Como anda a saúde mental das trabalhadoras brasileiras?

Uma enfermeira, uma professora, uma auxiliar de faturamento e uma manicure falam sobre como tem cuidado da saúde mental entrando no segundo ano de pandemia no Brasil.

Por Redação

22|04|2021

Alterado em 22|04|2021

Conteúdo em parceria com Sesc São Paulo

Regina Candido, 47, é enfermeira, trabalha atendendo pacientes com Covid-19 diz que as únicas coisas que ainda consegue fazer por sua saúde mental são assistir televisão ou conversar com a filha e a irmã. “Com a minha rotina, fica difícil fazer alguma coisa”, diz.

O medo de Regina também pode ser sentido nas falas da auxiliar de faturamento Rosangela da Silva Campos, 39. “Minha maior preocupação era não pegar Covid-19 no começo, pois se tratava de uma doença nova, sobre a qual pouco se sabia”, conta.

Rosangela decidiu deixar o trabalho para investir na carreira de assistente social, já que falta apenas um semestre para a conclusão da graduação. Nesse tempo, aprendeu a meditar para lidar melhor com a ansiedade e os medos. “Também passei a me exercitar em casa e fazer caminhadas sozinha, em horários em que a rua tem menos movimento”, conta

Daniele Lima, 38, é professora e atua na rede pública municipal do Campo Limpo, zona sul de São Paulo. Sua maior preocupação nas atividades remotas é cuidar da saúde mental de seus alunos. Depois de ouvir sobre sua rotina de trabalho e desafios, o Nós, mulheres da periferia perguntou: Mas e sua própria saúde mental? “Tenho tentado cuidar da minha saúde mental de várias formas, tentando de tudo um pouco. Em um primeiro momento, fui lendo sobre saúde mental e recorrendo aos profissionais da área na busca de orientação e auxílio”, contou.

No meio da pressão em manter o mínimo funcionando, a manicure Ana Paula de Souza, de Americanópolis, zona sul de São Paulo, deixou de lado aquilo que a ajudava a manter a saúde mental. Meditar, ler, participar de reuniões religiosas online, e caminhar eram atividades que, até o meio de 2020, faziam parte da sua agenda. Hoje, não vê mais espaço para nenhuma delas.

“Não tenho tempo. Quando posso, saio para andar, só que também não tá podendo, então eu me sinto sem saída”, desabafa. A profissional se sente pressionada psicologicamente, porque além do medo, tem visto aumentar o número de pessoas passando necessidade. “Isso está próximo da gente, mas não tá dando pra ajudar porque também estamos em uma situação difícil”.

Pandemia de saúde mental

Em junho de 2020, um estudo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) ouvindo 1.460 pessoas de todo o país, apontou um aumento de mais de 90% nos casos de depressão.

Se o quadro já era preocupante, com a segunda onda da doença, isso tem se agravado ainda mais. É o que afirma também a psicóloga Ana Carolina Barros Silva, 30, coordenadora geral da Casa de Marias, que realiza atendimento psicoterapêutico focado em mulheres negras e periféricas.

A psicóloga ressalta que a procura por atendimento subiu não só na Casa de Marias, mas também em outros espaços que prestam o serviço. Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria, a demanda aumentou 82% em consultórios particulares de todo o país. O número de atendimentos nos 95 endereços dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) de São Paulo passou de 24 mil em setembro de 2019, para 52 mil em outubro de 2020.

Conteúdo produzido em parceria com o Sesc São Paulo. Clique aqui para ler o texto completo.


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