No aniversário de São Paulo, confira relatos de moradoras com iniciativas ambientais
Em diferentes frentes de atuação, mulheres negras e periféricas têm se integrado à luta pela justiça climática
Por Beatriz de Oliveira
22|01|2025
Alterado em 22|01|2025
Neste 25 de janeiro a cidade de São Paulo completa seu 471º aniversário. Em relação ao clima e ao meio ambiente, os últimos anos têm sido desanimadores para os moradores da capital – assim como para o resto do mundo. Para marcar a data, o Nós, mulheres da periferia reuniu relatos de mulheres que fazem parte de iniciativas ambientais em São Paulo (SP).
Quem mais sofre com os efeitos da crise climática são as comunidades negras e periféricas. Levantamento da Agência Pública com dados da Defesa Civil mostrou que os distritos da cidade de São Paulo onde moram mais pessoas negras tiveram mais alagamentos, inundações e deslizamentos nos últimos dez anos.
Paralelo a isso, mulheres negras e periféricas têm se juntado à luta pela justiça climática. Neste aniversário de São Paulo, confira os relatos!
Para Valquiria, catadores e catadoras são o futuro que a cidade precisa
Valquiria Candido da Silva é fundadora da Cooperpac – Cooperativa de Trabalho do Parque Cocaia, organização com serviços de coletas seletivas, vendas de materiais, gestão de resíduos e educação ambiental, para os bairros da zona sul de São Paulo.
Valquiria Candido da Silva é fundadora da Cooperpac
©arquivo pessoal
“Nossa cooperativa foi fundada em 20 de agosto de 2008 e atualmente é formada por maioria de mulheres. Nossa trajetória é de muito suor e muita luta. Fazer parte de um segmento invisibilizado e que, mesmo assim, promove bem estar para as pessoas me faz sentir necessária. Nossa categoria é constituída por homens e mulheres guerreiros, que carregam em cada histórico de vida o motivo para nunca desistir. Sinto que hoje nós, catadores e catadoras, somos o futuro que a cidade precisa”.
Há 13 anos, Eloiza trabalha em uma cooperativa de coleta e reciclagem
Eloiza Fernanda Pereira trabalha na Cooper Vira Lata, organização que realiza trabalhos de educação ambiental, coleta seletiva, triagem, comercialização e destinação final dos resíduos sólidos.
Eloiza Fernanda Pereira trabalha na Cooper Vira Lata
©arquivo pessoal
“A Cooper Vira Lata é próxima da minha casa, passei a fazer parte da iniciativa em 2012 e estou lá até hoje. No decorrer dos anos, aprendi o quanto nosso trabalho é importante, fazemos a triagem e separação dos materiais para dar a destinação correta. Me dedico ao máximo para levar meu conhecimento para mais pessoas, falando da importância da separação de materiais recicláveis. Antes eu achava que isso não tinha valor nenhum, hoje reconheço que aquilo que eu chamava de lixo é o que leva sustento para a casa de muitas famílias. Vamos reduzir, reciclar e reutilizar para um futuro melhor”.
Mahryan conecta ativismo climático e periferias
Mahryan Sampaio é ativista climática, Embaixadora da Juventude da ONU e cofundadora do Instituto Perifa Sustentável; está envolvida em projetos relacionados a agrofloresta, educomunicação, incidência política e ações territoriais.
Mahryan Sampaio é ativista climática
©arquivo pessoal
“Eu me sinto extremamente conectada com tudo o que faço, porque vejo como a luta pelo meio ambiente se cruza diretamente com as demandas da quebrada também. Não existe justiça climática sem justiça social e racial. São Paulo é uma cidade desigual e a gente sabe que são as áreas periféricas as que mais sofrem com a degradação ambiental. Essa não é uma estatística isolada: o racismo ambiental tem cor, gênero e CEP. Estamos aqui para fortalecer as comunidades nessa jornada de enfrentamento à crise climática. E também dar o caminho das pedras para que as lideranças possam cobrar dos verdadeiros responsáveis por reparar essa conta injustiça, que são os governos e empresas. No meio de tudo isso, o que me dá esperança é ver e vivenciar a força das lideranças, que estão cada vez mais organizadas e engajadas em transformar seu próprio território. Mas sabemos, claro, que ainda falta muito”.