Maior exposição de artistas visuais negros é inaugurada em São Paulo
Com obras de 240 artistas negros, exposição “Dos Brasis: arte e pensamento negro” irá circular por todo país
Por Beatriz de Oliveira
04|08|2023
Alterado em 04|08|2023
Contrariando o protocolo, o curador Igor Simões chamou todos os artistas presentes e participantes da exposição, que era inaugurada na noite de 2 de julho, para subirem ao palco. Dezenas de pessoas negras, sorridentes e emocionadas, formaram uma imagem potente no centro do local. Era um momento marcante, afinal, iniciava ali a mais abrangente mostra de artes visuais de artistas negros brasileiros: “Dos Brasis: arte e pensamento negro”.
Com obras de 240 artistas negros produzidas entre o XVIII e XXI, há pinturas, fotografias, esculturas, instalações e videoinstalações. A visitação está disponível no Sesc Belenzinho, zona leste de São Paulo (SP), e tem a entrada gratuita. A partir de 2024, parte das artes circulará por espaços do Sesc em todo o país. Essa itinerância se prolongará pelos próximos 10 anos.
Para encontrar os artistas selecionados para a exposição, os curadores Igor Simões, Marcelo Campos e Lorraine Mendes realizaram viagens por todas as regiões do Brasil. A equipe pesquisou ainda obras e documentos em ateliês, portfólios, coleções públicas e particulares.
O projeto não tem a pretensão de ser um mapeamento definitivo, à medida que os curadores afirmam que, para cada artista selecionado, há ao menos outros 100 que também poderiam estar presentes.
“É um momento de alegria e celebração, apesar de um projeto de Brasil que tenta nos apagar. As instituições têm uma dívida impagável com a população negra brasileira. Momentos como esse são momentos de respiro”, afirma a curadora Lorraine Mendes, que ainda dimensiona as emoções de fazer parte dessa iniciativa histórica.
Segundo a curadora, visitar a mostra Dos Brasis é uma oportunidade de ver “uma constelação de artistas, alguns dos quais nunca participaram de uma exposição. Então, tem uma dimensão também de se reconhecer nas obras”.
Curadora Lorraine Mendes fala na abertura da exposição
©Beatriz de Oliveira
A artista visual Rosana Paulino corrobora com essa visão. “Vir para a exposição é ver o Brasil na realidade, poucas vezes a gente viu o país dessa maneira. O universo das artes visuais tem sido muito resistente à presença de outros atores. Então, exposições como essa, com ênfase em arte negra, revelam um Brasil que não é costumeiramente mostrado”.
Presenciar tantos artistas negros reunidos e com suas obras expostas em um amplo projeto faz Rosana se emocionar: “Tenho 30 anos de carreira e achei que não veria uma cena como essa”, pontua.
A exposição é dividida em sete núcleos: Romper, Branco Tema, Negro Vida, Amefricanas, Organização Já, Legitima Defesa e Baobá. Cada um deles com referência a pensamentos de intelectuais negros da história do Brasil: Beatriz Nascimento, Emanoel Araújo, Guerreiro Ramos, Lélia Gonzales e Luiz Gama.
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Garantir que as memórias registradas em forma de arte na exposição sejam vistas no futuro é, para a artista visual e ilustradora Aline Bispo, a maior responsabilidade de fazer parte do projeto.
“Existe a trajetória de várias pessoas que vieram antes, que araram a terra pra gente poder construir o que estamos conseguindo hoje”, diz. E continua: “ver meu trabalho na exposição é muito especial, porque, em alguns momentos, pensei que as minhas produções não pudessem alcançar certos espaços”. E alcançou.
Aline Bispo ao lado de sua obra na exposição Dos Brasis
©Mariana Oliveira
Serviço
Exposição: Dos Brasis: arte e pensamento negro
Local: Sesc Belenzinho (R. Padre Adelino, 1000 – Belenzinho)
Horário de funcionamento: Terça a sábado, das 10h às 21h. Domingos e feriados, das 10h às 18h
Entrada gratuita
Período expositivo: 3 de agosto de 2023 a 28 de janeiro de 2024