Guerra aos pobres: 19 mortos no Alemão e mais de 24h de terror

Segundo informações do jornal comunitário Voz das Comunidades, mais uma moradora foi baleada na manhã desta sexta-feira, dia 22 de julho

Por Redação

21|07|2022

Alterado em 22|07|2022

 A partir das 5h30 da manhã da última quinta-feira, 21 de julho, uma operação do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), da Polícia Militar, e da Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais (CORE), da Polícia Civil, durou mais de 12h e deixou 18 pessoas mortas no Complexo do Alemão, também na zona norte.

Entretanto, os relatos de tiros e violência não acabou. Segundo informações  Voz das Comunidades, jornal comunitário da região, outra moradora foi baleada na manhã desta sexta-feira, dia 22 de julho. Moradores confirmaram a morte e alegam que policiais atiraram e não a socorreram.

Segundo Raull Santiago, ativista e morador do Complexo do Alemão, Solange é muito conhecida na favela, professora formada e tinha um empreendimento de quentinhas. Ele publicou o relato de familiares, sem expô-los e com a preservação dos nomes. A fonte disse:


“Ela estava descendo as escadas, tinha acabado de voltar dali debaixo para terminar a comida, porque ela trabalha com refeição. Ela passou e quando chegou na esquina começaram os tiros. Quando olhei de novo ela estava caída. Eles puxaram a madeira pra enfiar debaixo dela e tentar tirar ela. Tamparam o rosto dela com uma roupa deles mesmo pra ninguém saber quem é. Em seguida, tacaram no carro e desceram varado. E um dos policiais gritou: ‘é morador'”. 

Também na manhã de sexta, a Defensoria Pública do Estado e organizações em defesa dos direitos humanos foram até o Complexo para ouvir moradores e investigar os acontecimentos das últimas horas de terror.

Uma das vítimas de quinta-feira  foi Letícia Marinho do Sales, 50 anos. Ela estava no carro quando o veículo foi alvejado por policiais. De acordo com a apuração do Voz das Comunidades, ela não era moradora do Alemão, mas sim do Recreio dos Bandeirantes, um bairro da zona oeste da cidade. Ela estava acompanhando seu namorado e acabou sendo assassinada. 

Ainda segundo a cobertura especializada dos jornalistas que conhecem a favela e ouvem quem foi diretamente impactado pela violência, a operação do dia 21 de julho começou às 05h30 e, no dia 22 de julho, por volta das 9h30. 

“O beco aqui na frente de casa está cheio de sangue e os moradores gritando que tem gente baleada”, disse um morador na tarde de quinta. Há ainda relatos de pessoas que estão com medo de sair de casa, pois sentem-se ameaçadas simplesmente por serem residentes da favela.

Além disso, vídeos registram o momento em que moradores e moradores se uniram para retirar corpos das ruas e direcionar para equipamentos de saúde da região. As imagens publicadas pelo veículo no Twitter mostram vizinhas e familiares carregando os corpos para carros, caminhonetes e até mesmo a pé, envoltos em lençóis e mantas.

Genocídio em curso

Em um ano de gestão de Cláudio Castro (PL), atual governador no estado do Rio de Janeiro, tendo assumido o cargo após o impeachment do ex-juiz Wilson Witzel (PSC), foram registradas 31 chacinas e 165 mortes durante operações policiais. Os dados são da plataforma Fogo Cruzado e do Geni/UFF (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense).

Ainda no mandato de Witzel, houve recorde no número de mortes em chacinas, foram 63 chacinas e 234 mortes. E até 2020, 681 mulheres foram baleadas no Rio.