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Nunes ou Boulos: quem tem as melhores propostas para combater a crise climática?

Enquanto Ricardo Nunes se concentra em investimento tecnológico e monitoramento preventivo, Guilherme Boulos foca na adaptação climática; especialistas consideram medidas de psolista mais eficientes

Por Beatriz de Oliveira

22|10|2024

Alterado em 23|10|2024

Em um cenário em que já sentimos os efeitos das mudanças climáticas e do racismo ambiental, se atentar às propostas dos candidatos à prefeitura para enfrentar essa situação é essencial na escolha do voto. Pensando nisso, o Nós, mulheres da periferia consultou especialistas para comparar os planos de governo dos dois candidatos que disputam o segundo turno em São Paulo (SP) no que diz respeito ao enfrentamento à crise climática.

No segundo turno das eleições de 2024, que acontece no próximo 27 de outubro, moradores de 51 municípios do país devem voltar às urnas para escolher seus prefeitos. Em São Paulo (SP), a disputa é entre Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL).

Conversamos com Sarah Darcie, coordenadora de advocacy no Instituto Clima de Eleição, e com Clareana Cunha, gestora pública pós-graduanda em Cidades e mobilizadora na Minha Sampa e no Nossas. Ambas afirmam que os planos de Nunes e Boulos reconhecem a urgência de se combater a crise climática, mas as propostas do psolista são mais eficientes.

“Embora ambos os candidatos mencionem ações concretas para o combate à crise climática, bem como a continuidade da implementação de instrumentos legais, como é o caso do Plano de Ação Climática e do Plano Municipal de Redução de Riscos (PNRM), o plano de Guilherme Boulos é mais completo na apresentação de medidas voltadas para o fortalecimento de ações climáticas na cidade, tanto no âmbito de mitigação, como de adaptação”, afirma Sarah Darcie fazendo referência à análise realizada pelo Clima de Eleição, em parceria com o Greenpeace Brasil. O estudo levou em conta 14 critérios e uma avaliação em cinco níveis: comprometido, favorável, parcialmente favorável, não cita e desfavorável.

De acordo com o levantamento dos institutos, Boulos pontuou mais que Nunes em critérios como enfrentamento ao racismo ambiental, povos e comunidades tradicionais; incentivo à participação social; proteção de animais; moradia digna e infraestrutura e transição energética justa. Boulos obteve 38 pontos, de um total de 42 pontos, enquanto Nunes obteve 30 pontos.

Em seu plano de governo, o prefeito Ricardo Nunes enfatiza fatos de sua gestão no contexto da crise climática, entre eles a criação da Secretaria Executiva de Mudanças Climáticas (SECLIMA), Plano Preventivo de Chuvas de Verão (PPCV) e Plano de Ação Climática do Município.

“Essas ações têm sido um passo positivo, especialmente para o monitoramento e a prevenção de desastres climáticos. Porém, além das 200 mil moradias em áreas de risco, também sabemos que a Defesa Civil identificou 480 áreas em risco de deslizamento na cidade de São Paulo. É uma medida preventiva e importante, mas é bom lembrar que e Nunes só fez esses planos e criou a secretária ano passado, ou seja, passou-se quase uma gestão inteira sem ter nenhum pensamento sobre crise climática e adaptação climática na cidade de São Paulo”, pontua Clareana Cunha. A gestora pública afirma ainda que essas medidas não tiveram implementação e alocação de recursos suficientes.

homem de terno fala ao microfone

Ricardo Nunes é candidato à reeleição

©Rovena Rosa/Agência Brasil

Algumas propostas de Ricardo Nunes para enfrentamento à crise climática

Modernização e acompanhamento tecnológico dos sistemas e equipamentos para monitoramento permanente e definição de ações preventivas e de mitigação dos impactos causados pelas mudanças climáticas: as estratégias abrangem diversas áreas, desde intensificar o desenvolvimento integrado das Áreas de Proteção e Recuperação dos Mananciais (APRM) até a implementação de programas de adaptação climática. Para enfrentar as ondas de calor, o Programa Local de Adaptação e Resiliência Climática (PLARC) será expandido, com a criação de áreas verdes estratégicas para melhorar a qualidade de vida.

Descarbonização: adoção de práticas e tecnologias que reduzam nossas emissões de carbono e promovam uma matriz energética mais limpa e diversificada a partir do aproveitamento dos resíduos sólidos urbanos. O setor de transporte também receberá atenção, com a implementação de um programa de distribuição de carga com veículos “zero emissões” e incentivos para a substituição da frota de transporte escolar por alternativas não fósseis. 

