Empreendedorismo: para a mulher, ter o próprio negócio é mais desafiador

Fórum de Finanças Sociais e Negócios de Impacto 2018 amplia sua programação e inclui mesas de discussão sobre periferia, raça e gênero.

Por Redação

12|06|2018

Alterado em 12|06|2018

Por Dalila Ferreira
Mesmo antes de perceber, a mulher da periferia já é uma empreendedora. A palavra empreendedorismo pode soar como se pertencesse a negócios de uma realidade distante, o que é um engano. Ao movimentar, por exemplo, a economia doméstica, ela já está empreendendo. O Sebrae aponta que as mulheres têm uma taxa de empreendedorismo superior à dos homens. Enquanto elas alcançam 15,4%, a masculina é de 12,6%.
O Global Entrepreneurship Monitor 2016 (GEM), monitoramento de empreendedorismo global, verificou também que as mulheres abrem empresas mais por necessidade do que os homens. Os números mostram que 48% delas iniciam a atividade empresarial pois: precisam complementar a renda ou porque buscam recolocação no mercado de trabalho. Já entre os homens esse número cai para 37%.
Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora, primeira plataforma de empreendedorismo feminino no Brasil, identificou uma lacuna no mercado de apoio às mulheres que querem empreender. Deste modo, ela resolveu colocar em campo um negócio totalmente inclusivo, que leva conteúdo relevante e de qualidade, dicas e notícias, além de promover eventos de networking, cursos, mentorias e inspirar mulheres que desejam, querem ou necessitam empreender “independente se o negócio fatura dois milhões ou se a empresa está começando e pretende vender bolo de pote”, como Ana costuma dizer. Esta rede tão acolhedora atende hoje quase 500 mil mulheres em todo o país.

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Ana Fontes, Fundadora da Rede Mulher Empreendedora, no Fórum de Finanças Sociais e Negócios de Impacto 2018.

©Dalila Ferreira


Quando uma mulher empreende ela gera mudanças tanto na sua família quanto na própria comunidade. E é transformando o ecossistema que está ao seu redor que ela se torna uma empreendedora de impacto.
Com intuito de debater maneiras efetivas de gerar impacto na sociedade, aconteceu o Fórum de Finanças Sociais e Negócios de Impacto 2018, entre os dias 6 e 7 de junho, no Instituto Tomie Otake, na zona oeste de São Paulo.
Pela primeira vez o Fórum teve mesas de discussões sobre periferia, raça e gênero, com a curadoria da empreendedora social Adriana Barbosa, criadora da Feira Preta, maior evento de cultura negra da América Latina. A contribuição de Adriana para o evento foi dar foco à diversidade de uma forma transversal.
Adriana comenta que esteve na última edição do Fórum, em 2016, e se sentiu extremamente incomodada com a falta de negros nos painéis, nos pitchs (apresentações de negócios para possíveis investidores), plateia presente e participando das discussões.
“Eu sinto que o Fórum conseguiu minimamente abrir espaços para que possamos estar juntos, refletindo e construindo. Obviamente existe um caminho para ser seguido e percorrido, mas houve uma disponibilidade, e agora estamos aqui para compreender como atuamos de forma coletiva”, disse Adriana.

Conforme o levantamento feito pelo Sebrae, com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), 50% dos donos de negócio são afrodescendentes, 49% são brancos e 1% pertencem a outros grupos populacionais
“Quando comecei a vender meus produtos pelas redes sociais, eu não achava que aquilo era empreendedorismo. As pessoas falavam que eu era empreendedora, mas ainda não me enxergava dentro daquele modelo. Hoje, com seis anos de empresa, após muito trabalho, me sinto mais preparada e entendendo meu negócio com o impacto social que ele tem”, explica Michelle Fernandes, mulher negra, e uma das criadoras da Boutique de Krioula – Moda Afro, que além de atender a um grande público com seus produtos, também emprega vendedoras com o desejo de comercializar as peças da marca. A Boutique de Krioula fica localizada na região do Campo Limpo, em São Paulo.
As mulheres também lideram as pesquisas quanto a análise de gênero do empreendedor no Brasil. Para Ana Fontes, da Rede Mulheres Empreendedora, este cenário se apresenta devido ao ambiente discriminatório em que a mulher vive. Sendo assim, elas acabam empreendendo por necessidade: seja quando o ambiente corporativo não as aceita (principalmente quando elas têm filhos pequenos) seja pela vulnerabilidade financeira em casa, quando a renda familiar precisa ser complementada.
Segundo a pesquisa Donos de Negócio no Brasil, análise de gênero (que utiliza dados da Pnad/IBGE de 2016) o número de brasileiras empresárias cresceu 34% entre 2001 e 2014, enquanto o aumento de homens nesta situação, no mesmo período, foi de 14%. Elas empreendem mais em casa (35%), são mais qualificadas que os homens empresários e dedicam menos tempo ao negócio (34 horas semanais, enquanto os homens trabalham 42 horas por semana).

Edital? Que tal ÉDITODOS?

Foi lançado ainda no Fórum de Finanças Sociais a iniciativa social ÉDITODOS, elaborada por Adriana Barbosa, da Feira Preta, João Souza, da FA.VELA e Thiago Vinícius, da Agência Solano Trindade. O nome faz uma provocação ao termo “Edital”.
O ÉDITODOS foi criado dentro do laboratório de Finanças Sociais, a partir de um projeto chamado Força Tarefa, comandado pelo Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE). A discussão que gerou a criação do projeto foi a dificuldade de acesso aos editais por pessoas que estão nas regiões periféricas.
A ideia do ÉDITODOS é ter um fundo vocacionado para quem não consegue ser contemplado por um edital e necessita de recursos para tocar seus projetos. Um olhar para quem está na base da pirâmide social com a qualidade de entendimento da própria base da pirâmide.
Ao lançar o projeto dentro do Fórum de Finanças Sociais, que trouxe uma gama de empresas, fundações e institutos, ele pôde gerar mais visibilidade, além de apresentar a reflexão de quem é protagonista e não apenas público beneficiário.
Hoje o ÉDITODOS está em processo de construção, após ter dado um grande salto em formar uma aliança com 12 organizações em território nacional, e traz ainda um parceiro de operações, a SITAWI Finanças do Bem, administradora das doações recebidas, e que repassa os recursos para os atores do Fundo.
O Fundo ÉDITODOS teve uma boa aceitação do Fórum de Finanças Sociais e Negócios de Impacto 2018, onde se apresentou em uma roda de conversa, com a presença de algumas das organizações participantes do projeto, tirando dúvidas dos participantes e de possíveis investidores.
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