Grupo de apoio discute males do consumo excessivo de pornografia

Encontro para homens discute pornografia e masculinidades

Grupo de discussão que tem por objetivo conscientizar homens sobre machismo e violência contra a mulher tratará sobre os prejuízos da pornografia para todos os gêneros

Por Sâmia Teixeira

08|12|2020

Alterado em 08|12|2020

O Fórum de Gêneros e Masculinidades da Costa da Mata Atlântica e o Programa “E Agora José?“, de São Vicente, realizarão, no dia 10 de dezembro, um encontro online para homens para tratar a temática: Sexualidades, Pornografia e Masculinidades.

A atividade faz parte também da Campanha Laço Branco, que ocorre todo mês de dezembro como ação de combate à violência contra as mulheres e sobre o papel dos homens nesta luta.

Pornografia x Sexo Real

A psicóloga e sexóloga Erika de Paula explica que o consumo de conteúdos de pornografia para homens estimula uma perigosa tendência ao vício que o desconecta do sexo real.

Ela conta que “os efeitos cerebrais de recompensa, no sistema límbico, com o processo neuroquímicos que a pornografia causa, viciam e acarretam desde transtornos sexuais, como disfunção erétil, ejaculação precoce ou retrógrada, até disformias de imagem”.

“Os homens que consomem pornografia criam uma concepção irreal do sexo. Quando experimentam para uma relação normal, sentem uma certa ansiedade de desempenho, porque ele não é aquele ator. Isso faz com que transem mal, porque tentam performar exatamente aquilo que consomem.”

Dessa maneira, explica a psicóloga, “os homens se distanciam da realidade em que a mulher não objetificada precisa de preliminares, sexo oral, masturbação e entrega verdadeira”.

Pornografia x relações sociais

O que conteúdos de pornografia mostram é um sexo mecânico que interfere em nível afetivo as relações humanas. O homem ou a mulher que consome pornô tende a se desligar da parceria afetiva.

Erika de Paula afirma que muitas mulheres relatam se sentir trocadas ou traídas pela parceira ou parceiro consumidor ávido de pornografia. “Isso mexe muito com a autoestima delas”, explica.

Além disso, o pornô condiciona o prazer do homem. Ela conta que a prática da masturbação baseada no consumo de pornografia faz com que o sujeito só alcance a ejaculação de determinada maneira.

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Consumo de pornografia afeta relações afetivas e sociais

©Clam Lo/Pexels

“Quando essa pessoa experimenta a penetração na vagina ou no ânus não consegue ejacular, porque está condicionado ao processo mecânico.”

Ela destaca ainda uma pesquisa que analisou 312 homens na mesma faixa etária e com uma composição demográfica semelhante.

“Cerca de 20% desses caras disseram ter visto pornô três a cinco vezes por semana, o que pode ser considerado normal, mas 4% confessaram que realmente preferiam se masturbar para um pornô do que ter relações sexuais com sua parceira.”

Toxicidade para os homens

Um estudo realizado pela Universidade alemã de Potsdam apontou que 99,7% dos universitários já tiveram contato com material pornô, e 54,3% faziam uso frequente.

O estudo faz uma correlação com histórico de violência contra mulheres. Quanto mais violentos são os vídeos pornográficos consumidos, maior era a severidade da agressão por parte dos consumidores.

Erika confirma essa tendência e explica que, assim como o viciado sempre precisa de um estimulo maior, o hard user de pornô segue a mesma escalada. “Começa com algo simples e logo busca por conteúdos BDSM (sadomasoquismo), daqui a pouco está na zoofilia e depois até mesmo a pedofilia”, ressalta.

Para ela, dessa maneira os consumidores ávidos “vão ficando cada vez mais ansiosos, desenvolvem fobia social e dificuldade de criar intimidade e se relacionar”.

A profissional alerta, ainda, que, se iniciado desde criança, pode acarretar em comorbidade de transtorno de personalidade.

Além dos prejuízos na performance do sexo, o consumo de conteúdos pornográficos favorece a cultura patriarcal e machista na sociedade, que deve ser desconstruída.

Flávio Urra, psicólogo e sociólogo do E agora, José?, expõe que isso que consideramos como homem é determinado desde cedo “pelo tipo de roupa, cabelo, jeito de andar e falar”.

“Espera-se que o homem seja heterossexual e viril ainda na infância”, detalha. Ele explica que antes mesmo de falar, as crianças aprendem o simbolismo disso tudo. Inclui-se aí os tipos de brincadeiras, que com meninos, na infância, geralmente são violentas.

Esses meninos, na faixa de 8 a 13 anos, são iniciados na sexualidade entre eles mesmos, vendo filmes pornográficos, se estimulando com revistas etc.

“Eles seguem aprendendo a sexualidade de maneira muito ruim. Enquanto a mulher tem a na sexualidade a afetividade mais desenvolvida, nesse sentido, o homem a utiliza de maneira instrumental. Com isso, o próprio ato sexual acaba sendo um toque violento”, explana.

Mercado da pornografia

A luta pela conscientização dos prejuízos do mercado pornográfico também se dá pela defesa da vida dos explorados neste setor.

Erika conta que “a estimativa de vida de uma atriz pornô é de 35 anos, coincidentemente igual de uma travesti”. Mas o consumidor desses conteúdos acaba contribuindo com uma indústria bilionária, que lucra com a exploração do papel da mulher e transmite a ideia de que aquilo é sexo.

Mesmo na pornografia mainstream, há uma intensa exibição de violência contra as mulheres.  Em uma análise de conteúdo dos 50 filmes pornôs mais consumidos, 88% mostraram agressão física contra mulheres, principalmente com espancamentos, esganaduras e tapas.

O cenário é tão preocupante que alguns estados norte-americanos passaram a considerar a pornografia como uma questão de saúde pública.

Como forma de combate aos problemas causados pelo mercado pornográfico, no País de Gales a educação sexual será disciplina obrigatória no currículo escolar a partir de 2022.

Acolhimento necessário

Erika de Paula considera que encontros como este promovido pelo Fórum de Gêneros e Masculinidades da Costa da Mata Atlântica e o Programa “E Agora José?têm extrema importância.

Muitos homens não sabem como, nem onde encontrar ajuda. Eles se sentem inseguros, porque a pornografia virou símbolo de masculinidade.

“Como muitos deles querem se descontruir e não sabem como o uso das redes sociais e dos grupos de apoio é fundamental. A dor deles pode ser tratada, ” conclui.

Evento: SEXUALIDADES, PORNOGRAFIA E MASCULINIDADES

Entrar na reunião através do aplicativo Zoom pelo link:

https://us02web.zoom.us/j/87404997642?pwd=NURZY1RpR3FZdjdkZW9UaDB0dnN1Zz09

ID da reunião: 874 0499 7642

Senha de acesso: 956075

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Contra os males da pornografia, uso das redes sociais e dos grupos de apoio é fundamental

©Andrea Piacquadio/Pexels