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Vacinação infantil: as mães e a expectativa para imunizar os filhos

Mães de diferentes estados falam sobre a expectativa de vacinar seus filhos. Confira!

Por Beatriz de Oliveira

27|01|2022

Alterado em 27|01|2022

No dia 16 de dezembro de 2021, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou a vacinação de crianças de cinco a 11 anos de idade. O primeiro lote das vacinas pediátricas da farmacêutica Pfizer chegou ao país quase um mês depois, na madrugada de 13 de janeiro de 2022. No dia seguinte, Davi Seremramiwe, indígena da etnia Xavante, de oito anos, foi a primeira criança a receber a vacina contra Covid-19 no país.

O Nós, mulheres da periferia conversou com mães de diferentes estados para saber como receberam essas notícias e sobre a expectativa de vacinar seus filhos. A alegria pela chegada da vacina se mistura ao sentimento de medo pelo estágio atual da pandemia, com aumento de casos pela variante Ômicron. O luto também é sensação presente, pela perda de familiares ao longo da pandemia.

Segundo pesquisa do Datafolha, 79% dos brasileiros apoiam a vacinação em crianças. O percentual é maior entre as mulheres, 83% das ouvidas concordam com a imunização. Enquanto isso, outro levantamento do mesmo instituto mostrou que 58% dos brasileiros consideram que o presidente da República Jair Bolsonaro mais atrapalha do que ajuda na vacinação infantil. O chefe do Executivo já se declarou contra o tema. A Anvisa emitiu pareceres atestando a segurança da vacina da Pfizer para crianças de cinco a 11 anos.

O calendário de vacinação segue a ordem decrescente de idade e o intervalo entre a primeira e a segunda dose será de oito semanas. Crianças indígenas e quilombolas, com deficiência e com comorbidades têm prioridade para receber o imunizante.

Confira o relato de cinco mães sobre a vacinação infantil

No Rio Grande do Sul, Marlise sofre pelos parentes que se foram e aguarda pela vacinação da filha

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Marlise Padilha e seus filhos Hertore e Helena.

©arquivo pessoal

Marlise Padilha e seus filhos, Hertore, de 15 anos, e Helena, de 11, vivem em um apartamento no bairro Restinga, em Porto Alegre (RS). Na conversa ao telefone, ela fala com indignação da morte de familiares por Covid-19, uma delas de um tio que era caminhoneiro, “que para nós é como se fosse o Hulk, era o tio mais forte”.

É por esse luto e pelo medo do avanço da nova variante da doença que a mãe aguarda pela vacinação de Helena. “Eu estava bem ansiosa, querendo muito”, diz Marlise, que acredita que isso pode trazer um pouco de tranquilidade à família. Ela e o filho mais velho já tomaram as duas doses do imunizante.

Apesar disso, mãe e filha carregam dúvidas sobre a origem da vacina e se há efeitos a longo prazo. “Ela [Helena] está com receio de tomar a vacina, porque a gente acaba vendo muita coisa na TV, Facebook, essas mídias acabam trazendo tantas dúvidas que a gente acaba sem saber o que fazer”, diz.

No Ceará, Cícera quer vacinar o filho, mas tem receio de reação

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Cícera Gomes e seu filho Attila Lucas.

©arquivo pessoal

No primeiro ano de pandemia, Cícera Gomes não saía de casa nem para ir ao supermercado, fazia as compras por WhatsApp. Já no segundo, ela e a família começaram a voltar a fazer algumas atividades, dentro do possível. “Mas ainda muito receosa, meu filho frequenta a escola”, diz a mãe, “qualquer gripezinha a gente já fica com medo”. Cícera e o filho Attila Lucas, de três anos, vivem em Jucás (CE).

Ainda não está liberada a vacinação para a faixa etária de Attila, e ela espera que esse momento chegue logo. “Eu acredito muito na questão da vacinação”, afirma. Apesar disso, ficou receosa depois de ver um vídeo da vereadora de Fortaleza Priscila Costa (PSC) dizendo que a vacina pode causar miocardite – inflamação nas células do músculo do coração – e que a responsabilidade seria exclusivamente dos pais. Segundo verificação do Projeto Comprova, os casos de miocardite a partir da aplicação do imunizante são raros e se manifestam de forma leve.

