Sex shop: aumento de venda online fortalece empreendedoras periféricas

Mulheres da periferia que vendem produtos eróticos encontraram mais possibilidades com serviço de sex shop online durante a pandemia

Por Sâmia Teixeira

03|12|2020

Alterado em 03|12|2020

Sex shop da periferia para o mundo. Não é exagero utilizar essa frase para definir o que significou para mulheres empreendedoras adotar as vendas online de produtos eróticos como estratégia financeira, sobretudo durante a pandemia.

Para se ter ideia, no Brasil, segundo dados do Portal Mercado Erótico, somente entre março, abril e maio foram vendidos 1 milhão de vibradores, revelando um aumento de 50% em comparação com o mesmo período do ano passado.

E o ambiente virtual teve destaque neste período.

Negócio online

Em território brasileiro, nos últimos 90 dias, segundo as tendências de busca via Google, houve aumento de 40% de pesquisa por “sex shop online”.

A busca por “vibradores” teve aumento de 120% para o mesmo período, acompanhando os dados do mercado sobre as vendas do produto.

Vale considerar que essa tendência veio para ficar.

Segundo a agência de pesquisas Kantar, 61% dos brasileiros dizem querer manter hábitos adotados durante a pandemia da Covid-19, sendo que 46% apontam que compras online são uma desses novas práticas de rotina.

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Camila Oliveira da Afrodite Queen Boutique com Wilton Ferreira, sócio de negócio e marido

©Arquivo pessoal

Camila Oliveira, empreendedora da Afrodite Queen Boutique, possui loja virtual e física, localizada em Poá, São Paulo.

Além de também relatar que com a pandemia as vendas online tiveram realmente um crescimento – em sua loja a venda de vibradores e próteses (consolos que imitam pênis) cresceu em 80% – ela conta que o negócio online a possibilitou alcançar clientes mais diversos.

“Hoje somos a loja no topo em toda região do Alto Tietê e expandindo para a Grande São Paulo. Mas, via internet, atendemos outros estados brasileiros e países como Itália, França e Portugal”, relata.

Desafios

Para Camila, no entanto, lidar com vendas online trouxe alguns desafios importantes, sendo um deles o de fidelizar os clientes.

“Hoje na internet tudo é mais fácil, então pra que essa relação aconteça, estudo diariamente formas e manobras pra isso. Minha formação conta muito no momento do atendimento.”

Camila é terapeuta especialista em sexualidade, o que facilita ao criar um canal de confiança com o cliente mais tímido ou inseguro.

A empreendedora Simone Fernandes, da Ella e Elle Sex Shop , acredita que “não existe uma fórmula mágica” para ter êxito no ramo, mas considera que “além de planejamento, precisa ter amor pelo que faz, colocar de verdade o coração em tudo, porque, para vender neste setor, o diferencial está em como se vende”.

Empreendo porque é preciso

Antes mesmo de a Covid-19 chegar, a realidade já era bastante dura para maior parte da população no Brasil.

Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados no início deste ano, a informalidade superou 50% em mais de 10 estados do país.

Cerca de 40 milhões de brasileiros seguem trabalhando, em número crescente desde 2016, sem carteira assinada, fazendo bicos ou batalhando em algum empreendimento próprio. Por isso, para muitas mulheres o negócio próprio veio como medida emergencial.

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Simone Fernandes, empreendedora de Cuiabá (MT) iniciou seu próprio negócio com pouco recurso

©Arquivo pessoal

Simone Fernandes é um exemplo desses casos. Ela, que reside e empreende em Cuiabá, Mato Grosso, conta que foi quando se viu desempregada com duas crianças pequenas que buscou alguma alternativa que a permitisse obter alguma renda e cuidar da filha mais nova.

Persista

Para amadurecer o próprio negócio e obter mais segurança, tempo é necessário. Segundo dados do Sebrae, não há espaço para retorno rápido na gestão empresarial. 23,4% dos pequenos negócios encerram as suas atividades no prazo de até 2 anos da abertura.

Para Simone, o desafio inicial maior foi o de começar com pouco dinheiro. “Iniciei com R$ 500 e tive que fazer esse valor girar e ao mesmo tempo tirar parte para o meu sustento, uma vez que era minha única renda”, ela relembra.

Hoje, em situação mais consolidada no setor, Simone diz que pretende “incluir novos itens para venda e diversificar mais as opções de produtos”. Segundo ela, “90% dos atendimentos que realiza acontecem via internet, com entrega realizada por motoboy ou envio pelos correios”.

Empreender, empoderar

Bethânia Gesteira, de São Matheus, zona leste de São Paulo, descobriu sua disposição empreendedora após participar de um programa de competição de um canal de TV, focado em educação financeira para jovens.

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Bethânia Gesteira, da Belladona Boutique Sensual, trabalha com foco na atitude e no empoderamento feminino livre de amarras e tabus

©Arquivo pessoal

Apesar de não conquistar o prêmio máximo, guardou o valor recebido e decidiu colocar em prática tudo o que aprendeu ao longo do programa.

“Nessa mesma ocasião, meu pai recebeu um dinheiro indenizatório e deu o valor pra minha mãe, que investiu em lingeries. Eu participei do negócio e percebi que as clientes sempre demonstravam interesse por produtos eróticos. A partir disso investi em produtos do ramo”, resgata.

Hoje, com sua loja Belladona Boutique Sensual , ela dedica ao trabalho seleção de qualidade nos produtos, com foco total no prazer e no autoconhecimento e empoderamento da mulher.

“A maior parte do meu público é formado por mulheres casadas, apaixonadas por seus companheiros. E eu penso sempre em como falar com mulheres que compram o produto pensando no prazer do parceiro, porque meu objetivo é trazer uma narrativa que coloque o prazer delas como prioridade e não o contrário”, salienta.

Autoconhecimento

A terapeuta sexual Camila Oliveira conta que “muita gente se descobriu na pandemia em relação a vida sexual, principalmente com a descoberta dos orgasmos. O vibrador ou a prótese em si foi companheiro de muita gente e um excelente agregado para o casal”.

Ela diz ter recebido relatos de mulheres e casais que tiveram um primeiro contato com o orgasmo, descobrindo a possibilidade de ser mais feliz na vida sexual com esse tipo de acessório e a mente aberta para se conhecerem melhor.

E se tratando especificamente sobre o público de mulheres, Bethânia costuma dizer que seu objetivo não é vender o produto, “mas desmistificar o prazer para que a mulher possa se despir de todos os tabus que envolvem a sexualidade feminina, com muito carinho e amor ao próprio corpo”, conclui.

Conheça melhor o trabalho dessas mulheres:

Bethânia Gesteira – Belladona Boutique Sensual

Camila Oliveira – Afrodite Queen Boutique e terapia sexual

Simone Fernandes – Ella e Elle Sex Shop

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