A vida noturna da mulher da periferia

Para ela, os bares e baladas mais descolados da cidade ficam nos bairros mais nobres. No bairro dela, na periferia, há poucos espaços de lazer, sequer existem praças. Poucas mulheres como ela possuem carro ou querem pegar ônibus para ir até algum lugar onde possam se divertir. A locomoção já diminui as horas de lazer […]

Por Redação

14|01|2015

Alterado em 14|01|2015

mulher-que-anda-apenas-na-noite-44385727Para ela, os bares e baladas mais descolados da cidade ficam nos bairros mais nobres. No bairro dela, na periferia, há poucos espaços de lazer, sequer existem praças.
Poucas mulheres como ela possuem carro ou querem pegar ônibus para ir até algum lugar onde possam se divertir. A locomoção já diminui as horas de lazer que são poucas e curtas, entre o trabalho e o estudo. A solução que encontram é se reunir na rua, na frente de casa, ligar um aparelho de som ou o próprio celular e ouvir músicas lá mesmo, ou enquanto andam pelas ruas.
Tem dias que ela decide ir até os points dos bairros próximos usando o transporte público, que encerra as atividades por volta da meia noite e só voltam a circular por volta das cinco horas da manhã. Geralmente, sai para a balada acompanhada de no mínimo uma amiga. Ou marca de encontrar em um bairro próximo no meio do caminho.
Se a balada não estiver legal e decidir voltar para casa no meio da madrugada, ela vai gastar uma fortuna de táxi, isso se achar um táxi que aceite levá-la em casa. O jeito é esperar, aguentar o frio, a chuva, o sono até que os ônibus voltem a circular. E levar uma hora de viagem de volta, onde poderá descansar depois de uma noite de badalação.
Ela capricha no visual, mas, sem esquecer dos riscos que corre nas ruas, pensa e repensa desde o comprimento da roupa até o conforto do sapato, caso ela precise correr para pegar o ônibus, andar mais rápido desconfiada de um homem que a encara insistentemente, ou que já começou a proferir elogios, que nos ouvidos dela entram como ameaças.
Quando conhece um cara na balada e ele pergunta onde ela mora, ela diz o nome do bairro mais conhecido da região. Se ele disser que conhece a região, ela pode ser mais específica e dizer o nome exato do bairro.
Se ele se oferecer para dar uma carona, ela fica pensando na reação do rapaz diante da distância percorrida, ou das condições do bairro, da rua esburacada, do fato dela ter dito outro nome antes do bairro exato por medo de ser discrimanalizada, como algumas pessoas que ainda julgam os livros pelas capas… “Será que ele vai querer me ver de novo? Que vai me ligar?”. Na dúvida, ela recusa a carona e espera o ônibus enquanto um novo dia nasce.