Conheça a escola em Pernambuco eleita umas das dez melhores do mundo

Projeto de alfabetização de mães de alunos no agreste pernambucano rendeu prêmio World’s Best School na categoria adversidades.

Por Redação

10|11|2022

Alterado em 10|11|2022

Por Alice de Sousa*

O perfil de Elineide Alvez, 39, na rede social Instagram não se propõe a ser um perfil de trabalho, mas o trabalho se confunde com sua vida pessoal ao deslizar as publicações. As imagens mostram uma Elineide presente na escola e na família dos alunos da Escola Evandro Ferreira Dos Santos, localizada em Cabrobó, Pernambuco e eleita em outubro uma das dez melhores escolas do mundo.

Cabrobó é um município de Pernambuco a 531 km do Recife e está localizado no Sertão do São Francisco, semiárido quente. Com 35 mil habitantes, o território da cidade apresenta o maior risco de desertificação do país. A escola é referência em educação fundamental e fica localizada no distrito de Santa Rita, em Cabrobó. Ela concorreu com duas escolas africanas como finalistas no prêmio.

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Elineide com as participantes do projeto.

©arquivo pessoal

Elineide é professora efetiva da rede municipal e da rede estadual de Pernambuco e desde março de 2021, atuou como gestora escolar da Escola Evandro Ferreira. De acordo com a professora, o projeto de alfabetização surgiu pela necessidade de ensinar as mães, para que elas ajudassem a ensinar aos filhos. Durante a pandemia manteve aula remota todo o ano letivo e distribuiu o kit merenda e tarefas para os alunos.

“Durante o ano de 2021, quando comecei como gestora, observei que muitas mães, quando vinham à escola, para retirarem materiais impressos de estudo dos filhos ou a merenda escolar, não assinavam o nome. Necessitavam colocar a digital, por meio do dedo carimbado”, explica Elineide sobre como percebeu essa necessidade.

No início, a adesão ao projeto “Distantes sim, desconectados não” não foi expressiva. Algumas mães não aceitavam o convite por falta de incentivo da família, por falta de apoio do marido ou porque a família não acreditava que essa mudança seria possível. Nessas ocasiões, a escola realizava uma busca ativa, conversando com a família, sempre tentando fazer essa ponte entre comunidade e escola.

Nos casos mais extremos, conta Elineide, quando o marido não permitia a participação da mulher ou quando ela mesma mostrava-se resistente, a equipe tentava uma aproximação para estreitar os laços de confiança. “Passando mensagens faladas, realizando ligações telefônicas (já que essas mulheres não conseguiam ler as mensagens escritas no WhatsApp). Os convites dos eventos escolares também passaram a ser falados, para atender essas mulheres. Incluímos essas mulheres não só no projeto, mas também nas atividades e comunicados diários da escola”, destaca Elineide sobre os métodos para integração da família com a escola.

Vale ressaltar que o projeto foi desenvolvido junto com a escola, que foi reformada e passou a atender em período integral. No ano de 2021, 10 mulheres se formaram no projeto. A expectativa da gestora é que o número dobre em 2022. O prêmio World’s Best School é Organizado pela T4 Education, em parceria com a Fundação Lemann, Fundação Templeton World Charity, Accenture, American Express e Yayasan Hasanah, a premiação é dividida em cinco categorias: inovação, colaboração comunitária, ação ambiental, superação da adversidade e apoio a vidas saudáveis.,

O papel das mães

A dona de casa Maria Creuza Cavalcante, 49 anos, é mãe de Juliano Cavalcante da Silva, 11 anos. Aluno da 6ª série atualmente na escola Evandro Ferreira. Ela soube do projeto quando foi convidada pela própria Elineide a participar durante uma reunião que aconteceu na escola.

“Quando recebi esse convite não pensei duas vezes e eu sabia que participando do projeto ia ficar perto do meu filho. Sem falar no aprendizado que a gente tá tendo, não só aprender a ler e escrever, mas ela ensina de tudo um pouco, sobre educação, amor, respeito, união”, explica Creuza, que já havia participado de outro projeto com foco na integração da família na escola chamado Mãe Coruja.

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Creuza e seu filho.

©arquivo pessoal

Creuza, que não teve a oportunidade de estudar quando tinha a idade do filho, define o projeto como “uma fisioterapia para a cabeça”. “Eu estudava um mês ou dois e meu pai me mandava parar porque na visão dele não dava futuro, e aí eu tinha que ir pro roçado ajudar a família”, contextualiza a infância. De acordo com Creuza, o projeto tem ajudado bastante nas duas formações. “Às vezes não consigo fazer a minha e ele me ensina, às vezes ele não consegue fazer a dele e eu ensino a ela. Não tem preço!”, declara.

Em determinada altura, Creuza confessa um sonho: desfilar pela escola, que conseguiu realizar ao lado do filho no aniversário do município. No entanto, ela tem uma reclamação sobre o projeto. “Queria muito que fosse todos os dias, mas é só duas vezes na semana”, desabafa.


Alice Sousa é cearense, formada em comunicação social pela Universidade Federal do Ceará, com pós graduação em ESG pelo Ibmec em andamento. Repórter freelancer que escreve sobre diversidade, regionalismo e direitos humanos, cocriadora do podcast Kilombolas.


Esta matéria é uma das selecionadas pela bolsa de reportagens “Eleições e primeira infância” do Nós, mulheres da periferia, apoiada pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal.