‘Meio sei lá o que’: Aline Rodrigues lança seu primeiro livro infantil

Nem sempre conseguimos nomear nossos sentimentos, às vezes nos sentimos "Meio sei lá o que". É sobre isso que Aline Rodrigues conversa com as crianças em seu primeiro livro infantil.

Por Mayara Penina

06|04|2022

Alterado em 07|04|2022

Sabe aqueles dias ou até semanas em que não sabemos definir direito o que sentimos? “É meio, não sei, sei lá… É meio sei lá o que…”

O livro “Meio sei lá o que”, escrito por Aline Rodrigues, traz aquelas histórias que rendem uma boa conversa pós-leitura e desperta a observação dos adultos para as necessidades das crianças. É um convite para o acolhimento dos pequenos nos momentos de confusão de sentimentos que precisam ser respeitados e escutados, com os ouvidos e corações abertos. 

“Dialogar com o público infantil é algo que eu já faço há muitos anos, bem antes de ter a Helena, minha filha de seis anos. Gosto de saber o olhar das crianças sobre as coisas, de entender suas escolhas, seus sentimentos e de falarmos de diferentes assuntos sem nenhuma pretensão também”, compartilha Aline Rodrigues, jornalista e autora do livro. 

“Publicar este livro é poder contar para o maior número de pessoas um pouco do que aprendi com as crianças. Acredito muito que uma sociedade que sabe acolher as demandas das crianças e se desprende de ter as necessidades somente dos adultos atendidas, naturalmente é uma sociedade melhor para todo mundo”, finaliza Aline.

Aline Rodrigues é moradora do Campo Limpo, zona sul de São Paulo (SP). Aos 37 anos, é leitora assídua de literatura infantil, mãe, educadora popular e jornalista. É cofundadora da Periferia em Movimento, onde atua há 12 anos no jornalismo de quebrada. Elabora, coordena e realiza encontros de aprendizagem entre palestras, rodas de conversa e cursos nas temáticas de jornalismo, direitos humanos, culturas, identidades, narrativas e memórias periféricas. 

“Publicar este livro é poder contar para o maior número de pessoas um pouco do que aprendi com as crianças. Acredito muito que uma sociedade que sabe acolher as demandas das crianças e se desprende de ter as necessidades somente dos adultos atendidas, naturalmente é uma sociedade melhor para todo mundo”

Para cobrir os custos de produção e publicação do livro, a autora lançou uma campanha de financiamento colaborativo na plataforma Catarse e quem apoia também garante um exemplar do livro antecipado – 

O Nós, mulheres da periferia conversou com a autora sobre literatura infantil e os sentimentos das crianças.

Confira!

Nós, mulheres da periferia – Para você, qual é o papel e a força da literatura infantil não só para crianças, mas para todas as idades?

Aline Rodrigues – A literatura infantil traz a oportunidade de falar de diferentes temas de forma leve, lúdica e às vezes indireta, com mensagens subjetivas. E texto e ilustração se complementam em uma abordagem que envolve adultos e crianças, pelo menos, eu gosto mais de livros que conseguem dialogar com dois públicos. Por exemplo, o livro da Lupita Nyong’o “Sulwe”, trata de um assunto muito importante, mas também muito difícil que é o racismo, por meio do relato de dor da personagem. Mas a história é contada com a ajuda de ilustrações tão lindas, que envolvem e encantam a gente e faz a criança valorizar as diferentes formas de ser, e também o adulto repensar o quanto o seu racismo é descabido por mostrar a beleza que está em cada pessoa. Nem toda mensagem do livro infantil está de forma literal, racional e direta na história. O que dá espaço para cada pessoa imaginar e criar significados da história por meio de relações que faz com suas vivências. A história mexe de jeitos diferentes com crianças e adultos. É o caso também do meu livro “Meio sei lá o que”.  

Nós – Como famílias e educadores podem conversar sobre sentimentos com as crianças depois da leitura do livro?

Aline Rodrigues  – O livro permite uma conversa pós-leitura a partir do entendimento de que nem sempre conseguimos nomear nossos sentimentos. 

Ao ler “Meio sei lá o que” com as crianças, família e educadores podem ter como ponto de partida para a conversa perguntar para as crianças se elas já se sentiram assim. E se sim, perguntar se foi bom ou ruim, se isso acontece sempre e quais situações do dia a dia fazem elas se sentirem “Meio sei lá o que”. Mais do que, nós adultos, conseguirmos nomear os sentimentos das crianças em cada momento, acho mais importante a gente entender se podemos contribuir de alguma forma com uma escuta, um acolhimento, um abraço. Ou se apenas precisamos estar perto, respeitando o fato da criança não precisar ou não querer nenhuma ajuda direta nesses momentos. A criança pode só está aprendendo a lidar com uma confusão de sentimentos, vivenciando um autoconhecimento. 

Não é raiva nem calmaria… parece que a gente tá flutuando com um peso na
barriga… confuso? Também acho
é meio um nada… mas parece também que é tudo ao mesmo tempo.

trecho de Meio Sei lá o que

Nós – Como você lida aí na sua casa quando sua filha fica “Meio sei lá o que…”?

Aline Rodrigues – Gosto muito e aposto sempre no abraço. Acho que é uma forma de indicar que estou acolhendo seu momento, que estou disponível para escutar e para conversar. Se vejo que cabe, faço perguntas sobre como foi o dia na escola, se a última refeição que comeu em casa estava boa. Enfim, puxo assuntos gerais para ver se ela se sente à vontade para contar alguma coisa que não está conseguindo trazer. Fico observando e, às vezes, pergunto se precisa de alguma coisa. 

Aline Rodrigues  – Quais desafios você encontrou no caminho para a produção do livro?

Aline Rodrigues  – Acho que o maior desafio foi me achar capaz de publicar um livro infantil. Como jornalista, já produzi conteúdos multimídia para adultes lerem, assistirem, escutarem. Mas conteúdos pensados prioritariamente para crianças eu não tinha experiência de escrita e, por muitos anos, deixei a insegurança, a famosa síndrome da impostora, prevalecer. Em algum momento, me dei conta que  nunca tinha escrito para crianças e já tinha lido dezenas de livros infantis com minha filha. Acho que conseguir confiar que era possível foi o principal desafio. Agora, é garantir o valor mínimo para viabilizar a produção do livro que envolve remuneração da ilustração e da diagramação, registro do livro, impressão e acessibilidade em Libras e Audiodescrição. A ideia inclusive é lançarmos logo após a campanha do Catarse, que está funcionando como uma pré-venda, já prevendo todos esses custos mais recompensas e taxa da plataforma. Esse é o maior desafio atual. 


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