Foto mostra mulher com a mão em sinal de pare, contra a violência doméstica

Mais de 14 milhões de mulheres negras foram vítimas de violência doméstica em 2023

Mapa Nacional da Violência de Gênero, lançado em 26 de agosto, reúne pela primeira vez informações de diferentes áreas sobre violência contra a mulher

Por Amanda Stabile

15|09|2025

Alterado em 15|09|2025

Mais da metade das mulheres brasileiras que sofrem violência não procura a polícia: em 2023, 61% das vítimas não registraram ocorrência, o que representa mais de 3,4 milhões de mulheres. Os dados fazem parte do Mapa Nacional da Violência de Gênero, lançado em 26 de agosto, que reúne pela primeira vez informações de diferentes áreas sobre violência contra a mulher.

A subnotificação varia conforme a região do país. No Centro-Oeste, 65% das mulheres não denunciaram os episódios de violência doméstica, seguido por 63% no Sudeste, 62% no Nordeste, 58% no Sul e 57% no Norte, segundo a Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher de 2023.

O Mapa mostra ainda que 48% das brasileiras já sofreram violência doméstica, incluindo as que não reconheciam a situação como agressão. No total, são 25,4 milhões de mulheres que declararam já ter sido vítimas de violência doméstica ou familiar — cerca de 30% da população feminina do país. Dessas, cerca de 14 milhões eram pretas ou pardas, 10 milhões brancas e 1 milhão amarelas ou indígenas.

Esses números representam um aumento de 9,44% em relação à 2021, quando 23.262.439 mulheres declararam já terem sofrido violência doméstica e familiar.

Os dados também revelam o perfil das agressões: em 52% dos casos o agressor é o marido ou companheiro, seguido por 15% de ex-parceiros. A violência começa cedo: 35% das mulheres sofreram a primeira agressão antes dos 19 anos e 31% entre 20 e 29 anos. Quando vitimadas, 60% procuraram ajuda da família e 45% buscaram apoio na igreja.

A plataforma interativa organiza informações de cinco eixos:

Índice de Subnotificação Policial (as vítimas que não registram ocorrência);

Registros no exterior, com notificações de brasileiras em consulados;

Registros policiais, a partir do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp);

Registros da saúde, incluindo mortes violentas e notificações compulsórias ao Sistema Único de Saúde (SUS);

Registros da Justiça, como medidas protetivas e processos judiciais.

Somados, esses dados mostram a dimensão do problema: até março de 2025, 1.962 feminicídios foram registrados no Brasil; em 2022, 202.608 mulheres sofreram algum tipo de violência notificada ao SUS; e em 2023, mais de 529 mil medidas protetivas de urgência foram solicitadas ao Judiciário.

Fruto da parceria entre o Senado Federal, o Instituto Natura e a organização Gênero e Número, o Mapa reúne informações do Ministério da Justiça (Sinesp), Ministério da Saúde (DataSUS), Conselho Nacional de Justiça (DataJud) e da Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher (DataSenado/OMV).

Além de permitir consultas sobre diferentes aspectos da violência de gênero que impactam a vida cotidiana das mulheres, a iniciativa pretende auxiliar legisladores e gestores públicos na formulação de políticas mais eficazes. Segundo os idealizadores, o projeto é “um legado permanente para o Estado brasileiro” e representa a união de esforços entre governo, sociedade civil e imprensa no enfrentamento à violência que atinge milhares de mulheres e meninas no país.