Levantamento identifica 241 organizações de mulheres indígenas no Brasil
Mapeamento realizado pela Anmiga e ISA destaca a importância do associativismo de mulheres indígenas
Por Beatriz de Oliveira
10|12|2024
Alterado em 10|12|2024
Você sabia que existem 241 organizações de mulheres indígenas em todo o país, reunidas em torno de pautas como saúde, educação, combate à violência contra mulher e defesa do território? É o que aponta o Mapa das Organizações das Mulheres Indígenas no Brasil 2024, realizado pela Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) e Instituto Socioambiental (ISA).
Lançado no dia 29 de novembro, ele destaca a importância do associativismo de mulheres indígenas. “Essa iniciativa dá visibilidade para as mulheres e suas mobilizações, mostra que elas sempre estiveram organizadas para lutar por seus territórios e seus corpos. Precisamos valorizar a luta dessas mulheres. Se não fossem as que nos antecederam, nós não estaríamos aqui hoje, ocupando cargos de poder, cargos no governo, tendo direitos conquistados”, pontua Lucimara Patté, co-fundadora da Anmiga e liderança do povo Xokleng.
O mapa é uma atualização da edição feita em 2020, quando 92 organizações foram identificadas. Quatro anos depois, vemos um aumento expressivo de coletivos mapeados. “Nosso trabalho agora é continuar esse mapeamento e continuar apoiando essas mulheres”, afirma Lucimara Patté.
Luma Prado, pesquisadora responsável pelo mapeamento no ISA, explica que a pesquisa envolveu a criação de formulários direcionados às lideranças indígenas e checagem dos dados, incluindo os critérios de que apenas as organizações na ativa e formadas exclusivamente por mulheres indígenas seriam incluídas.
“Colocar as organizações das mulheres indígenas no mapa do Brasil, junto às terras indígenas, é importante porque mostra a um público maior a existência do associativismo de mulheres indígenas, demonstrando as várias formas como as mulheres indígenas estão se organizando na atualidade”, pontua Luma Prado.
Foram identificadas 174 organizações locais, 48 regionais, 14 estaduais, e 5 nacionais,atuantes em temas como: saúde e educação diferenciadas e de qualidade, enfrentamento às violências contra as mulheres e em seus territórios, valorização da alimentação tradicional e de seus modos de vida.
Para Luma, esses dados demonstram como “o movimento das mulheres indígenas é multifacetado e como elas respondem de forma diferente aos desafios que enfrentam nos territórios”. A pesquisadora destaca ainda que o mapeamento pode facilitar articulações entre diferentes organizações e servir de base para criação de políticas públicas.
Além dos dados, a pesquisa também conta com textos que explicam como mulheres indígenas se movimentam e o que as leva a se organizarem. “Em 2017, Sonia Guajajara ecoou pela primeira vez a mensagem: ‘A luta pela mãe terra é a mãe de todas as lutas’. Desde então, ela se tornou um lema na organização das indígenas mulheres no Brasil, que se mobilizam em torno de inúmeras outras pautas comuns”, diz um trecho.
Há ainda uma linha do tempo sobre o movimento de mulheres indígenas, que informa marcos como: a criação da primeira organização indígena de mulheres, a Amarn, no ano de 1984; a eleição da primeira mulher indígena prefeita, Iracy Potiguara, em Baía da Traição (PB), no ano de 1992; e a realização da 1ª Marcha das Mulheres Indígenas em 2019.
“O mapa consegue demonstrar a potência do movimento de mulheres indígenas que se renova e se transforma muito rapidamente”, pontua Luma, e continua: “as mulheres indígenas sempre estiveram em luta”.