesse uma pausa na carreira, mas logo voltou.
A cantora continua fazendo show e levando o funk relíquia para o Brasil todo
©Reprodução/Facebook
“Eu continuo trabalhando. O funk relíquia está fazendo muitos crias e muitos shows. Todo mundo quer voltar lá atrás e trazer aquele funk gostoso, mais família, que todo mundo pode escutar – mas eu gosto de todos, quero me divertir e ser feliz”.
“Funk relíquia” é um termo usado para se referir às músicas mais antigas do ritmo.
Em 2021, a funkeira participou do hit Cobaia de Deus, do rapper Filipe Ret. O clipe bateu a marca de 5,6 milhões no Youtube.
Cacau e seus três filhos
©arquivo pessoal
Hoje, aos 49 anos, Cacau é mãe de três filhos, avó de três netos e considera um sonho realizado ter conseguido criá-los e educá-los. “Quando estiver todo mundo nas suas casinhas, formados e felizes, sem muito com o que se preocupar, aí eu vou parar para viver a minha vida”, conta.
Dentre seus sonhos para o futuro está viajar e pedalar por aí. “Domingo agora mesmo eu acordei cedo, fui pedalar e me senti uma criança, fiquei rindo à toa”, conta. “Eu quero é ver esse mundo, viajar e passear. Ainda não fiz nada disso”.
Para as mulheres Mcs, Cacau deixa um recado: “Um abraço para toda a massa funkeira e para toda a mulherada que está crescendo no movimento e fazendo ele ficar lindo. Vocês são maravilhosas. Que vocês continuem trazendo coisas lindas para todo nosso público”.
Um beijo da Mc Cacau, a primeira mulher do funk no Brasil.
Esse texto compõe a série Pioneiras do Funk br, que conta a história das mulheres que participaram da construção da cena no Brasil