Cansadas de atravessar a ponte toda vez que queriam discutir seus direitos e demais questões feministas, um grupo de mulheres do município de Franco da Rocha (Grande São Paulo) resolveu criar, em 2014, seu próprio coletivo: a Baciada das Mulheres do Juquery, e encontraram no audiovisual a ferramenta perfeita para trazer suas vizinhas para o debate.
Para impulsionar ainda mais esta discussão, nesta sexta-feira (30), tem início a 3ª edição da Mostra de Cinema da Mulher de Franco da Rocha, com a exibição de nove produções de todo o Brasil. Os filmes trazem narrativas sobre os sonhos e dilemas das mulheres, assim como prostituição, violência, gênero, entre outros. No sábado, a mostra contará, ainda, com oficina audiovisual de guerrilha com a fotógrafa Fernanda Schenferd. Veja a programação completa abaixo. 

A mostra é resultado de um trabalho maior de mobilização do coletivo no município, que organiza esporadicamente rodas de conversa sobre temas ligados às mulheres periféricas.
Segundo Mariana Moura, integrante do coletivo e uma das organizadoras do evento, “ainda é difícil fazer com que as pessoas entendam que a mostra não é apenas entretenimento e que as discussões sobre as problemáticas das mulheres são de extrema importância para a cidade periférica que vivemos, que é uma cidade com alto índice de vulnerabilidade social e violência doméstica”, aponta.
Embora haja muitos desafios, o coletivo tem chegado a uma considerável diversidade de grupos da região. “Sempre nos preocupamos em fazer esse contato com mulheres que ainda não são do movimento. Vamos a igrejas evangélicas, participamos de discussões com mulheres que eram submetidas à violência doméstica por conta de doutrinas religiosas, por exemplo”, conta Mariana.

No último mês, por exemplo, uma mulher do município, Klélia Alves, foi vítima de feminicídio, sendo estrangulada pelo ex-marido. O Baciada das Mulheres pretende, inclusive, utilizar o espaço da mostra para trazer esses casos a público e criar espaços de diálogo mais efetivos entre a sociedade e o poder público.
Para o coletivo, debates e ações como o evento de cinema podem colaborar para ampliar a discussão em torno dos direitos das mulheres. “Recentemente, a vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, foi assassinada, foi uma grande perda, e aqui em Franco da Rocha, também neste mês dedicado às mulheres, tivemos uma vítima de feminicídio, Kléia Alves foi. São dores que nos apertam o peito. Mas, em resposta, tivemos milhares de pessoas nas capitais brasileiras marchando. Aqui, teremos um ato pela vida das mulheres também. Vamos transformar nossa raiva em munição para lutar, por elas e por tantas outras mulheres que morrem diariamente vítimas de violência doméstica, misoginia e tantos outros motivos que nos fazem continuar.
Confira abaixo a programação

Dia 30/03 | 18h
Em busca de Lélia – DOC (15 min) – Livre
Beatriz Vieirah – BA
(Re) Existência – Drama (7min33) – Livre
Beatriz da Silva– SP
Real Conquista – DOC (15 min) – Livre
Fabiana de Assis – GO
Dia 31/03 | 13h30
Oficina de captura audiovisual de guerrilha – Fernanda Schenferd
Público alvo: Mulheres acima de 16 anos
Sem limitação de número de participantes
Duração: 4 horas
É necessário equipamento para captação de vídeo – Celular ou câmera.
18h
Lua – Doc (8min16) – 14 anos
Rosa Miranda – RJ
Mercadoria – drama (15 min) – 14 anos
Carla Villa-Lobos – RJ
Silêncio – Doc (18 min) 12 anos
Bianca Rêgo – SP
Dia 01/04 | 18h
Crisálida – Doc (9min16) – 12 anos
Paola Santos – SP
Mortalha – Ficção (19 min) – 14 anos
Graziela Pacheco – SP
Menina seta – Drama (20 min) – Livre
Camila Tarifa – SP