Marcha Nacional das Mulheres Negras acontece em Brasília dia 18/11
“Somos 49 milhões de mulheres negras, isto é, 25% da população brasileira. Vivenciamos a face mais perversa do racismo e do sexismo por sermos negras e mulheres. No decurso diário de nossas vidas, a forjada superioridade do componente racial branco, do patriarcado e do sexismo, que fundamenta e dinamiza um sistema de opressões que impõe, […]
Por Jéssica Moreira
16|11|2015
Alterado em 16|11|2015
“Somos 49 milhões de mulheres negras, isto é, 25% da população brasileira. Vivenciamos a face mais perversa do racismo e do sexismo por sermos negras e mulheres. No decurso diário de nossas vidas, a forjada superioridade do componente racial branco, do patriarcado e do sexismo, que fundamenta e dinamiza um sistema de opressões que impõe, a cada mulher negra, a luta pela própria sobrevivência e de sua comunidade. Enfrentamos todas as injustiças e negações de nossa existência, enquanto reivindicamos inclusão a cada momento em que a nossa exclusão ganha nova”.
O trecho acima faz parte do Manifesto da Marcha Nacional das Mulheres Negras e Contra o Racismo, a Violência e Pelo Bem Viver, que acontece na próxima quarta (18), em Brasília (DF), reunindo mulheres negras de norte a sul do Brasil.
Por que uma Marcha das Mulheres Negras?
As razões são múltiplas, já que as mulheres negras ainda trazem as marcas históricas de um racismo encoberto pela “miscigenação brasileira”, mas dados do último Mapa da Violência 2015, divulgado no dia 9 de novembro, mostra como o racismo ainda se faz presente, principalmente na vida das negras. O número de mulheres negras mortas cresceu 54% em 10 anos (de 2003 a 2013), em contrapartida o número de mulheres brancas assassinadas caiu 10% no mesmo período.
Mesmo sendo em mais de 49 milhões no Brasil, as mulheres negras ainda continuam recebendo os menores salários e são as que mais têm dificuldade para entrar no mundo do trabalho; são as negras que sustentam o grupo familiar desempenhando tarefas informais, que as levam a trabalhar em duplas e triplas jornadas de trabalho, entre outros.
“O fortalecimento da identidade negra tem sido prejudicado ao longo dos séculos pela construção negativa da imagem da pessoa negra, especialmente da mulher negra, desde a estética (cabelo, corpo, etc.) até ao papel social desenvolvido pelas mulheres negras”, aponta texto do site oficial da Marcha.
Construção coletiva
A Marcha vem sendo idealizada desde novembro de 2011, quando ocorreu o Encontro Paralelo da Sociedade Civil para o Afro XXI: Encontro Ibero Americano do Ano dos Afrodescendentes, em Salvador (BA). De lá pra cá, milhares de mulheres negras em todos os estados vêm se mobilizando para o encontro. Foram organizadas coordenações de mobilização em cada uma das capitais dos estados brasileiros. Segundo o site da Marcha, o processo de mobilização incluiu diversas manifestações relacionadas à cultura negra.
Mãe na organização da marcha das Mulheres Negras/Semayat Oliveira
Em São Paulo, não foi diferente. O Nós, mulheres da periferia esteve presente na primeira Plenária Estadual de Formação e Organização, que ocorreu na capital paulista, em janeiro deste ano, reunindo cerca de 100 mulheres pretas. E o que vimos por lá foi um ambiente de troca e busca pela emancipação. “Não faltaram crianças de colo sendo amamentadas ou as maiores correndo pelo salão. Como de costume, as mulheres levaram seus filhos e filhas para a luta, sem deixar de resistir. Com o microfone aberto, representantes de diferentes movimentos e regiões da capital e grande São Paulo compartilharam suas percepções, dúvidas ou reivindicações”, apontou Semayat Oliveira, representante do Nós no encontro.
“Não é o homem que manda na minha vida, sou eu que decido. Não existe juiz, não existe nada. Eu decido quantos filhos vou parir, com quantos homens vou dormir, sou eu que decido. Vamos ser livres!”, disse dona Rafaelita Maria de Souza, 65, fez do seu direito a fala um momento de euforia e emoção entre as participantes do encontro de janeiro. “Livre, livre, livre para amar. Vamos ser assim, vou ser sempre assim, senhora de minhas verdades e dona de mim”, entoou, dando uma amostra do processo de empoderamento de todas aquelas que estarão na Marcha dia 18.
O Comitê impulsionador do evento é formado por diversas organizações, como Agentes de Pastoral Negros (APNs),
Articulação Nacional de Mulheres Negras (AMNB), Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), Coordenação Nacional de Entidades Negras (CONEN), Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (FENATRAD), Fórum Nacional de Mulheres Negras, Movimento Negro Unificado (MNU), União de Negras e Negros pela Igualdade (UNEGRO) e apoio do Fundo Brasil.
Fique ligada!
Marcha Nacional das Mulheres Negras
Onde: Brasília (DF)
Para mais informações acesse o site e página da Marcha no Facebook!