Reforma do Imposto de Renda: 5 mudanças que podem impactar o seu bolso

De acordo com o governo, as mudanças pretendem corrigir distorções antigas e tornar o sistema mais justo, para que quem tem menos renda pague menos imposto — e quem tem mais, contribua mais

Por Amanda Stabile

09|10|2025

Alterado em 09|10|2025

A Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei nº 1087/25 que muda as regras do Imposto de Renda. A proposta, que ainda precisa passar pelo Senado, promete aliviar o peso do imposto para quem ganha até R$ 5 mil por mês — tanto quem trabalha com carteira assinada quanto quem tem outras formas de renda.

Se for aprovada, as novas regras devem começar a valer em 2026, ano de eleição presidencial. O governo diz que a ideia é corrigir distorções antigas e tornar o sistema mais justo, para que quem ganha menos pague menos imposto e quem ganha mais, contribua mais.

Porém, organizações como o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) e a Oxfam Brasil afirmam que o projeto ainda é um primeiro passo tímido. Elas lembram que os mais pobres já não pagam imposto de renda e defendem uma reforma mais ampla — que reduza os tributos sobre o consumo (como os que pesam na comida, na luz e no transporte) e aumente a cobrança sobre grandes fortunas e lucros.

A proposta em tramitação deve ser encarada como um ponto de partida, um chão sobre o qual se constrói um sistema mais justo, e não como um teto que limita e encerra o debate.

Inesc e Oxfam Brasil em nota conjunta

Economistas também chamam atenção para o fato de que, no Brasil, quem ganha mais de R$ 6 mil por mês já está entre os 10% mais ricos da população. Ou seja, a chamada classe média é a principal beneficiada pela nova tabela — o grupo que sente o peso do imposto no contracheque, mas que também não tem os privilégios fiscais de quem vive de lucros e investimentos.

A seguir, veja as cinco principais mudanças que podem afetar o seu bolso — e o que cada uma delas significa na prática.

1

Isenção para quem ganha até R$ 5 mil

A principal mudança é a ampliação da faixa de isenção — ou seja, o limite de renda até o qual o trabalhador não precisa pagar ou declarar Imposto de Renda. Hoje, quem recebe até R$ 3.036 por mês está livre da cobrança. Com a nova regra, esse teto sobe para R$ 5 mil.

Na prática, isso significa que mais pessoas terão o salário integral, sem o desconto automático de Imposto de Renda na folha de pagamento de quem trabalha com carteira assinada (CLT). Além disso, quem estiver nessa nova faixa de isenção também ficará livre da obrigação de declarar o imposto no ano seguinte.

Um trabalhador que ganha R$ 5 mil, por exemplo, economizaria cerca de R$ 313 por mês — o equivalente a R$ 4 mil por ano, quase um 13º salário extra. A medida pode beneficiar cerca de 10 milhões de brasileiros já em 2026.

2

Desconto gradual para quem ganha até R$ 7,3 mil

Mesmo quem ganha um pouco acima da nova faixa de isenção — entre R$ 5 mil e R$ 7.350 por mês — também vai sentir algum alívio no bolso. Isso acontece porque o governo criou um modelo de desconto gradual, que reduz o valor do imposto aos poucos, conforme o salário aumenta.

A ideia é evitar que uma pessoa que ganhe R$ 5.001, por exemplo, pague muito mais imposto do que quem ganha R$ 5 mil e está isento. Na prática, funciona da seguinte forma:

  • Quem ganha R$ 6 mil por mês vai pagar menos imposto e economizar cerca de R$ 179 por mês;
  • Quem ganha R$ 7 mil terá uma economia menor, de cerca de R$ 46 por mês;
  • Acima de R$ 7.350 mensais, o modelo volta ao padrão atual — ou seja, não há mudança na cobrança.

3

Mais imposto para os mais ricos

Para compensar a perda de arrecadação, o governo vai cobrar mais de quem tem renda elevada. A partir de 2027, quem ganhar mais de R$ 600 mil por ano (ou R$ 50 mil por mês) pagará um imposto mínimo de 10%. Além disso, lucros e dividendos que ultrapassarem esse valor também serão tributados diretamente na fonte — ou seja, o imposto será descontado automaticamente antes do dinheiro cair na conta.

Hoje, muitos brasileiros com altos rendimentos conseguem pagar proporcionalmente menos imposto do que quem ganha menos, por causa de brechas e isenções sobre lucros e investimentos. A ideia é equilibrar o sistema, fazendo com que os mais ricos  contribuam mais — e ajudando a equilibrar as contas públicas sem pesar tanto no bolso da classe média.

4

Atualização da tabela do IR: fim do congelamento

A tabela do Imposto de Renda está sem reajuste desde 2014. Isso significa que, mesmo com a inflação subindo, os limites de isenção e as faixas de cobrança ficaram parados. Com isso, muitos trabalhadores que antes não pagavam IR passaram a pagar, mesmo sem ter ficado mais ricos.

A proposta aprovada prevê que o governo envie ao Congresso, dentro de um ano, um projeto para criar uma política permanente de atualização da tabela, acompanhando a inflação. O objetivo é evitar novos congelamentos  e proteger os salários mais baixos.

5

Apoio financeiro a estados e municípios

Com menos gente pagando IR, a arrecadação da União pode cair. E isso afeta também os estados e municípios, que recebem parte desses recursos para manter serviços públicos como saúde, educação e segurança. Para evitar prejuízos, o projeto prevê que o governo federal faça repasses trimestrais aos estados e municípios, compensando possíveis perdas. Assim, mesmo com a mudança na cobrança do IR, os serviços locais não devem ser afetados.