Estratégias para a resiliência da cidade frente a desastres e contingências civis: o foco principal é fortalecer a Coordenação Municipal de Defesa Civil (COMDEC) e consolidar o Plano Municipal de Redução de Riscos, com ênfase na prevenção e mitigação dos impactos das mudanças climáticas. Para isso, serão revisados protocolos, atualizado o mapeamento de riscos e realizadas intervenções em áreas críticas. Além disso, o plano prevê o aprimoramento do Sistema de Alerta a Inundações de São Paulo (SAISP) e ampliação do monitoramento de áreas de risco, visando a prevenção e a resposta rápida a desastres. A formulação de planos de contingência preventivos e reativos também é uma prioridade, preparando os órgãos competentes e a população para atuarem em situações de emergência. Contaremos cada vez mais com a participação da comunidade, por meio da ampliação dos Núcleos Comunitários de Proteção e Defesa Civil (NUPDECs). 

Sistema municipal de gestão integrada para as Áreas de Preservação e Recuperação de Mananciais: articulação dos agentes públicos e da sociedade civil, fortalecendo a GCM Ambiental e a fiscalização das Subprefeituras em áreas de mananciais e destinando mais recursos para o Programa Mananciais, com o objetivo de garantir a segurança hídrica, a qualidade dos mananciais, a readequação ambiental dos assentamentos existentes e a compatibilização de usos sustentáveis.

homem branco usa roupa social

Guilherme Boulos é candidato à prefeitura de São Paulo (SP)

©Paulo Pinto/Agência Brasil

Algumas propostas de Guilherme Boulos para enfrentamento à crise climática

Plano de drenagem e combate à crise climática: atualização do Plano Diretor de Drenagem (PDD), associando obras que utilizem estruturas de retenção convencionais com infraestrutura verde, priorizando áreas permeáveis, como parques lineares, praças de infiltração, jardins de chuva e micro-reservatórios. Além disso, o plano prevê elaboração de um novo Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR) e criar os Centros de Referência de Proteção e Defesa Civil, reorganizando a estrutura do município para uma gestão permanente de riscos e desastres, com políticas preventivas e de preparação para situações de emergência climática.

Criação de Corredores Verdes: arborização de vias e áreas públicas, especialmente nas ilhas de calor urbanas, utilizando tecnologia para monitorar a saúde das árvores e para tornar mais eficientes os serviços de poda e manejo. 

Amplo programa de regularização fundiária: beneficiamento de ao menos 250 mil famílias em programas de regularização fundiária, garantindo títulos de posse e propriedade em áreas periféricas, de forma integrada com iniciativas de urbanização e melhorias habitacionais

Sistema municipal de gestão integrada para as Áreas de Preservação e Recuperação de Mananciais: articulação dos agentes públicos e da sociedade civil, fortalecendo a GCM Ambiental e a fiscalização das Subprefeituras em áreas de mananciais e destinando mais recursos para o Programa Mananciais, com o objetivo de garantir a segurança hídrica, a qualidade dos mananciais, a readequação ambiental dos assentamentos existentes e a compatibilização de usos sustentáveis.

Baseado nesses planos de governo, Sarah Darcie pontua que Ricardo Nunes tem propostas relacionadas à resiliência climática e redução de desastres, assim como de transporte e mobilidade, além do uso da tecnologia e dos sistemas de monitoramento de dados a serviço do combate à crise climática.

“Entretanto, vale mencionar que, em alguns temas, como economia verde, inclusão de povos indígenas e comunidades tradicionais, moradia digna e racismo ambiental, o plano é insuficiente em suas propostas”, diz.

Já o plano de Guilherme Boulos, segundo a especialista, merece destaque pelas propostas relacionadas à transporte e mobilidade e à moradia digna e infraestrutura, com medidas eficientes como a expansão da Tarifa Zero, a melhoria do transporte público e os planos de urbanização nas periferias.

“É um diferencial o olhar para a recuperação ambiental nos planos urbanísticos e medidas fundamentais para a promoção da resiliência nas cidades, como intervenções em saneamento, contenção e estabilização do solo e recuperação ambiental, considerando que as favelas e periferias ainda são as regiões mais afetadas pelos desastres climáticos”, afirma.

Por sua vez, Clareana Cunha, destaca que enquanto Nunes se concentra em investimento tecnológico e monitoramento preventivo, Boulos foca na adaptação climática por meio de soluções naturais e com a participação da população.

“Os dois candidatos reconhecem a urgência de enfrentar a crise climática, mas Boulos propõe uma abordagem mais abrangente e integrada, combinando infraestrutura verde com as políticas de inclusão social”, afirma.