‘Demorei muito para enxergar beleza em mim’, conta Xan Ravelli
Vaidosa de corpo e alma, a empresária cria conteúdos sobre autoestima e apoio emocional para mulheres negras e mães
Por Mariana Oliveira
27|07|2022
Alterado em 03|08|2022
Com leveza na fala e um sorriso largo no rosto, Alexandra Ravelli, ou melhor, Xan Ravelli, é uma mulher preta, feminista, empresária, apresentadora de TV, esposa e mãe de um casal. Agora, aos 41 anos, espera a chegada de Eva, mais um “bebê vaidoso”, como ela mesma diz.
Ao se apresentar, busca utilizar estes adjetivos como meio de representar sua essência. “Gosto muito de falar porque é um traço importantíssimo para mim, para o meu desenvolvimento pessoal, profissional e a forma como trabalho”.
Xan usa as redes sociais para abordar temas como apoio emocional, autoconhecimento, autodesenvolvimento e beleza com propósito. Seu público principal são mulheres negras.
“Para nós, é uma luta fazer com que a próxima geração não passe tanto tempo procurando beleza em si próprio”.
Em sua opinião, essa abordagem feita por e para mulheres negras é rara. “É importante mulheres pretas se colocarem neste lugar, não só como empreendedoras, mas como empresárias, gestoras dos seus negócios”
Atuando como criadora de conteúdo para internet desde 2013, a empreitada não foi completamente planejada. Musicoterapeuta por formação, exerceu a profissão durante 10 anos, atendendo crianças em situação de vulnerabilidade e afastadas do convívio familiar.
O trabalho continuou mesmo após o nascimento de Jade, sua primogênita. Certo dia, após um atendimento que considerou o mais violento de sua carreira, enfrentou uma crise de pânico. “Desde então, precisei me reinventar, buscar outras coisas para fazer”.
Foi quando decidiu desistir da carreira, mesmo com todo o carinho pelo ofício. “Eu amava trabalhar com musicoterapia, amava o trabalho com minhas crianças. Foi muito doloroso deixar”.
Criadora de conteúdo, empresária, mãe e esposa, Xan é uma inspiração para mulheres que escolheram por constituir uma família, mas não querem abandonar seus próprios sonhos
©Arquivo Pessoal
“Até então, eu sabia o que iria fazer daqui a cinco anos. Sabia que casaria aos 34. Teria meu meu filho/minha filha aos 36. Faria um mestrado em Nova York. Mas, não é assim que as coisas acontecem”.
A criadora de conteúdo acreditava que após esse abandono não encontraria alternativas que a preenchessem da mesma forma. Porém, aos trinta anos, encontrou no ramo digital uma nova forma de trabalhar com o que gosta.
“Descobri ali uma forma de conversar com outras mulheres. De formar uma comunidade e promover trocas positivas para mim e para elas”.
Soul Vaidosa
Este novo modelo de trabalho foi sua válvula de escape e reencontro consigo. “Soul Vaidosa me resgatou e me trouxe para um lugar onde pensei que não conseguiria mais ocupar”. O trabalho iniciou ainda como hobby, por gostar de beleza, cabelo, maquiagem e sentir falta de mulheres negras produzindo esse tipo de conteúdo.
O que seria uma alternativa, se tornou sua marca. A palavra Soul, em tradução direta do inglês, significa ‘alma’ e faz alusão ao verbo em primeira pessoa do singular da língua portuguesa.
Ela e seu marido, Paulo Ravelli, costumam aparecer juntos nas redes sociais
©Arquivo Pessoal
Impulsionada por sua experiência com a terapia, o contato com as mulheres de sua comunidade em ascensão ganhou outra dimensão. “Perdi uma das coisas que sempre foi muito cara para mim: a essa habilidade de olhar para dentro”.
Vaidosa de corpo e alma, seu canal no YouTube foi o primeiro a unir os temas beleza, feminismo negro e bem estar.
Ela fez parte da primeira turma do Fundo Vozes Negras, desenvolvido pela própria plataforma. O programa, lançado em 2020, disponibiliza recursos para promoção e crescimento de criadores negros.
Além de sua marca, Xan é uma das apresentadoras do Trace Trends, programa de televisão transmitido nos canais Multishow e Globoplay. “Para mim, estar na TV é a realização de um sonho. A adoro estar lá. Faço com muito amor e orgulho”.
Como se fosse pouco trabalho, Xan e o marido têm mais uma empreitada a caminho. O casal está prestes a inaugurar um bar, o 50/25. Sobre a gestão deste novo empreendimento, destaca os desafios de ser uma mulher negra e mãe. “Ter um bar é um objetivo muito antigo. Para mim, é importante pensar nesse lugar como um espaço acolhedor para diversão de mulheres, principalmente as mães”.