Preta e brasileira, Thaiany já é pioneira na imunologia de Harvard

Conheça Thaiany, a cientista negra que representa o Brasil no pós-doutorado de imunologia em Harvard

26|09|2024

- Alterado em 26|09|2024

Por Victória Dandara

Angela Davis já nos ensinou que “quando uma mulher negra se movimenta, toda a sociedade se movimenta com ela”. E é isso que Thaiany Goulart de Souza e Silva nos mostra. A cientista de 30 anos nascida em Alfenas, interior de Minas Gerais, hoje cursa o programa de pós-doutorado em Imunologia na Universidade de Harvard.

Thaiany é a primeira mulher da família a fazer um curso superior. Sua mãe, mesmo sem ter podido concluir a educação formal, sempre fez questão de que a filha buscasse uma boa formação acadêmica. “Minha mãe sempre me aconselhou a estudar e me proporcionou o suporte que eu precisava e que ela poderia me oferecer pra que isso acontecesse.”

Apesar do sonho de ser professora, ela acabou se graduando em nutrição pela Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL). Durante a faculdade, Thaiany se apaixonou pela pesquisa, participando de programas de extensão, monitoria, iniciação científica e o PET (Programa de Educação Tutorial).

Depois da graduação, engatou no mestrado em Ciências Biológicas, também pela UNIFAL, onde trabalhou com modelo experimental da doença de Chagas, avaliando a possibilidade de reposicionar fármacos já usados na clínica para outras doenças, como potenciais agentes terapêuticos na doença de Chagas. 

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© Arquivo Pessoal

© Arquivo Pessoal

Já no doutorado em Ciências pelo programa de pós-graduação em Biologia Celular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sua pesquisa buscou identificar marcadores biológicos de progressão da doença. Thaiany chama a atenção para a importância das políticas de permanência em sua trajetória:

Essa jornada da graduação ao doutorado só foi possível graças ao apoio da minha família (sou a primeira mulher da família a cursar o nível superior), amigos, mentores que me inspiram e programas e iniciativas governamentais de apoio à ciência/educação (SISU, bolsas de estudo durante a graduação, mestrado e doutorado).

Thaiany Silva

Em julho de 2023, Thaiany foi contemplada com um ‘Awards’ para participar do curso de Imunologia Avançada oferecido pela American Association of Immunologists em Boston. Lá, a cientista brasileira teve contato com pesquisadores do mundo todo, inclusive seu atual “PI (Principal Investigator)”, que supervisiona seu trabalho de pós-doutorado. Logo depois do curso, de volta ao Brasil, ela realizou o processo seletivo para o programa na Harvard Medical School e foi aprovada. Em sua nova pesquisa, Thaiany é a única brasileira do grupo que investiga o efeito de um medicamento no metabolismo ósseo sobre células do sistema imunológico e o potencial efeito adjuvante.

“Esses cinco meses realizando meu sonho de morar fora do país e trabalhar com pesquisa têm sido uma experiência enriquecedora. O laboratório é composto por pessoas de diferentes locais do mundo, então, além do aprendizado enquanto cientista, tem sido enriquecedor conhecer e dialogar com diferentes culturas. Futuramente me vejo como professora e pesquisadora no Brasil, e tenho trabalhado para realizar esse sonho.”

Para nós, Thaiany é um orgulho nacional e mostra como mulheres negras e de periferia contribuem imensamente para a pesquisa internacional. Com certeza, outras de nós chegam aos laboratórios de imunologia de Harvard pois se sentem representadas pela nossa cientista.

Victória Dandara Victória Dandara é travesti, cria da zona leste de São Paulo (SP), pesquisadora em direitos humanos, advogada transfeminista e filha de Oyá. Foi uma das primeiras travestis a se graduar em direito na USP e hoje luta não só pela inclusão da população trans e travesti, mas por uma emancipação coletiva a partir da periferia e da favela.

Os artigos publicados pelas colunistas são de responsabilidade exclusiva das autoras e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Nós, mulheres da periferia.

Larissa Larc é jornalista e autora dos livros "Tálamo" e "Vem Cá: Vamos Conversar Sobre a Saúde Sexual de Lésbicas e Bissexuais". Colaborou com reportagens para Yahoo, Nova Escola, Agência Mural de Jornalismo das Periferias e Ponte Jornalismo.

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