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Jovem desenvolve absorvente ecológico para combater pobreza menstrual

Camily dos Santos conseguiu uma bolsa de estudos na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, após desenvolver absorventes sustentáveis a partir de subprodutos industriais.

Por Mariana Oliveira

04|01|2024

Alterado em 18|01|2024

Decidida a adotar uma abordagem mais sustentável em relação à menstruação, a jovem Camily dos Santos começou a pesquisar absorventes ecológicos. “Conversando com minha mãe, descobri que, quando jovem, ela não tinha acesso a absorventes. Nesse momento, comecei a refletir sobre o que eu, uma estudante do ensino médio, poderia fazer para resolver esse problema”, lembra. Aos 19 anos, desenvolveu um absorvente ecológico de baixo custo, visando proporcionar dignidade menstrual às mulheres.

Dados do relatório “Pobreza Menstrual no Brasil”, produzido pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) em 2021, mostram que mais de 4 milhões de pessoas que menstruam não têm acesso a itens mínimos de cuidados menstruais nas escolas. 

Bolsista do ensino médio no Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFF), com o apoio de uma professora da instituição, a pesquisa da jovem teve início durante o período da pandemia de Covid-19, em 2020. Camily encontrou uma parceira, a colega Laura Nedel Drebes, e o trio improvisou um laboratório de pesquisa para desenvolver o SustainPads.

A ideia do projeto consistia em substituir o algodão dos absorventes descartáveis por uma fibra orgânica menos poluente e de baixo custo. Para financiamento, Camily contou com uma ajuda de custo de R$200 oferecida em editais de pesquisa da escola e subprodutos descartados por indústrias e agricultores locais. “Substituímos o algodão pelo pseudocaule da bananeira, o tronco da bananeira. O agricultor colhe as bananas e o tronco que sobra não produz mais; isso gera muito acúmulo de resíduo nas plantações. O plástico biodegradável foi feito a partir dos resíduos farmacêuticos de uma indústria de Porto Alegre. Eles precisavam pagar para descartar, então nos ofereceram com muita facilidade”, conta. Com os resultados, a estudante calculou que cada absorvente produzido custa apenas dois centavos e degrada 50% em 14 dias.

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A estudante Camily dos Santos desenvouveu o SustainPads para combater a pobreza menstrual. © Arquivo pessoal

Camily dos Santos, à direita, orientadora Flávia Twardowski ao centro e a colega Laura Nedel, à esquerda. © Arquivo pessoal

Protótipo do SustainPads © Arquivo pessoal

Pseudocaule da bananeira, a matéria prima utilizada nos absorventes ecológicos. © Arquivo pessoal

Camily inscreveu o projeto em feiras de ciências regionais e nacionais. Em 2022, a dupla participou do Prêmio Jovem da Água de Estocolmo, na Suécia, uma iniciativa promovida pelo Instituto Internacional de Água de Estocolmo. Na premiação, cinco projetos concorrem na etapa nacional, na cidade do Rio de Janeiro, e o vencedor representa o Brasil em Estocolmo na disputa mundial entre os países.

Eu não tinha muita esperança, porque o SustainPads prioriza o foco social. Apesar disso, conseguimos calcular que nosso absorvente gasta 99% menos água do que o comum

Na Suécia, o projeto venceu na categoria Excelência de Pesquisa. “São três prêmios, dois por votação popular e o prêmio de excelência de pesquisa. Nem acreditamos quando disseram que o projeto premiado se tratava de diferentes áreas da sociedade e da dignidade humana e, finalmente, anunciaram o Brasil”, relembra emocionada.

No Brasil, o projeto também recebeu outras certificações, como o “Cientistas do Ano” da revista Glamour, em 2022. “Foi importante para não restringir o estudo apenas às feiras de ciência”. Após toda essa vivência, conseguiu uma bolsa na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, para cursar o ensino superior. “Eu venho de uma família humilde; meus pais não conseguiram terminar o ensino fundamental. Sem a bolsa, jamais poderia ter acesso à universidade”, conta Camily.

Embora geograficamente distante, a jovem pesquisadora está no processo de patentear o SustainPads e busca empresas para a produção em larga escala do absorvente, para que seu objetivo inicial de garantir dignidade menstrual para meninas e mulheres seja cumprido.