foto em preto e branco de mulher negra

Laudelina de Campos Melo, a mulher que fundou a primeira entidade de trabalhadoras domésticas 

Negra e neta de escravizados, Laudelina de Campos Melo se tornou referência na luta pelas trabalhadoras domésticas e pelos direitos da população negra

Por Beatriz de Oliveira

11|10|2024

Alterado em 11|10|2024

Em 12 de outubro de 1904, no município de Poços de Caldas (MG), nascia Laudelina de Campos Melo. A mulher negra e neta de escravizados se tornou referência da luta pelas trabalhadoras domésticas e pelos direitos da população negra.

O ativismo de Laudelina começou cedo. Aos 16 anos, quando já atuava como trabalhadora doméstica, foi eleita presidenta do Clube 13 de Maio, organização que promovia atividades recreativas para a população negra na cidade de Poços de Caldas.

Aos 18 anos de idade se mudou para São Paulo (SP), ainda como trabalhadora doméstica. Foi lá também que se filiou ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e militou pela Frente Negra Brasileira (FNB).

Em Santos (SP), em 1936, foi uma das fundadoras da Associação das Empregadas Domésticas, a primeira entidade em defesa das trabalhadoras domésticas do Brasil. Já em 1961, participou da fundação da Associação dos Empregados Domésticos de Campinas.

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1946), a ativista chegou a se alistar para trabalhar como auxiliar de guerra no país.

Em 1953, passou a integrar a diretoria do Clube Cultural Recreativo, em Campinas, e organizou atividades de lazer para a comunidade negra, como bailes e o concurso de beleza Pérola Negra. Também fundou, em 1955, a Escola de Bailados Santa Efigênia para Negros. 

foto em preto e branco de mulheres negras

Laudelina de Campos Melo no Baile Pérola Negra.

©Sindtid – Acervo Fundo Brasil

As organizações que Laudelina participava e as que ajudou a fundar sofreram perseguições em dois períodos: durante a ditadura varguista, iniciada em 1946, e na ditadura militar, a partir de 1964. Entre 46 e 65, a associação dos trabalhadores domésticos precisou se abrigar no partido União Democrática Nacional (UDN), que tinha como principal liderança o jornalista e político Carlos Lacerda.

Com o fim da UDN, a associação de Campinas parou suas atividades e só retomou em 1983, e após a Constituição de 1988 se consolidou como sindicato, que segue em atividade até hoje: o Sindtid, cuja sede é a casa em que Laudelina viveu.

Laudelina faleceu em 1991, aos 86 anos de idade. Sua trajetória de luta reverbera até hoje, servindo como inspiração para trabalhadoras domésticas e para a população negra que luta por igualdade de direitos.

Em julho de 2023, Laudelina de Campos Melo teve seu nome inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. O Projeto de Lei com a homenagem foi apresentado pela bancada feminina e resultou na Lei nº 14.635, sancionada pelo presidente Lula.