Último episódio de ‘Nossa voz ecoa’ fala da solidão da mulher negra
A solidão da mulher negra e a importância do feminismo negro são os temas abordados no décimo e último episódio da websérie “Nossa voz ecoa”, que estará disponível no Youtube a partir do próximo dia 24.
Por Lívia Lima
20|01|2018
Alterado em 20|01|2018
A solidão da mulher negra e a importância do feminismo negro são os temas abordados no décimo e último episódio da websérie “Nossa voz ecoa”, que estará disponível no Youtube a partir do próximo dia 24. Um dos destaques é o depoimento da cantora Liniker à rapper Preta-Rara, apresentadora da websérie.
Liniker admite que, apesar da fama, se sente só e é vítima diária de preconceito. “Nossa voz ecoa” foi lançado na internet em 12 de setembro e, desde então, quinzenalmente, novos episódios foram divulgados, tendo como proposta a discussão de questões relacionadas ao movimento negro, feminismo e gordofobia, além da cultura hip hop.
O projeto foi possível graças ao financiamento do Programa de Apoio à Cultura (PROAC), da Secretaria Estadual de Cultura. O programa tem direção, roteiro e edição de Cibele Appes, foi idealizado por Preta-Rara e Talita Fernandes e é coproduzido pela Audácia Produções, Fuzuê Filmes e Zulu Produtora.
Saiba mais: Websérie protagonizada pela rapper Preta Rara vai ao ar em setembro
Joyce Fernandes, a Preta Rara.
©Divulgação
As entrevistas são conduzidas por Joyce Fernandes, conhecida como Preta-Rara, rapper, militante do feminismo negro, ex-empregada doméstica e professora de História. “Com uma população cuja maioria é formada por negros e pardos não podemos ter um número tão pequeno de negros nos principais canais de comunicação e entretenimento. Nossa websérie permite que o negro seja protagonista de sua própria história”, afirma Preta-Rara.
Filha de Dandara
Neste último episódio, intitulado “Filha de Dandara”, a websérie discorre sobre a validade do feminismo interseccional, considerando as opressões cotidianas da mulher negra, que resultam em sua solidão afetiva e institucional.
Confira os episódios anteriores no link do canal.
A filósofa Djamila Ribeiro também participa do programa e considera que a interseccionalidade no feminismo é necessária porque a universalização do movimento não dá conta das discriminações de raça, classe e gênero sofridas pelas mulheres negras.
A atriz e diretora teatral Lucélia Sérgio, por sua vez, enfatiza a solidão vivenciada pelas mulheres negras. “Não é só estar ao lado de um homem ou de uma mulher, essa solidão está relacionada a uma cadeia de afetividades. Por isso, a mulher negra aprendeu a viver sozinha”.
Liniker concorda com essa percepção e se confessa solitária. “Sempre me senti uma menina e me sinto à vontade como sou. O complicado é a afetividade e isso me deixa chateada. A gente tem a esperança diária de encontrar alguém, mas não acontece. As pessoas acham que quem tem visibilidade, tem amor, mas não é assim”.
A cantora contou que em seus shows costuma ver as pessoas se beijarem, se abraçarem e aí percebe mais claramente sua solidão. “Tenho vontade de chorar, porque depois sei que vou chegar ao hotel e não ter ninguém”.
Cantora Liniker participa da websérie
©Divulgação
A fama também não evitou o preconceito racial e sexual, segundo Liniker. “O fato de estar na mídia, de as pessoas me conhecerem, me diferencia das meninas trans que estão nas ruas, mas a violência é a mesma. Também me sinto desrespeitada, objetificada, perseguida”.
Apesar desse cenário desfavorável, Liniker reafirma suas origens. “As mulheres pretas são a base de tudo o que eu sou, de onde eu vim, minha raiz. Eu sou uma mulher preta, meu berço é preto e eu amo fazer parte disso”.