Irmãs provam que a cultura nerd também é assunto de mulheres 60+
Fãs de cultura pop, as irmãs Genilda e Genilza, criadoras do canal “Dona Geek” , já acumulam mais de 80 mil seguidores no Tik Tok.
Por Mariana Oliveira
26|07|2023
Alterado em 26|07|2023
A cultura nerd costuma ser associada aos jovens e, principalmente, aos homens brancos. Entretanto, as irmãs Genilda e Genilza mostram o contrário. Fãs do universo geek desde a juventude, com muito humor e carisma, as irmãs criaram o canal Dona Geek, um espaço para falar das séries, filmes e animes.
As “Donas Gês”, como são conhecidas, sempre gostaram de opinar sobre o que assistiam nas telonas ou telinhas. As conversas aconteciam entre elas, e as irmãs nunca tiveram a intenção de criar conteúdo para internet.
Porém, durante a pandemia, após muita insistência de Janaína, filha de dona Genilda, decidiram estrear o canal no Youtube. “Enrolamos por um ano para ver se ela esquecia. Achávamos que pagaríamos mico nas redes sociais. Mas um dia ela chegou com o celular e falou: “Vamos gravar!”, lembra Genilza.
As irmãs revelam que toda essa paixão se iniciou na literatura. São devoradoras de livros e histórias em quadrinhos. “Eu gostava das Hqs do Batman, Super-Homem, Flash e outros. Assistia séries pela TV e não sabia porque elas sumiam às vezes. Agora entendo que, se estiverem muito ruins, podem ser canceladas”, conta Genilda.
Mais velha, Genilda casou e foi mãe cedo. Então, se viu com responsabilidades que ocupavam mais espaço na agenda, tarefas mais importantes do que parar e assistir um bom filme. Diferente da mais nova, solteira na época. Genilza ia para as salas de cinema e teatro no centro da cidade de São Paulo assim que saía do trabalho.
Outro dia falei pro meu marido que eu ‘matava’ aula para ir ao cinema. Ele achou um absurdo (risos)
Genilza
Dividir a paixão ficou ainda mais fácil quando, anos mais tarde, as irmãs foram morar em Mauá, região metropolitana de São Paulo, onde são vizinhas e dividem o mesmo quintal há mais de 40 anos.
Aposentadas, as Donas Gês têm “o privilégio” de “passar o tempo” fazendo o que mais gostam. E o melhor: juntinhas. “Não é fácil ser preto, pobre e periférico nesse país. A sobrevivência não é fácil, mas nos sentimos privilegiadas. Somos mulheres com mais de 60 anos e aposentadas, podemos fazer várias coisas que gostamos”, reforçam.
“Geeks também envelhecem”
As duas têm gostos completamente diferentes. Não necessariamente o que uma assiste, a outra já acompanhou. E isso é ótimo para o público, que é munido de diversas opções e estilos. “A Genilda gosta de anime, monstros e zumbis, nada disso me chama atenção. Mas algumas vezes ela indica uma série que me desperta curiosidade e eu assisto”, explica Genilza.
Já dona Genilda prefere maratonar suas séries e manter um “ritual” para acompanhá-las, sempre em horários parecidos. Genilza assiste quando tem vontade, sem se prender, alternando com sua rotina. Essas diferenças também fazem com que elas não assistam quase nada juntas em casa.
O presente e o futuro
Mesmo com a relutância inicial em criar o canal, que completa quatro anos no próximo dia 26 de junho, Donas Gês já acumulam mais de 80 mil seguidores no Tiktok, 18 mil na página do Instagram e quase 10 mil inscritos no canal do Youtube.
Tudo isso é motivo de orgulho para as irmãs, mesmo sem remuneração por todo esse trabalho. Genilza explica que o canal deu a elas a oportunidade de mostrar para as pessoas que todos podem envelhecer sem precisar abandonar o que gostam em virtude da idade.
Contam que o canal não sofre com haters (pessoas que as odeiem). Porém, infelizmente, os colegas da mesma idade não consomem seu conteúdo. Embora gostariam de tê-los na página, não se frustram.
“Raramente vemos pessoas da nossa idade nos eventos. São os jovens que nos seguem, comentam e dão ideias”, confessa Genilda, que completa dizendo que a troca com o público é parte importante desse trabalho.
E para concluir, deixam um recado: “Não ganhamos dinheiro como as pessoas imaginam, mas o canal nos proporciona encontros, participações em eventos, lives e entrevistas. Mas, se entrar um dinheirinho, a gente vai ficar contente, né?”.