Jornada das Pretas 2024: o aquilombamento de mulheres na política
Mulheres negras cis e trans de todo o país debatem a inserção da raça e gênero no futuro político do Brasil
15|07|2024
- Alterado em 17|07|2024
Por Karoline Miranda
Entre os dias 2 e 5 de julho, eu parti com as minhas malas do Rio de Janeiro (RJ) rumo à Brasília para um compromisso inadiável em muitos sentidos: a 4ª Jornada das Pretas, um evento dedicado a pautar e debater o futuro político do país nas eleições e além delas. Ao chegar no aeroporto, mal podia acreditar que estava ali por um motivo tão importante!
A Jornada das Pretas, organizada desde 2021 pelo Instituto Marielle Franco, Instituto Alziras, Mulheres Negras Decidem e Oxfam Brasil tem como objetivo fomentar discussões sobre mulheres negras na política e fortalecer essas candidaturas em todos os estados do país. O evento reuniu 40 minas pretas, com vivências, sotaques e experiências diversas, para discutir política de maneira efetiva – combatendo as candidaturas femininas “laranjas” – e promovendo ideais como políticas públicas de gênero e raça e direitos LGBTQIAPN+. Imagina que loucura?
Apesar de Brasília ser uma cidade reconhecida pelo planejamento urbano, nos hospedamos na zona rural da cidade, em um local super aconchegante e que facilitava as trocas em as participantes. No primeiro dia, tivemos uma roda de conversa com mulheres pretas já eleitas, como a deputada estadual de Pernambuco, Dani Portela, e Elenizia da Mata, a primeira vereadora negra do município de Goiás (GO), além de Estela Bezerra, pré-candidata à vereadora em João Pessoa (PB). Elas contaram suas experiências nos processos eleitorais pelos quais passaram e os principais desafios de permanência nos espaços de poder.
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Debatemos amplamente a violência política de gênero e raça no Brasil, como o caso Marielle Franco, como um marco evidenciando muitas das violências sofridas por mulheres negras na política. Discutimos dados coletados sobre o assunto, estratégias de autodefesa e instrumentos a serem acionados em caso de ameaça. Também abordamos o financiamento de campanhas e de candidaturas..
No segundo dia, focamos na comunicação política das mulheres negras. A jornalista Alicia Klein conduziu media training incrível não só sobre as comunicações tradicionais da política, como propaganda eleitoral e vídeos, além de abordar o impacto do machismo na autoconfiança das pretas ao se expressar em público.
A gente também fez mini oficinas que nos estimularam a colocar em prática o que foi debatido. Grupos se dividiram a fim de treinar como elaborar uma campanha, como falar sobre si mesma e sobre as candidaturas que defendemos.
No fim do evento, todas nós participamos da construção da Carta Preta, um documento que pontua as nossas prioridades, o que queremos e o que precisamos para um futuro melhor e mais seguro que garanta a participação de mulheres negras nos espaços de poder no Brasil. Para mim, essa é sempre a parte que é mais emocionante. É onde percebemos que não importa de onde viemos, do Acre ao Rio Grande do Sul, há sentimentos que nos atravessam e nos conectam.
Saí da Jornada das Pretas com o coração cheio de esperança em um futuro melhor para nós na política. Um futuro onde não seremos interrompidas, silenciadas, violentadas ou até mesmo mortas. As sementes de Marielle florescem e ainda bem que posso ver a chegada da primavera.
Karoline Miranda Jornalista e historiadora, é mãe do Gael e da Pilar de Maria e autora responsável pelo Uma Mãe Feminista.
Os artigos publicados pelas colunistas são de responsabilidade exclusiva das autoras e não representam necessariamente as ideias ou opiniões do Nós, mulheres da periferia.
Larissa Larc é jornalista e autora dos livros "Tálamo" e "Vem Cá: Vamos Conversar Sobre a Saúde Sexual de Lésbicas e Bissexuais". Colaborou com reportagens para Yahoo, Nova Escola, Agência Mural de Jornalismo das Periferias e Ponte Jornalismo.
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