Mesmo com provas de inocência, Luiz e Gustavo estão presos há um mês
Em entrevista ao Nós, tia relata o caso dos irmãos que estão presos há um mês, acusados de roubo de carros. A família reuniu imagens e conversas indicando que eles estavam em um bar no momento dos crimes.
Por Beatriz de Oliveira
01|04|2022
Alterado em 04|04|2022
Atualizado em 3 de abril de 2022 – Luiz e Gustavo tiveram suas prisões revogadas e foram soltos na sexta-feira à noite (1/4). A decisão foi emitida pela juíza Cecília Nair Prado Euzébio, da 1ª Vara Criminal de Diadema.
Em Diadema, na Grande São Paulo, os irmãos Luiz César Marques Junior e Gustavo Borges Marques saíram com o pai, Luiz César, para um bar próximo de casa para comemorar o aniversário de uma amiga. Era 1º de março, uma terça-feira, e o momento de lazer foi interrompido por uma abordagem policial.
As autoridades suspeitaram que os irmãos eram os responsáveis pelo roubo de dois carros na região e os prenderam. Mesmo com imagens de câmeras de segurança indicando que estavam no bar no momento dos crimes, os jovens não foram libertados. Hoje, 1º de abril, completa um mês de prisão.
“É uma situação muito triste, meninos pretos não podem sair na rua, não podem se divertir, não podem tomar uma cerveja”, lamenta Janaína Lima, considerada pela família como tia. No momento da abordagem policial, Luiz e Gustavo estavam próximos ao carro roubado.
“A cor da pele conta, porque se fossem dois meninos brancos, com certeza a polícia não ia levar”.
Luiz é o irmão mais velho, tem 24 anos, trabalha como entregador e tem um filho de 11. Gustavo tem 19 anos, é montador de móveis e tem um filho de um ano. “São meninos espetaculares, educados, de família e trabalhadores”, afirma Janaína.
Roubo de carros aconteceu no ABC Paulista
O primeiro roubo aconteceu às 18h40, em Diadema, era um Ford Ka prata. Sete minutos depois, a dupla de assaltantes rouba outro carro, um Voyage prata, em São Bernardo do Campo. Cada um sai dirigindo um veículo. Os episódios ocorreram a mais de 3 km do bar em que os irmãos estavam.
Em imagens de câmera de segurança, é possível ver o momento em que o Voyage estaciona próximo ao bar. No mesmo vídeo, Gustavo aparece sentado em frente ao estabelecimento, usando um boné branco, segundo Janaína.
Esse veículo tinha rastreador, o que levou a polícia até o local. Quando chegaram lá, os irmãos estavam próximos ao carro, haviam saído do bar para fumar. Ao ver que os filhos estavam sendo levados, Luiz César ficou em frente à viatura, mas foi informado que se continuasse ali também seria levado preso.
“Quando tudo aconteceu, o pai tinha esperança que os meninos fossem liberados”, conta Janaina. Não foi o que aconteceu. Luiz César se sente culpado por ter saído com os filhos, “ele ficou desesperado, não dorme direito e não come direito, chora a todo momento”.
O restante da família também está abalado. Os primos, por exemplo, foram chamados para a comemoração no dia que ocorreu a prisão, mas não foram. A tia relata que estão assustados: “já pensou se isso acontecesse com todo mundo?”.
Família reúne imagens e conversas para provar inocência de Luiz e Gustavo
Na tentativa de libertar Luiz e Gustavo, a família procurou provas de suas inocências. Numa delas, uma imagem de câmera de segurança mostra pai e filhos saindo de casa, a pé, para ir ao bar às 17h59. Mais de 30 minutos depois, às 18h36, chegam ao estabelecimento, conforme indica outro vídeo, da câmera do local. Nesse caso, o relógio das imagens mostra o horário de 19h36, mas está adiantado em uma hora.
Outra prova encontrada pela família é a troca de mensagens entre Gustavo e alguns amigos. Ele chama os amigos para irem até o bar, manda sua localização e também uma selfie com o irmão. As conversas acontecem em paralelo ao horário de ocorrência do roubo dos carros.
As vítimas dos roubos reconheceram os meninos como os assaltantes. No entanto, Janaína revela que nesse reconhecimento a polícia colocou apenas os irmãos e um homem gordo ao lado.
Apesar das imagens e conversas indicando que os meninos estavam no bar no momento que os crimes ocorreram, o pedido de habeas corpus feito para responderem em liberdade foi negado.
Janaína relata a aflição que a família vive com a investigação: “não estão conseguindo responder em liberdade, eles não têm antecedentes criminais, eles têm residência física, a gente não está entendendo”. Além disso, ela conta que o Ministério Público pediu perícia nas imagens das câmeras, por suspeita de adulteração.
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