Foto, que representa a educação brasileira, mostra criança escrevendo em caderno

Qual a adesão da população às agendas ultraconservadoras na educação?

Pesquisa coordenada pela Ação Educativa e pelo Cenpec revela a opinião da população brasileira sobre assuntos considerados controversos na educação

Por Amanda Stabile

29|08|2022

Alterado em 29|08|2022

Na última quarta-feira, 24/8, a Ação Educativa e o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) apresentaram os resultados da pesquisa Educação, Valores e Direitos, coordenada pelas organizações e realizada pelo Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop), da Unicamp, e pelo Instituto Datafolha.

O estudo buscou entender a opinião da população brasileira sobre assuntos considerados controversos na educação, como educação sexual, cotas raciais, educação domiciliar e a militarização das escolas. Os resultados surpreendem ao revelar aspectos bastante progressistas na fala do público ouvido – 2090 pessoas de todas as regiões do país, com mais de 16 anos de idade, entre 8 e 14 de março de 2022.

“A nossa expectativa com essa coletiva de imprensa é, também, estimular que outros veículos de imprensa, progressistas e periféricos, possam abordar a pesquisa e reinterpretá-la para diferentes públicos, ampliando o alcance dessa mensagem de esperança. Porque há, sim, brechas, espaço para que a gente retome, com mais força, uma agenda progressista e comprometida com direitos na nossa política educacional”, pontuou Denise Carreira, coordenadora da área de educação da Ação Educativa.

Em relação à educação sexual, a pesquisa apontou que 72% da população entende que as escolas devem abordar o tema e, na média, esperam que seja debatido a partir dos 11 anos de idade. Mesmo aqueles contrários, demonstraram interesse em obter ajuda da escola contra abusos sexuais, doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e gravidez.

Quanto às relações raciais no ambiente escolar, 50,4% dos entrevistados são a favor das cotas e as consideram fundamentais para a democracia racial no país. Ainda, 90% que o tema deve ser discutido nas escolas; e 93,4% defende que todas as crenças devem ser respeitadas nas escolas.

“Em relação à educação domiciliar, a maior parte da população entende que crianças e adolescentes têm direito a frequentar a escola independentemente da aprovação de seus pais”, explicou Denise. O estudo apontou que até quem apoia o homeschooling reconhece a importância das instituições de ensino.

Já em relação à militarização das escolas públicas, a população ouvida pontuou que confia mais em professores do que em militares para trabalhar nas instituições. Mas, mais de 70% concordou, total ou parcialmente, que a segurança e a violência são problemas comuns nos ambientes escolares.

Quanto às prioridades para a melhoria da educação, a população tem muito nítido que o principal problema é a falta de investimento dos governos nas escolas públicas e os baixos salários e a desvalorização dos professores.

“O professor é um elemento essencial do debate educacional porque a qualidade da educação não é passível de melhorar se não tivermos bons professores, bem remunerados e com condições adequadas de trabalho”, apontou Romualdo Portela, Diretor de Pesquisa e Avaliação do Cenpec.

Para ele, a população é bem menos conservadora do que acreditamos. “Esse ponto é muito importante para modular o debate que nós vamos fazer. Ou seja, mesmo os temas mais delicados, há uma entrada possível em uma leitura mais progressista, mais garantidora de direitos”, explicou.

Jéssica Moreira, jornalista e cofundadora do Nós, mulheres da periferia apontou a importância do estudo para termos um panorama que vá além das nossas próprias convicções sobre os pensamentos da população. “A pesquisa é um chamado para todos pensarmos como podemos estabelecer conversas com essas pessoas”, disse.

Jacqueline Moraes, professora do departamento de Sociologia, da Universidade de Brasília (Unb), defendeu que a pesquisa nos ajuda a enxergar a capilaridade da agenda conservadora e suas reivindicações. “As pessoas não estão necessariamente defendendo uma volta ao passado (uma ditadura militar) mas estão, de alguma maneira, indicando que há uma percepção de que houve um passado melhor e que há a esperança de que esse futuro também precisa ser melhor”, explicou.

Confira a conversa completa: