Por que precisamos de mais mães na política?

Mães na política trazem novas narrativas e olhares sobre as questões públicas. Confira a entrevista com Carolina Borges, do Ocupa mãe e com Renata Sennle, do coletivo Política é a mãe.

Por Mayara Penina

10|11|2020

Alterado em 10|11|2020

Motivada pelo desejo de entender se as redes sociais proporcionam um espaço para as mães a ponto de envolvê-las na política partidária, a jornalista Renata Senlle acabou de defender um mestrado na ECA – Escola de Comunicações e Artes da USP – Universidade de São Paulo com o tema “Conversas de Mães em Rede: Um percurso etnográfico, dos blogs maternos até à Bancada de Mães Ativistas nas eleições de 2018 no Facebook”.

“Como mãe, eu  já vinha há um tempo observando três outras mães que eram blogueiras maternas, depois se envolveram com ativismo digital e em 2018 se candidataram pela primeira vez”, aponta a pesquisadora.

Às vésperas das eleições municipais, Renata acredita que jogar luz às pautas das infâncias e maternidades é super importante. “Diferente do que o senso comum acredita, que maternidade não tem nada a ver com política, as mães são as principais responsáveis por criar e educar as gerações futuras, e acredito que a maternagem é um trabalho extremamente político”.

“As mães são as principais responsáveis por criar e educar as gerações futuras, e acredito que a maternagem é um trabalho extremamente político”. – Renata Senlle.

De acordo com o Mapa da Política de 2019, as mulheres representam pouco mais de 12% dos cargos eletivos, mesmo sendo 50% do eleitorado e da população. Além disso, 40% das mulheres são as únicas responsáveis pelas finanças de suas casas e 44% estão inseridas no mercado de trabalho formal.

Ainda assim, esses números não são representativos na política. Mesmo com a Lei 9504/1997, que prevê a reserva de 30% das candidaturas dos partidos ou coligações destinadas às mulheres.

Para Carolina Borges, fundadora do projeto Ocupa mãe, para que as políticas públicas sejam pensadas com mais equidade e com gestões que combatam o preconceito e a desigualdade social, é preciso que mulheres ocupem mais os espaços de poder.

“Vimos recentemente que países governados por mulheres tiveram menos mortes e uma melhor resposta ao combate à pandemia. A mulher líder de um Estado faz a diferença pela sua individualidade, e também pelo o que ela consegue construir no coletivo. Suas equipes são mais diversas com mais equilíbrio entre os gêneros, raças, situação financeira, orientação sexual, com ou sem deficiência. E uma equipe com diversidade, traz mais olhares, mais visões, mais vivências e mais assertividade”, defende.

O Ocupa Mãe, um projeto que aproxima as mães, crianças e jovens da política por meio de visitas em espaços políticos como Assembleia Legislativa, Câmaras. Este ano, o projeto lançou o “Mães candidatas” que surgiu naturalmente da necessidade de apoiar as mães que estão buscando participar mais ativamente da política. “Mapeamos quase 40 mães no Brasil”, afirma.

“Muitas mães estão gratas por estarem conseguindo mais visibilidade. Algumas dizem que o partido as deixou praticamente sem dinheiro, e recentemente, uma mãe que mapeamos desistiu da candidatura por não conseguir fazer a campanha sem verba, sem emprego e com o filho junto, já que as escolas não abriram. A gente sabe que política é um lugar para quem tem privilégios, e que as dificuldades que as mães passam são muitas vezes invisibilizadas. relata Carolina.

Entre as propostas das candidatas mapeadas às prefeituras e vereança estão políticas públicas que incentivam a amamentação, o cuidado com a criança e o jovem, a mobilidade, acesso à cultura, esporte, sustentabilidade, assistência social.

Não basta ser mãe

A jornalista Renata Senlle integra o coletivo Política é a Mãe, que também mapeou candidaturas de mãe a vereança e prefeitura do Brasil. Para tanto, escolheram alguns critérios: é necessário ser uma candidata de um partido progressista, ter a agenda das maternidades e infâncias como pauta e proferir um discurso laico.

“Não basta ser mulher e mãe para pensar nas maternidades e infâncias. Não significa que votar numa mulher faz com que esteja engajada e também não basta ser mãe para lutar pelas questões da maternidades e infâncias. É preciso ter olhar atento para os candidatos que estão engajados nessa causa”, afirma Renata.

Já no Ocupa mãe, o critério é ter a pauta da maternidade incluída no projeto da candidatura. “Usamos como referência a Agenda Marielle, que é um documento com pautas bem interessantes e que nós, do ocupa mãe, sentimos afinidade. Para aparecer no mapeamento a candidata não precisa concordar com tudo o que foi proposto no documento, ela pode dizer, gostei disso e disso não, e cabe a eleitora investigar se sente afinidade com a candidata”, descreve Carolina.