horta

Mulheres mostram que hortas comunitárias são aliadas da luta contra insegurança alimentar

Conversamos com lideranças femininas que atuam em três hortas comunitárias no estado de São Paulo

Por Beatriz de Oliveira

24|06|2025

Alterado em 24|06|2025

Moradores de cerca de 28% das casas brasileiras viviam em insegurança alimentar em 2023, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nesse contexto, as hortas comunitárias se mostram aliadas da luta por uma alimentação digna e saudável nas periferias. Em vários casos, são mãos de mulheres que cultivam tais canteiros.

No artigo “Desenvolvimento sustentável e gênero: mulheres protagonistas na produção dealimentos”, lê-se que “a função da mulher no ambiente das hortas urbanas é direta na produção dos alimentos, há uma clara predominância feminina no cultivo das hortaliças. Esse fato é uma representação da construção social que aproxima a mulher e a natureza”.

O Nós, mulheres da periferia conversou com lideranças femininas do estado de São Paulo que atuam em hortas comunitárias em suas comunidades para mostrar os vários benefícios que projetos como esses trazem, em especial, o combate à insegurança alimentar.

Confira!

Horta do Instituto Salve Quebrada, na zona sul da capital

GALERIA 1/6

Olga Franco é cofundadora e presidente do Instituto Salve Quebrada © arquivo pessoal

Horta do Instituto Salve Quebrada © arquivo pessoal

Horta do Instituto Salve Quebrada © arquivo pessoal

Horta do Instituto Salve Quebrada © arquivo pessoal

Horta do Instituto Salve Quebrada © arquivo pessoal

Horta do Instituto Salve Quebrada © arquivo pessoal

No Jardim Itacolomi, zona sul da capital paulista, está a sede do Instituto Salve Quebrada, organização focada em ações sociais e oportunidades para periferias. Um dos projetos é justamente uma horta comunitária, criada em 2022, com o objetivo de promover a autonomia alimentar e a sustentabilidade na comunidade. “Usamos técnicas de agroecologia e permacultura, ensinando a comunidade a cultivar mesmo em pequenos espaços, como vasos e hortas verticais”, explica Olga Franco, cofundadora e presidente do Instituto.

Segundo Olga, a horta é símbolo de resistência e autonomia. O projeto abarca a distribuição de alimentos frescos, como hortaliças e ervas medicinais, para famílias em vulnerabilidade; a capacitação de moradores no cultivo sustentável, principalmente de mulheres; e a criação de um espaço de convivência, com oficinas para toda a comunidade local.

“As hortas urbanas são ferramentas poderosas no combate à fome e à má nutrição, especialmente nas periferias, onde o acesso a alimentos de qualidade é limitado”, afirma a cofundadora. Olga explica que o projeto vai muito além daquilo que é cultivado na terra: “no Salve Quebrada, a horta é mais que um canteiro: é um espaço de cura, empoderamento e transformação social”.

Horta da Vila Nova Esperança, na zona oeste da capital

GALERIA 1/4

Lia Esperança é liderança da horta comunitária © arquivo pessoal

Horta da Vila Nova Esperança © arquivo pessoal

Horta da Vila Nova Esperança © arquivo pessoal

Horta da Vila Nova Esperança © arquivo pessoal

Desde os anos 2000, moradores da Vila Nova Esperança, comunidade na zona oeste de São Paulo (SP), sofrem um processo de desocupação do local a partir de ação civil pública da Promotoria de Justiça do Meio Ambiente da capital, sob o pretexto de degradação ambiental, por se localizar ao lado do Parque Estadual Jequitibá (área verde remanescente de Mata Atlântica, localizada entre as cidades de Cotia e Osasco). Como forma de lutar contra o despejo e mostrar um estilo de vida sustentável, os moradores criaram em 2013 uma horta comunitária.

“Através da horta, nós trouxemos para dentro da comunidade a educação ambiental que era o que precisávamos para as pessoas entenderem o que era uma área de preservação. Mas no fim, vimos que a horta não trouxe só educação ambiental, trouxe também segurança alimentar, empreendedorismo, saúde e mais união entre os moradores”, afirma Maria de Lourdes Andrade de Souza, conhecida como Lia Esperança, liderança da horta comunitária.

Além do que é cultivado na terra, o espaço da horta também abriga uma cozinha para produção de marmitas para a população, biblioteca, brinquedoteca, oficina de costura, salão de beleza e loja de produtos locais.

Horta Bons Frutos, em Santos (SP)

GALERIA 1/4

Vilma Barros e Vinicius Sakamoto recebem Prêmio de Agricultura Urbana © arquivo pessoal

Horta Bons Frutos © arquivo pessoal

Horta Bons Frutos © arquivo pessoal

Horta Bons Frutos © arquivo pessoal

Criada em 2014 por moradoras do Jardim São Manoel, em Santos (SP), a Horta Bons Frutos envolve toda a comunidade local, com oficinas de educação ambiental, horta terapêutica e reaproveitamento de óleo. Para manter a horta florescendo em mais de uma década foi necessária “muita garra e força de vontade”, segundo afirma Vilma Barros, de 69 anos, uma das mulheres que criou o projeto e segue como voluntária até hoje.

Apoiada pelo Instituto Elos, a Horta Bons Frutos recebeu em junho deste ano o Prêmio de Agricultura Urbana, do governo federal, voltado para iniciativas de promoção da alimentação saudável e da segurança alimentar. “Receber esse prêmio foi muito valioso, esse reconhecimento mostra que ter uma horta comunitária agroecológica não é só plantar, há vários outros projetos envolvidos”, diz Vilma Barros.

“A Horta Bons Frutos nasce justamente como uma resposta coletiva às desigualdades alimentares e territoriais. Num bairro onde falta área verde qualificada e a oferta alimentar é marcada por produtos ultraprocessados, a horta se torna o espaço de aproximação com a terra e com esse direito de se alimentar bem”, explica a socióloga e mobilizadora comunitária Vitória Oliveira.