Peça “Oitenta e Oito” questiona a abolição da escravidão no Brasil e as consequências na sociedade atual
Nesse 13 de maio, Dia da Abolição da Escravatura, conheça a trajetória das atrizes Jessica Mendez e Tamara Louise para criar a peça Oitenta e Oito
Por Beatriz de Oliveira
11|05|2023
Alterado em 19|05|2023
Há 135 anos foi determinado o fim da escravidão no país através da assinatura da Lei Áurea. “É declarada extinta, desde a data desta Lei, a escravidão no Brasil”, dizia o primeiro dos dois artigos do texto. A data era 13 de maio de 1888, passados mais de um século, ainda são evidentes as consequências da escravização. É isso que as atrizes Jessica Mendez e Tamara Louise mostram na peça Oitenta e Oito, que questiona a data ao fazer um paralelo com os dias atuais.
No espetáculo “Oitenta e Oito” a vida de duas ex-escravizadas, Ada e Felipa, se cruza após a abolição da escravidão no país. Elas se tornam amigas e compartilham a luta pela sobrevivência no pós-abolição. No segundo ato da peça, ocorre uma reflexão de alguns direitos estabelecidos pelo artigo 5° da Constituição de 1988 e que não são de fato garantidos até hoje. São eles: homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante, é livre a manifestação do pensamento, é inviolável a liberdade de consciência e de crença e a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível.
Ada e Felipa têm visões distintas sobre a liberdade. Uma foca no fato de ter saído da casa do ex-senhor e não apanhar mais. A outra questiona a condição precária que continuam vivendo e o menosprezo que brancos direcionam aos negros.
A construção das personagens leva em conta a trajetória das próprias atrizes. Jéssica passou para Ada a valorização da ancestralidade. Isso porque no período anterior à escrita da peça teatral, a artista estudou os adinkras, conjuntos de símbolos usados por povos da África Ocidental que carregam conceitos e ensinamentos ancestrais. “A ancestralidade fortalece a Ada”, pontua Jessica.
Já Tamara transferiu para Felipa a percepção da crueldade do racismo na vida cotidiana. A atriz experimentou esse sentimento durante os protestos antirracistas que ocorreram em vários países, inclusive no Brasil, a partir da morte de George Floyd, nos Estados Unidos. Ela, que não costumava pensar sobre maternidade, temeu um dia torna-se mãe de um menino negro. “Às vezes a ignorância é uma benção, mas tem coisas que precisamos saber e encarar”, diz.
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Com o apoio financeiro adquirido por meio do Programa de Ação Cultural (Proac), Jessica e Tamara, em conjunto com o diretor Edson Gory, escreveram a peça e a apresentaram algumas vezes em 2022 na cidade de São José dos Campos (SP), onde vivem. Entre as devolutivas do público, estavam professores que diziam que aquela apresentação deveria ser feita em escolas, pelo seu potencial de elucidar aos alunos as marcas da escravidão na sociedade. As atrizes concordam com a sugestão e pretendem planejar formas de levar a peça a escolas da região.
Entendendo o 13 de Maio como um dia de luta e questionamento acerca da abolição da escravidão, as atrizes consideram importante tratar do assunto para que a consciência racial se estenda a cada vez mais pessoas. “A arte é acessível, consegue alcançar lugares que outras manifestações não conseguem, então trazer essa narrativa sobre a abolição para a arte é muito importante”, afirma Jessica.
Para informações sobre futuras apresentações da peça “Oitenta e Oito” basta acompanhar o perfil Cia Aya.
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