No Rio de Janeiro, Maíra organizou manifestação pela vacinação infantil

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Filhos de Maíra tomaram a primeira dose da vacina no dia 18 de janeiro.

©arquivo pessoal

Em agosto de 2021, Maíra Arêas e seus dois filhos, Gabriel, de 11 anos e Carlos Eduardo, de nove, foram infectados por Covid-19. Ela conta que viveu um pesadelo: “É um desespero. Como mãe solo de duas crianças eu não tinha como ir numa emergência sozinha porque eu não tinha com quem deixá-los”. Ela resume a sensação desses dois anos de pandemia: “No início de uma pandemia com medo de perder os nossos pais e agora o medo de perder os nossos filhos”.

Em dezembro do ano passado, ainda sem previsão para o início de vacinação em crianças, Maíra e outras mães de alunos de uma escola pública do Rio de Janeiro (RJ) criaram o MoVaC (Movimento pela Vacina para Crianças). Após conversar com outros pais, alunos, professores, entidades e sindicatos, realizaram no dia 5 de janeiro uma manifestação em defesa da vacinação de crianças. Nesse mesmo dia, quando os manifestantes já estavam se dispersando, veio a notícia de que a vacinação na cidade começaria no dia 17 de janeiro.

A mãe conta que, pelas mortes que já haviam acontecido na família em razão da Covid-19, o que ela e os filhos mais desejavam era receber as doses do imunizante. “Quando eu contei para eles, ficaram extremamente eufóricos. O meu filho mais novo falou uma frase muito engraçada: ‘mãe, agora eu já posso virar jacaré, porque agora eu posso comer o Bolsonaro” ‘.

Em São Paulo, Maria Luiza vai se vacinar fantasiada de Mulher-Maravilha

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Andreia Lima e suas filhas Maria Luiza e Maria Cecília.

©arquivo pessoal

Na zona leste da cidade de São Paulo (SP), Andreia Lima recebeu com muito entusiasmo e alegria a notícia sobre liberação de vacinação para crianças. Ela é mãe da Maria Luiza, de cinco anos, e da Maria Cecília, que tem um mês de vida.

Maria Luiza acompanhou a mãe quando ela se vacinou, e já sabe como vai se vestir quando for a sua vez de tomar o imunizante: vai se fantasiar de Mulher-Maravilha. “Aqui em casa conversamos muito com a Maria Luiza sobre a vacinação desde sempre, ela presta bastante atenção nas reportagens da TV sobre a vacina em crianças, inclusive esse final de semana quando começou já as crianças comorbidade aqui em São Paulo”.

Com o surto de gripe H3N2 em meio à pandemia de Covid-19, Andreia teme pela sua filha recém-nascida. “Tenho uma bebê de 50 dias em casa que não tem nenhuma vacina e nem pode tomar a vacina de gripe ainda”.

Em Minas Gerais, viver na pandemia “tem sido extremamente desafiador” para Poliana

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Poliana Martins e seus filhos Sophia e João.

©arquivo pessoal

O filho de Poliana Martins, João, completa cinco anos no próximo mês e sonha com o dia de sua vacinação. “Ele vai fazer cinco anos e dois anos foram dentro de uma pandemia”, comenta. Ela é mãe também da já vacinada Sophia, de 12 anos.

Viver nesses anos pandêmicos tem sido “extremamente desafiador” para a família. João é autista e em razão disso tem dificuldade de permanecer de máscara e costuma colocar coisas na boca. Além disso, tem asma de difícil controle (ADC) e já teve episódios de síndrome respiratória aguda grave (SRAG). “Na primeira semana de pandemia, estava no oxigênio, em razão de gripe”, conta a mãe, “e aí veio a Covid e a gente teve que se isolar completamente”.

Em razão disso, João não voltou para as aulas presenciais, mas está com saudades dos amigos e, assim como a mãe, ansioso pela vacinação. “Ele está louco para ser vacinado, pra ir pra praia de novo, que é a paixão dele.”, diz Poliana.


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Reportagem publicada originalmente no portal Expresso Na Perifa – Estadão.