Fotógrafa da zona sul realiza ensaios para brechó virtual

O que seria um “desapego” de algumas peças de roupa se transformou numa iniciativa que pretende ajudar a quebrar padrões estéticos negativos. Andressa Oliveira, 20 anos, estudante de cinema e moradora do Parque Regina, no Campo limpo, zona sul, conta como criou o Fema Brechó. No projeto, ela realiza ensaios fotográficos para amigas e interessadas, […]

Por Redação

03|07|2017

Alterado em 03|07|2017

O que seria um “desapego” de algumas peças de roupa se transformou numa iniciativa que pretende ajudar a quebrar padrões estéticos negativos. Andressa Oliveira, 20 anos, estudante de cinema e moradora do Parque Regina, no Campo limpo, zona sul, conta como criou o Fema Brechó. No projeto, ela realiza ensaios fotográficos para amigas e interessadas, em troca divulga as peças de roupa usadas para venda pela internet.
“Acredito que estar na moda atual não precisa ser totalmente fora do seu orçamento, entrar em números muito menores ou ter que dedicar a vida para achar preços acessíveis”, explica. Confira a entrevista que ela deu ao Nós, mulheres da periferia sobre sua história:

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Andressa Oliveira é fotógrafa e estuda cinema e criou o Fema Brechó (Arquivo Pessoal)


Nós, Mulheres: Como você teve a ideia ?
Andressa Oliveira: A ideia surgiu pela necessidade mesmo, desde o ano passado tenho pensado em colocar umas roupas que não uso mais à venda, esses brechós online tem surgido muito nos últimos anos. Nessa época pensava em anunciar em um desses grupos do Facebook de desapego mesmo, e recentemente resolvi por em prática.
Como eu trabalho com fotografia, de qualquer forma já iria fazer umas fotos legais para divulgar, aí quando me dei conta da quantidade e das possibilidades que existiam, resolvi montar um insta com logo, adesivo e tudo mais.
Então dei uma fuçada na internet, achei um site e fiz o logo, encomendei adesivos e comprei sacolinhas de papel. Queria mesmo que não fosse só um “desapego” e que fosse de alguma forma diferente dos outros.
Nós, Mulheres: De onde surgiu o nome Fema Brechó?
Andressa Oliveira: Eu estava com mais dois amigos em um bar no centro e parou uma mulher na nossa mesa pedindo ajuda. A gente ficou trocando ideia com ela, aí em uma das várias vezes que ela se despediu, ela olhou pra mim, que estava de camisa larga e com o black bem alto, e perguntou: “é fema é?”. Aí pronto, virou piada interna de nós três, e o Fema pegou.
Nós, Mulheres: Como funciona o Fema Brechó?
Andressa Oliveira: Eu convido alguma amiga para ser modelo, escolho algum cenário/espaço pra fazer as fotos,e juntas separamos as peças e montamos os looks. Como não posso pagar em dinheiro, ofereço fotos para que elas usem para o que elas quiserem. Depois da sessão feita, eu coloco preço nas peças, lavo, e subo no Instagram o ensaio completo. As fotos que sobem são cruas, sem edição nenhuma. A ideia é serem fotos bonitas, atrativas e que mostrem como a peça fica no corpo, mas que ainda pareçam como são pessoalmente.
A última “fase” é a entrega quando a peça é vendida. Vai em sacolinha de papel, com um adesivo do brechó, e se caso a peça tiver algum defeito, furo ou mancha, mesmo que seja pequeno, dentro da sacola coloco um bilhete informando. É algo que não impede o uso, mas acho importante que a pessoa saiba. As entregas acontecem em estações de metrô de São Paulo.fema brechó 2
Nós, Mulheres: Qual é o seu objetivo com esse negócio?
Andressa Oliveira: Por enquanto são só ex-roupas minhas, mas a ideia é garimpar os mais diversos tipos de estilos, tamanhos e gêneros também. Além de querer oferecer roupas para os mais diversos tipos de pessoas/corpos, também disponibilizar o tipo de peça que eu gosto de vestir que me sinto a vontade, por exemplo, blusas que sejam fácil usar sem sutiã, eu parei de usar por completo faz mais de 1 ano, agora é comum me ver com camisetão, regata apertadinha, blusa com as mangas cortadas com a lateral mais aberta, regata folgadinha.
Nós, Mulheres: Quais são os próximos passos que você pretende dar?
Andressa Oliveira: O próximo passo agora é levantar uma grana para começar a comprar novas peças, com variação de tamanhos e estilos, e conseguir colocar preços bem baixos nessas peças usadas. Tenho uma ideia também de introduzir peças novas, montar looks semelhantes aos que estão em alta hoje em dia, trazendo opções baratinhas para quem curte as tendências. Acredito que estar na moda atual não precisa ser totalmente fora do seu orçamento, entrar em números muito menores ou ter que dedicar a vida para achar preços acessíveis. Como as primeiras são roupas eram minhas que quase não usei, e a intenção é levantar uma grana para investir, os preços vão de 10$ a 30$ nas blusas e shorts e de 30$ a 50$ nas calças.
Nós, Mulheres: Como está sendo recebido o brechó?
Andressa Oliveira: Dois dias depois de aberto o brechó virtualmente, vendi 7 peças, 4 delas pra mesma pessoa. E já tiveram pessoas entrando em contato para doação, que gostariam de desapegar de umas peças queridas, mas para algo significativo e que um brechó de quebrada é uma ótima opção.
Nós, Mulheres: Como está sendo recebida a ideia de quebra de padrões estéticos negativos?
Andressa Oliveira: A quebra de padrões a gente sabe o quanto é necessária principalmente quando se trata de mulheres, onde a indústria da moda o tempo todo nos força a sermos femininas e cada vez mais magras, a ser sensual e estar sempre muito bem arrumada, e isso é quase impossível se você tem que estudar, trabalhar, pagar contas etc. Por isso é tão importante construirmos essas possibilidades. A primeira postagem que fiz de divulgação já recebi comentários de amigas lamentando ser “mais um brechó para mina magra” e fiquei feliz, porque só reforçou que é necessário mesmo, então já aproveitei e convidei para ajudarem nesse processo de aumentar as opções. Aceito doações, sempre de peças em bom estado, principalmente nos tamanhos a partir de G e 42.
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Fotos divulgadas no insta @femabrecho