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Em Paraisópolis, Forró da Priscila é pedaço do nordeste em SP
Priscila Prudêncio conta sobre o negócio que criou aos 18 anos de idade e, hoje, proporciona diversão para nordestinos que vivem na cidade de São Paulo.
Por Beatriz de Oliveira
12|01|2022
Alterado em 12|01|2022
Há 15 anos, os moradores de Paraisópolis, segunda maior favela da cidade de São Paulo, localizada na zona sul, tem como opção de divertimento o Forró da Priscila. Na casa de shows, às sextas-feiras e finais de semana, é possível curtir diferentes estilos de forró.
O gênero musical é peça fundamental na vida de Priscila Prudêncio, dona do empreendimento. “É a raiz da minha família, então eu vejo o forró como minha base”, diz.
Priscila conversou com o Nós, mulheres da periferia, por chamada de vídeo. No meio das perguntas e respostas, a empresária foi abordada por alguns funcionários pedindo orientação. Ela diz gostar de toda a correria.
“Quando a gente ama o que faz a gente não é empresária, a gente não é dono, a gente simplesmente é feliz”.
A proposta do Forró da Priscila é proporcionar acesso à cultura nordestina, o forró, para moradores de São Paulo que vieram dessa região do país. A cada semana, cerca de 1000 pessoas frequentam o local. O negócio é familiar. Entre os nove funcionários estão a esposa de Priscila, seus irmãos, pais e sobrinhas.
Priscila Prudêncio, seus pais e irmãos, que trabalham juntos.
©arquivo pessoal
Priscila é carioca, mas se considera nordestina. Com apenas dois meses de vida, foi com a família para a Paraíba. Mas também não passou muito tempo lá. Aos quatro anos de idade migrou para São Paulo. Dos seus 34 anos, 30 foram morando em Paraisópolis.
O Forró da Priscila começou ainda na adolescência, aos 18 anos de idade. No início era um bar, depois passou a oferecer música ao vivo e forró de rua. Com o tempo, o espaço ficou pequeno. Hoje os eventos acontecem em um local maior que suporta até 500 pessoas.
Priscila diz que quando tinha 18 anos, a família sofreu com uma escassez de emprego em São Paulo, o número de desempregados era muito alto. “Já vim de outros negócios com meus pais. Tínhamos uma barraca que vendia doces, salgados e bolo. Então, resolvi montar um barzinho, e, na frente, tinha música ao vivo e eu me interessei. Um tempo depois, esse local estava desocupado e eu resolvi locar”, lembra. “Foi quando começou a minha trajetória no forró”.
O espaço era bem pequeno e acabou virando um forró de rua mesmo. “Ser um forró de rua se tornou tradição, devido à falta de espaço dentro do local. Só fomos nos adequando e mudando o ambiente”, diz.
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A vida de empresária
Mesmo com a casa lotada e tão conhecida, Priscila diz ainda não se sentir como uma empresária. “Me perceber como empresária eu ainda não me vejo, não me enquadro. Acredito que o segredo do nosso sucesso é o atendimento. A gente atende bem para servir sempre”, comenta a responsável pela casa.
O último Censo no país, de 2010, mostra que naquela década cerca de 2,3 milhões chegaram a São Paulo, outros 1,8 milhão voltaram. Ao menos 500 mil nordestinos e nordestinas ficaram na cidade.
Nas palavras dela, dar sempre um “boa noite”, “seja bem-vindo”, ‘”fique à vontade” é importante para manter os clientes. Um dos segredos é fazer com que cada pessoa se sinta em casa, para sentir um pouco do Nordeste. “Respeitamos muito as raízes nordestinas e o ritmo, com bandas que tocam diferentes tipos de forró, desde o pé de serra até o forró moderno”, emenda.
Ela enxerga o trabalho que faz como uma maneira de trazer um pedaço do nordeste até a favela. “Essa é a minha preocupação, mostrar que o que eu me proponho a fazer é o que eles viviam em seu estado de raiz ”.
Com a chegada a pandemia de covid-19 , o Forró da Priscila também foi interrompido por alguns meses. Ela se diz muito prejudicada e que chegou a ouvir ‘ah, mas o metrô funciona e as casas de show não’. “Temos que pôr na cabeça que uma coisa é você vir para se divertir, outra coisa é você pegar um ônibus para trabalhar. Existem momentos que só nos resta respeitar”, era a resposta dela.
Priscila diz que foram momentos bem tristes e difíceis, que ela foi da alegria ao luto em pouco tempo. ”Não tem nem como explicar tudo que a gente viveu aqui, o que a comunidade viveu, todas as necessidades e os apertos. A gente respeitou o momento e o luto de pessoas que se foram de forma tão repentina. Foi o momento mais triste da minha vida nesses 34 anos”, comenta.
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